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Brasil pode abrigar maior cemitério de vítimas da Covid-19 até fim de julho

Descaso de Bolsonaro frente à pandemia do Covid-19 deve elevar número de mortos para 137,5 mil até dia 29, superando os EUA. É o que aponta estimativa da Universidade de Washington, cujo modelo matemático de projeções é utilizado pela Casa Branca para planejamento estratégico de combate à doença. País atingiu nesta terça-feira (11) a marca de 40 mil óbitos e já contabiliza um total de 787. 489 infectados

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O país atingiu nesta terça-feira (11) a marca de 40 mil óbitos e já contabiliza um total de 787. 489 infectados

A tragédia da crise sanitária no Brasil, cujo número de mortos por Covid-19 cresce de modo avassalador e em velocidade cada vez mais galopante, pode transformar em breve o país no maior cemitério de vítimas da pandemia no mundo. O descaso e a negligência do governo Bolsonaro devem levar os índices de mortalidade a superar o dos EUA até o fim do próximo mês, segundo as últimas projeções da Universidade de Washington. De acordo com o modelo de estimativas, que é utilizado pela Casa Branca para o planejamento estratégico de combate à doença, o Brasil poderá ter 137,5 mil óbitos até 29 de julho caso mantenha a tática da inércia em relação à doença. No cenário desenhado pelo instituto, os EUA aparecem atrás, com 137 mil mortos.

À primeira vista, a projeção poderia soar exagerada – ou “histérica”, como Bolsonaro costumava referir-se às autoridades de saúde – mas basta um olhar atento à trajetória da pandemia desde o início para se chegar à conclusão de que ela é assustadoramente realista. Há um mês, no dia 10 de maio, o país tinha pouco mais de 11 mortos. Sem planejamento por parte do governo e com um Ministério da Saúde sem comando, em 30 dias o número foi quadruplicado. Segundo o mais recente balanço feito por um consórcio de veículos de imprensa junto às secretarias de Saúde e divulgado nesta quinta-feira (11), o  Brasil bateu a casa dos 40 mil óbitos por causa do coronavírus. Com 40.276 vítimas fatais, o país contabiliza um total de 787. 489 infectados.

Pelas projeções, o Brasil terá uma média de mais de 4 mil mortes diárias, podendo atingir cerca de 5,2 mil já no início de agosto, outro recorde mundial. No dia 4 de agosto, a contagem poderá saltar para 165 mil mortes, apenas uma semana depois de o país ultrapassar os EUA, de acordo com as estimativas. No atual ritmo de inércia pelo qual o país passa, com as autoridades ignorando a necessidade urgente da aplicação de testes em massa, as subnotificações também seguirão em alta, dificultando ainda mais as estratégias de combate. Segundo o Instituto de Métricas e Avaliação da Saúde (IHME) da universidade, o Brasil não terá testado nem 30 mil pessoas até dia 4 de agosto.

Ainda de acordo com as estimativas de pesquisadores, o pico de contágio da pandemia no Brasil deve ser atingido até meados de agosto. Reportagem publicada pela ‘BBC News’ destaca que o  número de mortes divulgado pela Universidade de Washington baseia-se nos índices de isolamento social, que podem variar, “mas o Brasil parece seguir três caminhos diferentes: reabertura, quarentena flexível e bloqueio total”.

Cemitério em Manaus (AM)

Reabertura

Os números assustam mas as projeções não foram suficientes para impedir que dois grandes epicentros do país, Rio de Janeiro e São Paulo, iniciassem processos de reabertura do comércio. As medidas de reabertura podem resultar em um desastre ainda maior nas semanas que virão. Na capital paulista, comércio de rua e shoppings já retomaram atividades. Ônibus foram vistos circulando lotados.

“Todos os países que enfrentaram a pandemia tiveram o cuidado de flexibilizar a economia quando as curvas do número de casos e de óbitos já começavam a descer. E, mesmo assim, com muito cuidado. Alguns desses países experimentaram novo aumento do número de casos e reavaliam como vão seguir daqui para frente”, avalia Raquel Stucchi, professora da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em depoimento ao portal ‘Brasil de Fato’. Para ela, este não é o momento de uma flexibilização das medidas de isolamento social.

Antecipação

Para piorar o quadro, especialistas da Fiocruz constataram que a população das grandes cidades voltou a circular pelas ruas cerca de duas semanas antes do início da flexibilização programada por governadores e prefeitos. Os pesquisadores do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict/Fiocruz) utilizaram a ferramenta MonitoraCovid-19, que disponibilizou dados sobre a intensidade do trânsito de veículos, com base no aplicativo Waze e em técnicas de Big Data.

Foram coletados dados registrados entre 9 de março e 1º de junho em cinco regiões metropolitanas com altas taxas de infecção: São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Manaus e Porto Alegre. O estudo revelou que nas últimas duas semanas, houve um aumento médio de 20% nos engarrafamentos de trânsito nas cinco localidades, em especial Manaus e Porto Alegre. O temor é que, com uma alta do fluxo de veículos nas grandes cidades, o vírus possa espalhar-se para as periferias.

“Essas capitais podem exportar o vírus e importar doentes graves nas próximas semanas, devido ao relaxamento no isolamento social, como mostram os mapas de fluxo de internação”, afirma Diego Xavier, epidemiologista da Fiocruz e integrante do projeto MonitoraCovid-19, em depoimento à ‘Agência Fiocruz de Notícias’.

Segunda onda

Ao mesmo tempo em que desenha um cenário desolador para o Brasil, a Universidade de Washington também traça um panorama sombrio para os EUA nos próximos meses, o que também pode ser um vislumbre do que vem por aí. Segundo as estimativas do IHME, os EUA podem passar por uma segunda onda de contaminações em breve. De acordo com o instituto, a taxa de óbitos permanecerá em média no mesmo ritmo até o final de agosto, quando poderá entrar em uma segunda onda de contaminações em setembro, devido ao aumento da mobilidade.

O instituto prevê 169.890 mortes nos EUA até 1º de outubro, com uma possível variação de 133.201 a 290.222 óbitos. Alguns estados poderão entrar nessa segunda onda até antes. “Olhando para a frente, podemos ver onde estados precisam começar a planejar-se para uma segunda onda de COVID-19″, afirmou o diretor do IHME, Christopher Murray, em depoimento ao portal do instituto.

“Esperamos que nosso modelo esteja errado em função de medidas rápidas que governos e indivíduos possam adotar para reduzir a transmissão”, diz Murrray. “Se os EUA não conseguirem controlar o crescimento em setembro, poderemos enfrentar tendências de piora em outubro, novembro e nos meses seguintes, se a pandemia, como esperamos, seguir a sazonalidade da pneumonia”, alerta o pesquisador.

Da Redação, com informações de ‘G1’, ’BBC News’, ‘Brasil de Fato’, Fiocruz e Universidade de Washington