O Brasil atravessa a crise sanitária do Covid-19 sem qualquer planejamento do governo. O presidente Jair Bolsonaro, além de ser omisso e descuidado quanto às necessidades básicas do população, agora ameaça ampliar a desigualdade social. Em sua live semanal nas redes sociais, Bolsonaro admitiu ontem uma quarta parcela do auxílio-emergencial, retomando a ideia original de reduzir para R$ 200 o seguro-quarentena – hoje em R$ 600, graças à ação das oposições no Congresso Nacional.
“Nós já estudamos uma parcela com o Paulo Guedes [ministro da Economia]. Está definindo o valor, para ter uma transição gradativa e que a gente espera que a economia volte a funcionar”, afirmou Bolsonaro. Guedes admite a extensão do auxílio emergencial por mais um mês, mas tem apontado que não será possível pagar mais do que R$ 200. O dinheiro é insuficiente para garantir uma renda básica para atender às necessidades mínimas da imensa maioria da população.
A deputada Gleisi Hoffmann, presidente nacional da legenda, apresentou junto com o líder do partido na Câmara, Enio Verri (PR), e toda a bancada parlamentar, o Projeto de Lei 2283/20, que aumenta para um ano o período de concessão do auxílio emergencial de R$ 600 para trabalhadores informais. Tudo para evitar um flagelo social diante do aumento da desigualdade social.
O PT está preocupado com a piora do quadro social no país, diante do agravamento da crise econômica, que já vinha cambaleando desde a queda da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016, quando o Congresso aprovou um impeachment fraudulento, sem provas de que ela tenha cometido crime de responsabilidade.
“Com 4,9 milhões de postos de trabalho cortados nessa crise, em especial os informais, e o PIB caindo 1,5%, a situação está piorando. A tragédia esta anunciada para o Brasil, enquanto Bolsonaro só pensa em dar um golpe de Estado e na defesa da sua família e da milícia digital que ataca adversários e espalha fake news. Ele não quer dar nada para o povo”, denuncia Gleisi. A estimativa de economistas é de que a economia brasileira caia este ano 10%, o maior retrocesso da história do país.
Nesta sexta-feira, 29, o Datafolha revela que 2 em cada 3 brasileiros está pessimista em relação à crise sanitária e temem os efeitos devastadores sobre emprego e renda. A percepção de que a crise causada pelo coronavírus terá efeitos negativos duradouros sobre a economia do país disparou este mês. Levantamento feito entre 25 e 26 de maio revela que 68% dos 2.069 entrevistados pelo telefone acreditam que a pandemia afetará a atividade produtiva por muito tempo. O temor é de que a situação vá piorar.
Abandonados e sem dinheiro
De acordo com levantamento da Central Única das Favelas, a situação é mais grave nas comunidades e nas periferias das grandes cidades, que estão abandonados. Quatro em cada dez pessoas que vivem nas comunidades carentes brasileiras não receberam o auxílio-emergencial de R$ 600, aprovado pelo Congresso, e que o governo libera a conta-gotas. “A situação é alarmante nas favelas”, alerta Celso Athayde, fundador e coordenador da Cufa.
“A grande dúvida que tenho agora é se apenas postergamos o caos que vai acontecer no setor de saúde ou se isso foi realmente evitado”, aponta. “Estamos vendo hospitais superlotados e as pessoas começando a morrer dentro de casa, já que não há mais leitos suficientes. E não digo nas favelas, mas de forma geral”. Segundo a Cufa, 37% das pessoas que moram nas comunidades carentes brasileiras que pediram a ajuda de R$ 600 do governo não receberam nada. O fim do auxílio-emergencial está previsto para o mês que vem.
Desde 9 de abril, foram liberados pelo governo R$ 23,5 bilhões para 33,2 milhões de pessoas, segundo dados divulgados pela Caixa Econômica Federal. E 45,9 milhões de pessoas se cadastraram para ter acesso ao benefício emergencial. Cerca de 12 milhões ainda aguardam uma resposta do governo. Para ampliar a angústia de abandono pelo governo, Gleisi adverte que a previsão do aumento da desigualdade social está sendo estimada por organizações ligadas às Nações Unidas.
O UNICEF e a ONG Save the Children alertam sobre o aumento do risco de empobrecimento das crianças no mundo por conta da pandemia. Segundo as duas organizações, mais de 16 milhões de crianças cairão na pobreza até o final de 2020 na América Latina e no Caribe se os governos não fizerem nada para aliviar a grave crise econômica causada pela pandemia de Covid-19.
“O governo Bolsonaro não tem resposta para a construção de uma política que minimize os impactos negativos da crise para o povo”, denuncia a parlamentar. “O governo é omisso e essa conduta criminosa é o que nos levou a apresentar o pedido de impeachment de Bolsonaro, junto com 400 organizações da sociedade civil”, lembra a deputada.