A pandemia do coronavírus se alastra desenfreadamente pelo país e agora os 5.570 municípios brasileiros registram casos de infecção pela Covid-19. Enquanto isso, a falta de planejamento, o negacionismo e o descaso com a vida por parte do governo de Jair Bolsonaro continuam a chocar o mundo. Reportagem do ‘New York Times’ desta terça-feira (15) aponta que o plano de vacinação do Brasil contra a Covid-19 “está mergulhado no caos e brincando com vidas”.
Segundo o prestigiado diário americano, lutas políticas internas, planejamento inconsistente e um crescente movimento antivacinas transformaram o país – novamente – em péssimo exemplo na era do coronavírus e o deixaram sem um programa de vacinação transparente. Nesta terça, o Brasil registrou 181.978 mortes e 6.934.539 casos confirmados de coronavírus.
Pelo histórico de seu programa nacional de vacinação e “robusta capacidade para fabricar medicamentos”, o Brasil poderia ter aproveitado essas vantagens para sair na frente na corrida pela imunização, descreve a reportagem. Agora, seus cidadãos “não têm noção de quando podem obter o alívio de um vírus que colocou o sistema de saúde pública de joelhos e esmagou a economia”, registra o jornal.
“Eles estão brincando com vidas”, declarou a epidemiologista brasileira-americana do Sabin Vaccine Institute, Denise Garrett, ao jornal. “É quase um crime”, afirmou a pesquisadora, que trabalha para expandir o acesso às vacinas.
O ‘Times’ lembrou mais uma vez do papel crucial de Bolsonaro na transformação do país em pária internacional. “Bolsonaro rejeitou as evidências científicas, chamou o vírus de uma “gripezinha” que não justificava o fechamento da maior economia da região e repreendeu os governadores que impuseram medidas de quarentena e fechamento de empresas”, destaca o diário.
Ainda segundo o jornal, o Ministério da Saúde enviou um plano de vacinação ao Supremo Tribunal Federal sem um cronograma detalhado nem informar claramente o número de doses disponíveis da vacina. Além disso, funcionários da pasta depararam-se com o fato de que não haveria seringas e frascos suficientes para uma “ambiciosa campanha de vacinação, necessária para cobrir um país com 210 milhões de habitantes, onde mais de 180 mil sucumbiram ao vírus”.
O Times ressalta também as disputas políticas em torno da vacinação em massa no país. Bolsonaro criticou a CoronaVac, que está sendo desenvolvida pela empresa chinesa Sinovac Biotech, e rejeitou o plano da Saúde de comprar 46 milhões de doses. Para o jornal, a briga de Bolsonaro com o governador de São Paulo João Dória “politizou perigosamente os planos de vacinação no Brasil”.
“Isso [disputa política] nunca aconteceu nos esforços de imunização”, declarou ao jornal a epidemiologista que dirigia o programa de imunização do Brasil até o ano passado, Carla Domingues. Ela lamentou que a vacina contra o coronavírus tenha se tornado uma questão partidária. “Isso vai deixar as pessoas confusas. É surreal”, disse.
Da Redação, com ‘NY Times’