“O Bolsa Família nada mais é do que um projeto para tirar dinheiro de quem produz e dá-lo a quem se acomoda, para que use seu título de eleitor e mantenha quem está no poder”, declarou o então deputado federal Jair Bolsonaro, em 2011. No ano seguinte, em entrevista concedida à Record News, reafirmou sua postura ao dizer que “O Bolsa Família é uma mentira, você não consegue uma pessoa no Nordeste para trabalhar na sua casa. Porque se for trabalhar, perde o Bolsa Família”.
Em 2017, conforme noticiado pela Folha de S. Paulo, Bolsonaro desprezou, mais uma vez, o programa. “Para ser candidato a presidente tem de falar que vai ampliar o Bolsa Família, então vote em outro candidato. Não vou partir para a demagogia e agradar quem quer que seja para buscar voto”, disse ele em um evento em Barretos (SP).
O discurso mudou quando se tornou candidato à presidência, em 2018. Hoje (11), ele comunicou a criação do décimo terceiro para o programa. A medida foi anunciada na semana em que o governo de Bolsonaro completou 100 dias, com queda recorde na popularidade, ostentando a maior taxa de reprovação desde a redemocratização em 1985. O reajuste é maquiagem mal feita em um cenário de desmonte dos direitos sociais no Brasil.
Em seu primeiro mês de gestão, Bolsonaro cortou 381 mil benefícios do Bolsa Família e descartou reajustar os valores pagos para famílias de baixa renda. Além disso, o ministro da Economia de Bolsonaro, Paulo Guedes, quer acabar com o reajuste do salário mínimo acima da inflação, o que significa, na prática, o fim da política de valorização. A medida prejudica os mais pobres: dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que 40% da população brasileira vive com até um salário mínimo.
Governo Bolsonaro: máquina de moer gente
As evidências de que a matemática do atual governo é sangrar dos mais pobres são muitas. A proposta de reforma da Previdência, propagandeada como ferramenta para desmontar privilégios, é, na verdade, um método de mantê-los intactos. As pessoas mais prejudicadas pelo desmonte da previdência pública serão os pobres, sobretudo as mulheres, as pessoas negras, os trabalhadores do campo e o os beneficiários do Benefício de Prestação Continuada (BPC).
De acordo com estudos realizados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), sem o BPC, a maior parte dos 2 milhões de idosos beneficiados pelo programa seria indigente. Em 1995, antes da criação do BPC, 12,6% dos idosos estavam em situação de miséria no Brasil. Hoje, segundo a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa é de apenas 1%. O programa concede um salário mínimo (R$ 998) a idosos e pessoas com deficiência, em situação de extrema pobreza, aos 65 anos, por meio do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS).
“Troque o reajuste por sua aposentadoria”
O descompasso entre o discurso de suposta melhoria da vida dos beneficiários do programa e realidade fica nítido na declaração, feita na sequência do anúncio de Bolsonaro, por Onyx Lorenzoni, ministro-chefe da Casa Civil. Ele afirmou que não haverá reajuste do Bolsa Família sem reforma da Previdência, de acordo com o portal R7, o que demonstra que o plano é cortar na carne e, em seguida, soprar.
Com a alta do desemprego, que hoje atinge 13 milhões de brasileiros, os 37 milhões de trabalhadores na informalidade, o subfinanciamento da saúde e da educação, aprovado pelo governo golpista de Michel Temer (MDB), com voto favorável de Jair Bolsonaro, então deputado, e as ameaças à aposentadoria, criar um décimo terceiro em um benefício com valor médio de R$ 85 por pessoa, destinado a famílias em situação de pobreza e extrema pobreza, é tapar o sol com a peneira.
Da Redação da Agência PT de notícias