A escalada de mortes por Covid-19 continua acelerando à medida que o vírus se alastra livremente no país. Nesta segunda-feira (12), mais um recorde na média móvel de mortes foi batido, com o registro de 1.738 mortes em 24h, elevando a média móvel semanal para 3.125 óbitos. Trata-se da maior desde o início da pandemia. Os dados indicam que os temores dos especialistas irão se confirmar e o Brasil deve fechar o mês de abril com mais de 100 mil vítimas fatais. De acordo com o balanço do consórcio de veículos de imprensa, o país já ultrapassou 355 mil mortes e 13,5 milhões de casos da doença.
O Brasil também assinala inacreditáveis 82 dias com mais de mil mortes diárias em média e 27 dias com dois mil óbitos. E, pelo terceiro dia, o patamar de três mil vítimas fatais foi atingido. Além disso, a média móvel de novos casos sem mantém alta: são 71,1 mil novos diagnósticos de Covid-19, apesar de uma queda de 6% nas duas últimas semanas. 11 estados e o Distrito Federal apresentam tendência de alta de mortes.
Para se ter uma ideia da catástrofe, somente em abril, 33.145 mortes foram registradas, configurando o segundo pior mês da pandemia, à frente do mês de julho. À época, foram computados 32.912 óbitos em decorrência da doença. “Nós sabíamos que, em abril, iríamos ainda manter esses números altos de internação, pressão por leito de UTI e óbito”, resume a epidemiologista e professora titular da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Ethel Maciel, em depoimento ao G1.
Jovens são maioria em UTIs
Pela primeira vez desde o início do surto, pessoas com menos de 40 anos são maioria nas Unidades de Tratamento Intensivo ( UTI ) do país. O índice bateu recorde em março, com 52,2% dos. Os dados são da plataforma UTIs Brasileiras, da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib).
“Nós ainda estamos mantendo muitos casos novos todos os dias, o que indica que, no mês de abril nós ainda teremos muitos casos, muita pressão por leito de internação, e, ainda, muitos óbitos”, alertou Maciel.
20 dias depois, comitê não trabalha
O quadro é de desalento, uma vez que não há sinais de que medidas coordenadas para frear o vírus serão tomadas em nível nacional. 20 dias depois de sua criação – com um atraso de mais de um ano, no fim de março – o Comitê de Coordenação Nacional para Enfrentamento da Pandemia da Covid-19 até hoje não apresentou um esboço de plano para integrar ações de enfrentamento da pandemia no país, apesar do anúncio de Bolsonaro de que o grupo iria se reunir semanalmente, o que não ocorreu.
No fim de semana, editorial da Folha concluiu que, “por ora [o comitê] não passa de mais uma farsa para desviar a atenção da incompetência e das sabotagens presidenciais”. Sem maiores cobranças da sociedade civil, a farsa deve continuar pelos próximos dias, ao lado do contador de mortos do Ministério da Saúde.
Campanha de vacinação é um desastre
Para piorar, além da lentidão na vacinação, a desastrosa campanha de imunização do governo federal carece de uma estratégia clara de comunicação para orientar a população sobre a importância da vacina. Como resultado, mais de 1,5 milhão de brasileiros deixaram de tomar a segunda dose da vacina.
Mais de quatro meses depois que o mundo iniciou a aplicação de doses de vacinas variadas, apenas 3,49% da população brasileira recebram as duas doses necessárias para uma imunização segura.
Lockdown urgente e vacinação em massa
Enquanto a vacinação não avança, a única medida segura para impedir o avanço da doença é um fechamento total das atividades não essenciais do país. Segundo o pesquisador José Luiz Proença Módena, um dos autores de um estudo sobre a variante P.1 que foi publicado na revista científica The Lancet, o momento é grave e, por isso, as medidas de restrição da circulação de pessoas devem ser redobradas.
“Temos um cenário muito favorável ao surgimento e disseminação dessas variantes, por uma série de aspectos: uma população enorme e muitas vezes com alta densidade populacional em áreas específicas, grande diversidade de pessoas com background genético e condições de vida muito diferentes, e que grosso modo não estão respeitando as medidas que visam conter a transmissão, mesmo que muitas vezes por uma necessidade de subsistência. O vírus está circulando livremente”, aponta Módena.
Além de um lockdown nacional, o pesquisador defende a ampliação da vacinação em massa. “O momento requer que todas as medidas sejam redobradas. Sou totalmente favorável que o lockdown seja adotado de imediato no país todo, e um programa de vacinação em massa”.
Da Redação, com G1, Folha e Jornal da Unicamp