O governo brasileiro iniciou o mapeamento das mudanças climáticas que devem ocorrer no País nos próximos anos. O objetivo é pensar em soluções e traçar estratégias de adaptação aos cenários que estão por vir. Baseado em estudo preliminar divulgado nesta terça-feira (25), os efeitos da emissão do gás carbônico (CO2) no mundo serão sentidos com grande intensidade no Brasil.
Antes da virada do século, a temperatura no Brasil terá aumentado de 2 a 8 graus centígrados (C) e os reflexos serão sentidos em diversos setores. Até 2040, a região Centro-Oeste deve registrar as maiores altas, em todas as estações do ano. Nos anos seguintes, de 2071 a 2100, os altos níveis de aquecimento devem atingir o Norte, Nordeste e Sul.
A previsão considera diferentes projeções internacionais de emissão de gases responsáveis pelo efeito estufa, em intervalos de 30 anos, até 2100. Espera-se ainda uma maior variação de temperatura de um ano para outro e a amplificação da diferença entre máximos e mínimos, principalmente na Amazônia.
Segundo a pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Chou Sin Chan, o aquecimento é registrado em todo o continente, em todos os níveis de emissão de CO2. “Não sabemos ao certo qual previsão vai acertar, mas temos que considerar todas as possibilidades e estar preparados”, afirma.
Estudos – Diante dos novos cenários climáticos, a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) montaram um grupo de trabalho com participação de órgãos federais, universidades e institutos de pesquisa para tentar reverter as consequências econômicas e sociais. É previsto um investimento de R$ 2,2 milhões no estudo.
O subsecretário de Desenvolvimento Sustentável da SAE, Sérgio Margulis, diz que planejar o desenvolvimento nessas condições é uma questão estratégica e deve caminhar em conjunto com acordos mundiais pela redução das emissões de CO2. “Como inevitavelmente já deve haver um certo avanço nas mudanças do clima, os países vão ter que se adaptar”, explica.
A previsão é que nos próximos 30 anos o Brasil sinta uma importante mudança no nível das chuvas. Deve chover cada vez menos, em especial nas regiões Centro-Oeste e Sudeste do País, mesmo nos períodos considerados chuvosos. Enquanto isso, o Nordeste, no verão, e o Sul, em todas as estações do ano, devem receber mais chuvas. Até o final do século, a seca deve chegar com maior intensidade à região Norte.
Segundo Margulis, é preciso avaliar atentamente os possíveis impactos para disponibilidade de recursos hídricos no país. “As vazões dos rios devem cair significativamente, com redução de 80% de algumas bacias. É preciso abrir o olho para esses problemas e identificar o que fazer”, afirma.
Com a previsão de menos água nas bacias hidrográficas, haverá implicação para o abastecimento, agricultura, transporte fluvial, entre outros. O que deve acarretar em fortes reflexos para os setores de energia, saúde e infraestruturas urbana, costeira e de transportes.
“Apesar da tendência geral de redução das vazões, a Bacia do Paraná deve registrar um aumento do volume. O que é tranquilizador, já que 45% a 50% da geração de energia do país vem dessa região”, explica o presidente da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), Eduardo Sávio Martins. Mesmo assim, no futuro, o Brasil terá uma participação maior de outras matrizes energéticas, com a eólica.
Por Flávia Umpierre, da Agência PT de Notícias.