A captação de água na poluída represa Billings para socorrer o reservatório da Cantareira e garantir o abastecimento de São Paulo vai sair muito caro. Isso porque será necessário agregar novos custos de desinfecção e encarecer ainda mais a água potável a ser entregue à população pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).
O esclarecimento foi feito à Agência PT de Notícias pelo especialista em saneamento e esgotos Marcos Von Sperling, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Doutor em engenharia ambiental pelo Imperial College da Universidade de Londres, Sperling informa que o custo adicional está atrelado à necessidade de acrescer novas etapas de filtração ao processo de convencional.
“Não é fácil e nem tão rápido ter uma solução para isso”, diz o especialista. Segundo ele, caso seja necessário fazer uma intervenção mais profunda nas instalações, o processo dificilmente terá resultado no curto prazo.
O processo de aproveitamento de água com elevado grau de poluição, afirma Sperling, viabiliza-se não apenas com a aplicação de produtos, como carvão ativado ou membrana especial, mas também com implantação de infraestrutura adicional às necessidades do processamento.
Sperling ressalta desconhecer as condições da água a ser captada na represa Billings e tão pouco o grau de contaminação local. Somente com avaliação técnica do manancial e da escala e diversidade de organismos patogênicos que ocorrem no local, avisa, será possível avaliar o grau de desinfecção necessária para garantir a qualidade da água para consumo – a chamada “potabilidade”.
“Há tecnologia para oferecer água potável de qualidade, a questão é saber a que custo ela será entregue”, afirma o engenheiro ambiental. “Quanto mais poluído o volume a ser extraído, mais barreiras e etapas terão de ser introduzidas para a produção de um produto de qualidade”, acrescenta.
A possível utilização da represa Billings para ampliar o volume de água ofertada pelo Sistema Cantareira foi anunciada, na semana passada, pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB).
Não houve, de parte do governador ou da Sabesp, qualquer informação sobre os investimentos exigidos para tratamento da água da Billings. Grande parte de esgotos in natura que caem na represa vem de imóveis oriundos de ocupação irregular. A estatal de água e esgotos de São Paulo calcula em 400 toneladas o total de lixo jogado, todo dia, na represa.
Além de muito sujo e do mau cheiro exalado, o reservatório está com cerca de 58% de sua capacidade. A represa tem capacidade de armazenamento de 1,2 trilhão de litros, valor próximo ao da Cantareira.
Billings foi construída no início do século passado com o objetivo de aproveitar os rios Pinheiros e Tietê na geração de energia elétrica pela usina hidrelétrica Henry Borden, em Cubatão (SP). Parte das águas, vinda de pontos mais limpos, é utilizada para abastecer a região do ABC Paulista por meio dos sistemas Rio Grande e Guarapiranga – este último supre, ainda, a zona sul da capital.
Por Márcio de Morais, da Agência PT de Notícias