A desorganização do governo federal, refletida na preocupante falta de vacinas para a segunda imunização da população contra a Covid-19, não é novidade no Ministério da Saúde. Apesar de o ministro Marcelo Queiroga tentar atirar a responsabilidade pela escassez de imunizantes no colo de estados e municípios, foi pela incompetência de seu antecessor, Eduardo Pazuello, que o Brasil encontra-se sem perspectivas de cumprir o cronograma do Programa Nacional de Imunização (PNI). Especialistas alertam que a falta de vacinas agravará ainda mais a crise sanitária no país.
Além da recusa em comprar vacinas em 2020, Pazuello causou um verdadeiro desastre administrativo ao gerir a distribuição de lotes destinados para a primeira e a segunda dose. No dia 20 de fevereiro, o general disse a integrantes da Frente Nacional de Prefeitos (FNP) que 4,7 milhões de doses previstas para o fim do mês deveriam ser utilizadas como primeira dose, mesmo sem garantias de que haveria imunizantes para a cobertura vacinal.
Cinco dias depois, o próprio PNI desautorizou o ministro, recomendando, por meio de nota técnica, que uma parte das vacinas deveria ser reservada para a segunda dose dos vacinados. Naquele mês, a Saúde foi obrigada a reconhecer sua falta de articulação ao admitir que não havia garantia do fluxo de entrega de vacinas.
Um mês depois, no dia 21 de março, os municípios foram surpreendidos pelo Ministério da Saúde, que voltou a liberar o uso integral, como primeira dose, de todas as vacinas distribuídas. A autorização foi dada pela Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS). A imprensa noticiou que a medida foi um pedido de Pazuello e que a pasta considerou as entregas semanais de doses do Instituto Butantan e da Fiocruz.
Assim, gerou-se uma “expectativa agora de que a distribuição aos estados pelo ministério se estabilize”. “Com a liberação para aplicação de imediato de todo o estoque de vacinas guardadas nas secretarias municipais, vamos conseguir dobrar a aplicação esta semana, imunizando uma grande quantidade da população brasileira, salvando e protegendo mais vidas”, sonhou o então ministro Pazuello.
Um mês depois, 1,5 milhão de brasileiros não tomou a segunda dose da vacina – seja por não comparecimento, seja por falta de doses – e o cronograma do PNI segue a passos de tartaruga, enquanto o vírus da Covid-19 massacra a população brasileira.
“Dificuldade”
Na segunda-feira (26), o ministro Marcelo Queiroga admitiu, no Senado, que há “dificuldade” na distribuição de doses da Coronavac que seriam aplicadas na segunda dose. Cidades de Alagoas, Pernambuco, Rio Grande do Norte, São Paulo, Amapá e Paraíba estão sem doses para a segunda aplicação da cobertura vacinal.
“O que tem nos causado certa preocupação a CoronaVac, a segunda dose. Tem sido um pedido de governadores, de prefeitos, porque, se os senhores lembram, cerca de um mês atrás se liberou as segundas doses para que se aplicassem”, reconheceu Queiroga. “E agora, em face de retardo de insumo vindo da China para o Butantan, há uma dificuldade com essa 2ª dose”.
Com um leque de opções cada vez menor para a aquisição de vacinas, o Ministério da Saúde limitou-se a emitir uma nota, nesta terça-feira (27), recomendando que a população tome a segunda dose, mesmo fora do prazo.
“Essa é a orientação do Ministério da Saúde, que reforça a importância de se completar o esquema vacinal para assegurar a proteção adequada contra a doença”, diz a nota da Saúde.
Da Redação, com informações de G1