A atuação catastrófica do presidente Jair Bolsonaro em dois anos de mandato lança mais uma mancha sobre a já maculada imagem brasileira no exterior. Desta vez, é a organização internacional de direitos humanos Human Rights Watch (HRW) que o acusa de uma série de ações daninhas contra os interesses da própria nação em seu 31º Relatório Global, divulgado nesta quarta (13).
A lista de atrocidades é extensa, mas o desempenho de Bolsonaro diante da pandemia do coronavírus mereceu destaque na publicação da entidade, sediada em Nova York. “O presidente Bolsonaro expôs a vida e a saúde dos brasileiros a grandes riscos ao tentar sabotar medidas de proteção contra a propagação da Covid-19”, disse Anna Livia Arida, diretora adjunta da HRW no Brasil.
“O Supremo Tribunal Federal e outras instituições se empenharam para proteger os brasileiros e para barrar muitas, embora não todas, as políticas anti-direitos de Bolsonaro. Essas instituições precisam permanecer vigilantes”, recomendou a dirigente da organização.
Cesar Muñoz, um dos pesquisadores da ONG, chamou de “desastrosa” a resposta do governo Bolsonaro à pandemia. “O presidente Bolsonaro, desde o começo, minimizou a gravidade da doença, publicou informação equivocada, tentou sabotar os esforços dos estados para tomar medidas contra a Covid-19 e, nesse momento, parece estar fazendo campanha contra a vacina”, afirmou ao portal ‘G1’.
Segundo o relatório da entidade, “Bolsonaro minimizou a Covid-19, a qual chamou de “gripezinha”; recusou-se a adotar medidas para proteger a si mesmo e as pessoas ao seu redor; disseminou informações equivocadas e tentou impedir os governos estaduais de imporem medidas de distanciamento social”.
“Também tentou restringir a publicação de dados sobre a Covid-19 e demitiu seu ministro da saúde por defender as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Seu substituto deixou o cargo no ministério em razão da defesa do presidente de um medicamento sem eficácia comprovada para tratar a Covid-19”, prossegue o documento.
A “ficha corrida” de Bolsonaro segue adiante, com acusações de que Bolsonaro promoveu políticas que contrariam os direitos das mulheres e os direitos das pessoas com deficiência e atacou a mídia independente e organizações da sociedade civil. Também não tratou da superlotação nas prisões e tampouco enfrentou a violência policial – tendo, por vezes, até mesmo a encorajado.
Além disso, o desgoverno Bolsonaro enfraqueceu os mecanismos de fiscalização da legislação ambiental, concedendo uma carta branca tácita às redes criminosas envolvidas no desmatamento ilegal na Amazônia, que ameaçam e atacam os defensores da floresta. O resultado, diz o documento da HRW, foi a destruição de 11 mil quilômetros quadrados de floresta amazônica entre agosto de 2019 e julho de 2020 – a maior taxa em 12 anos – e a alta de 16% do número de focos de incêndio na Amazônia em 2020.
“As políticas do presidente Bolsonaro têm sido um desastre para a floresta amazônica e para as pessoas que a defendem”, disse Anna Livia. “Ele culpa indígenas, organizações não governamentais e moradores pela destruição ambiental, em vez de agir contra as redes criminosas que impulsionam a ilegalidade na Amazônia.”
Bolsonaro sabota a vacina e ironiza Coronavac: “50% é uma boa?”
Enquanto era acusado de crimes contra a nação, Bolsonaro mais uma vez atuava de maneira leviana em sua cruzada particular contra a vacinação. Ao ser questionado por um apoiador sobre o assunto no portão do Palácio da Alvorada, nesta quarta, ele ironizou a eficácia da CoronaVac, vacina contra a Covid-19 produzida pela chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo.
“O que eu apanhei por causa disso… Agora estão vendo a verdade. Estou quatro meses apanhando por causa da vacina. Entre eu e a vacina tem a Anvisa. Não sou irresponsável. Não estou a fim de agradar quem quer que seja”, vangloriou-se, completando: “Essa de 50% é uma boa?”.
Bolsonaro referiu-se à eficácia geral da CoronaVac, que foi de 50,38% nos testes no Brasil, índice considerado adequado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), e que representam 100% de eficácia para casos graves, 78% para casos leves e 50,4% para assintomáticos. Também omitiu o fato de que o Ministério da Saúde assinou um contrato para adquirir 46 milhões de doses do imunizante.
Na corrida para iniciar a imunização em massa antes do governo de São Paulo, o Ministério da Saúde anunciou na tarde desta quarta que os dois milhões de doses de vacinas importadas da Índia deverão ser embarcadas para o Brasil no sábado (16).
O general da reserva e ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, garantiu que a população brasileira começará a ser vacinada ainda em janeiro. E que as vacinas cuja segurança e eficácia forem comprovadas serão distribuídas para todo o país ao mesmo tempo, de acordo com a proporção populacional dos grupos considerados prioritários. O difícil é acreditar na promessa, diante de tantos atos de sabotagem cometidos pelo próprio chefe.
Da Redação