Com o incentivo de Bolsonaro, que estimula o uso de armas e a propagação de fake news, o Brasil corre o risco de caminhar para a violência institucionalizada como nos Estados Unidos.
No Brasil, copiando ação registrada nos Estados Unidos, uma nova onda de fake news com ameaças de massacres tem deixado pais, professores e alunos em alerta em todos as regiões do país.
Recentemente, uma sequência de ataques armados a escolas ocorreu nos Estados Unidos, com assassinato de crianças, culminando com um tiroteio em local público neste final de semana, na Filadélfia.
Segundo relatório do FBI, em 2021 houve um aumento de 52,5% de atentados em ambientes educacionais, em relação ao ano anterior. Na semana passada, o presidente Joe Biden apelou ao Congresso por mudança na legislação sobre uso de armas.
O efeito Bolsonaro
Diversos casos de atos violentos no Brasil com brigas entre alunos e agressões a professores, desde o retorno das aulas presenciais que ficaram suspensas por conta da pandemia da Covid-19, foram divulgados pela imprensa.
Agora, a nova onda de violência nas escolas brasileiras segue o modelo americano, onde estudantes picham em algum local da escola a mensagem “Massacre dia X”. A maioria tira foto, apaga a frase e depois publica nas redes sociais ou distribui em grupos de WhatsApp, em um perfil anônimo.
As fake news a respeito de massacres em escolas surgiu nos Estados Unidos, em dezembro de 2021, quando grupos passaram a divulgar essas mensagens pelo aplicativo TikTok.
Lá, são comuns esses atos de violência e o mais recente aconteceu em uma escola em Uvalde, no Texas, quando um jovem de 18 anos matou a tiros ao menos 19 crianças e 2 adultos.
Um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) aponta que no EUA, em 2018, foram contabilizadas 30 ações com intenção de matar em áreas populosas e em 2021, esse número passou para 61. O número de mortos também cresceu, de 38 em 2020 para 103 em 2021.
Por Bolsonaro, o Brasil seguirá pelo mesmo caminho. Ele anunciou que pretende até o fim de 2022 liberar mais de 1 milhão de registros. Desde 2019, ele flexibilizou a compra de armas e munições no país com mais de 30 decretos.
Atualmente, mais de 605 mil registros ativos de CACs (caçadores, atiradores e colecionadores). O aumento tem relação com os decretos de lei assinados por Bolsonaro. Em 2019, o Exército brasileiro concedeu 73.788 registros; em 2020, foram 104.933; e em 2021, 198.640 ― maior número desde 2003.
Conforme o Atlas da Violência 2021, o discurso de ódio disseminado por Jair Bolsonaro resultou no aumento em 35% no número de “mortes violentas por causa indeterminada” (MVCI) no Brasil, com alta de 12.310 para 16.648, entre 2018 e 2019.
“Bolsonaro planta ódio, distribui armas e dissemina a violência”
O coordenador do Setorial Nacional de Direitos Humanos o Partido dos Trabalhadores (PT), Renato Simões, alerta sobre as fake news importadas por Bolsonaro de um modelo americano que propaga a violência por meio de massacres e uso de armas de fogo.
“Bolsonaro importou a agenda da extrema-direita direita dos EUA: planta ódio, colhe divisão; distribui armas, dissemina a violência; defende a tortura, vê nas ruas o resultado com assassinatos torpes promovidos por agentes do próprio Estado. Tudo embalado em fake news, principal matéria prima do fazer político de Bolsonaro e família”.
Simões ressalta ainda que é preciso “derrotar essa agenda é nossa tarefa ideológica: agora, na disputa de valores e reivindicações do nosso povo por justiça e paz; nas eleições, elegendo Lula pra virar a página aberta com o golpe de 2016 e aprofundada com a fraude de 2018; e depois, mantendo nossa organização e mobilização, pois essas ideias ainda galvanizam milhões de pessoas que tentarão obstaculizar a reconstrução e a transformação do Brasil nos próximos anos”.
Brasileiros são contra flexibilização
Segundo pesquisa Datafolha, realizado no final de maio, 7 a cada 10 entrevistados, em média, são contrários à políticas que favoreçam o armamento da população.
Segundo o levantamento, 72% discordam da frase “a sociedade seria mais segura se as pessoas andassem armadas para se proteger da violência”, diferente do apregoada por Bolsonaro.
O percentual de discordância é maior entre mulheres (78%), entre pessoas que se autodeclaram pretas (78%) e entre que tem menor faixa de renda, de até dois salários mínimos (75%).
Em 2021, o Partido dos Trabalhadores protocolou uma Ação Direta de Inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF) contra os decretos publicados pelo presidente Jair Bolsonaro.
Reais consequências do armamento
Veja abaixo uma séria de fatos, dados e argumentos que desmentem a irresponsável e criminosa política do atual governo.
- Armas aumentam a insegurança, mostram estudos:São vários os estudos que comprovam: quanto mais armas disponíveis para a população, maiores os riscos de acidentes, homicídios e atentados envolvendo esses equipamentos.
- Um dos mais extensos estudos sobre o tema já feito nos Estados Unidos, conduzido por Charles Branas, professor da Universidade de Columbia, em Nova York, mostrou que os estados americanos com as leis mais frouxas para acesso a armamentos são os que mais sofrem com tiroteios em escolas – vale lembrar que o Brasil já registrou ataques do tipo, ou todos esqueceram a tragédia na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano (SP), que deixou 10 mortos em 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro?
- Além disso, pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) concluiu que, após a adoção do Estatuto do Desarmamento, em 2003, 160 mil mortes por armas de fogo podem ter sido evitadas no Brasil nos 10 anos seguintes. Em 2004, observaram os cientistas, pela primeira vez em mais de uma década, a mortalidade relacionada a armas declinou 8% em comparação ao ano anterior.
- Bolsonaro, entretanto, age em relação às armas da mesma forma como agiu na pandemia. Ignora o que diz a ciência e espalha mentiras para atingir seus objetivos. Se, com a Covid-19, sua intenção era espalhar o vírus, com a questão armamentista, o objetivo é espalhar revólveres, pistolas e fuzis. Em ambos os casos, à custa da vida de brasileiros.
- Armas vão parar nas mãos de milicianos, traficantes e sequestradores:Quanto mais armas circulam, mas armados ficam os criminosos. Na era Bolsonaro, a bandidagem ganhou dois novos canais de fácil acesso aos armamentos: por meio do roubo das armas compradas por CACs e por meios legais, já que muitos bandidos estão se registrando como caçadores, atiradores ou colecionadores.
- Levantamento feito pelo jornal O Globo em Tribunais de Justiça de todo o país identificou CACs que, na verdade, são integrantes de milícias e grupos de extermínio e atuam como armeiros de facções do tráfico e fornecedores de armas e munição para assaltos a bancos e sequestros. Graças às regras frouxas de Bolsonaro, esses bandidos conseguem comprar armas legalmente, uma vez que estão registrados como CACs.
- A outra forma de organizações criminosas se armarem com a ajuda de Bolsonaro é por meio do roubo de armamentos comprados pelos milhares de CACs que existem no Brasil. Segundo a Agência Pública, só entre janeiro e setembro de 2021, os CACs “perderam” 840 armas. São três por dia, que, muito provavelmente, foram parar nas mãos de criminosos.
- Quem ganha (muito dinheiro) são as fabricantes de armas: Facilitar o acesso às armas não gera mais segurança, mas dá muito lucro. Além dos bandidos, quem tem muito a agradecer a Bolsonaro são as fabricantes de armas.
- Para a alegria de empresas estrangeiras, Bolsonaro zerou o imposto de importação em janeiro de 2021. A decisão foi anunciada no fim de 2020, mesma época em que o governo dizia não a ofertas de vacina contra a Covid-19.
Para se ter uma ideia de como se trata de um negócio e tanto, a empresa brasileira Taurus alcançou, em 2019, um lucro líquido de R$ 43,4 milhões. No ano anterior, antes de Bolsonaro assumir, o resultado da empresa havia sido um prejuízo perto de R$ 60 milhões.
As empresas de outros países também não podem reclamar. Segundo dados do Ministério da Economia, mais de US$ 29,3 milhões em revólveres e pistolas ingressaram no país em 2020. Foi, até então, a maior média da série histórica, iniciada em 1997, e fez com que o Brasil importasse mais armas letais do que bicicletas ou lápis.
Da Redação, com informações da Folha de S. Paulo e G1