Partido dos Trabalhadores

Carlos Árabe: Dia 20 de agosto – a virada na luta democrática!

Agosto de 2015 está marcado pela intensificação da disputa de rumos do Brasil. De um lado a direita jogou, no dia 16, uma grande cartada para derrubar o governo. De outro, movimentos sociais, partidos de esquerda e setores democráticos reorganizaram-se para a grande disputa em curso, com destaque para a marcha das margaridas e o encontro dos movimentos sociais com Dilma, dias 12 e 13 últimos, e, para culminar, o dia 20 na marcha nacional por direitos, liberdade e democracia.

A direita não conseguiu seu objetivo

A primeira constatação sobre a ação da direita no dia 16 é a de que não correspondeu ao objetivo anunciado por ela mesma, qual seja, o de alavancar o fim do governo. Para isso a mobilização teria de ser não somente maior que a de março mas também de maior alcance social. E mais unificada politicamente. Ela mostrou força novamente, seu peso não deve ser menosprezado na correlação de forças, mas fracassou nesses quesitos fundamentais para dar curso ao seu objetivo político. Ao final, a própria direita apareceu dividida entre duas táticas: depor Dilma agora ou preparar-se para a disputa de 2018.

Mais uma vez verificou-se que os movimentos da direita em 2015 não são reflexos das jornadas de junho de 2013, mas sim continuidade da eleição de 2014. O que move os manifestantes é um sentimento de vingança contra o PT (é exclusivamente para isso que usa a bandeira contra a corrupção), contra a democracia (bandeira praticamente abandonada e substituída pelo golpismo aberto) e contra os pobres (e, por isso mesmo, sua dificuldade estrutural em ampliar socialmente). A classe média alta dos grandes centros urbanos compõe a essência dessas manifestações – segundo dados do Datafolha sobre a manifestação da paulista, mais de 40% dos presentes têm renda acima de 10 salários-mínimo. As chamadas “classes C, D e E”, mesmo reprovando o governo Dilma – como mostram as pesquisas realizadas desde o início 2015, em contraste com alta aprovação ao final de 2014 – não aderiram às manifestações golpistas da classe média.

Em dobradinha com o PSDB – que convocou as manifestações no seu programa de TV e teve seu candidato golpista, com a constituição nas mãos, carregado pelos golpistas – a Globo cumpriu papel de organizadora da direita, de um verdadeiro partido político, o que mais uma vez cobra do governo uma reação democrática a uma provocação tão evidente. Mesmo sem uma regulamentação pluralista dos meios de comunicação, a Globo ultrapassa todas as barreiras legais e mesmo constitucionais sobre partidos políticos e sobre meios de comunicação.

Momento de recuperar a iniciativa

A relação e o diálogo da presidenta Dilma com os movimentos sociais e populares foi reforçado nos últimos dias com a participação na Marcha das Margaridas e com o Diálogo com os Movimentos Sociais – ato político com dezenas de organizações e mais de mil dirigentes dos movimentos sociais.

A amplitude, pluralidade e unidade dos movimentos sociais se expressaram na participação da militância e na contundência dos discursos que manifestaram a defesa do mandato da presidenta e da democracia, e, ao mesmo tempo, a exigência do cumprimento do programa eleito em 2014 com a consequente reorientação da política econômica e que cabe aos mais ricos pagar pelo custo da crise. A presidenta Dilma denunciou o projeto patrimonialista, intolerante e autoritário construído pelas elites do país. Segundo a presidenta, “quem não tem capacidade de convivência social pacífica no país é a elite brasileira”. Por fim, assegurou o compromisso com a implementação do programa eleito em 2014 ao longo do seu mandato, reafirmando que sempre teve e tem lado: o da classe trabalhadora. Como demonstração da unidade construída, os movimentos reforçaram a convocação para os atos do dia 20 de agosto em todo o país em defesa dos direitos, da liberdade e da democracia. Visam acumular forças para que as pautas dos movimentos sociais se transformem nas políticas centrais do governo, em uma agenda para continuar a mudar o Brasil.

Esse novo momento da disputa de rumos do Brasil recoloca a possibilidade de retomar a disputa de hegemonia, condição essa que foi perdida logo em seguida à grande vitoria de outubro de 2014, com as políticas iniciais do governo, especialmente na economia.
Está em curso agora uma grande mobilização dos movimentos sociais – que assumem cada vez mais um papel de sujeito político – em defesa do mandato da Presidenta Dilma e, simultaneamente, em defesa do programa eleito, especialmente de uma nova política econômica. Ao mesmo tempo, o governo inicia um diálogo aberto com os movimentos sociais.

É importante registrar que esse não é o único movimento do governo. Outro, em direção ao centro, desenvolve-se na forma pública de um acordo com o PMDB de Temer e Renan e com uma suposta “agenda Brasil”.

Nós lutamos por uma alternativa de esquerda. Isso não exclui negociações e formas de neutralizar e evitar a formação de uma frente ampla anti-governo, mas é necessário clareza quanto ao movimento fundamental que deve dirigir o governo e, de outro lado, compreender o papel decisivo dos movimentos sociais e da esquerda nessa definição de uma estratégia para reunificar as forças que conquistaram a vitória em outubro de 2014.
Nesse sentido, os atos marcados para o dia 20 revestem-se de importância decisiva porque podem marcar, de fato e simbolicamente, uma inversão na dinâmica política e reforçar o caminho da esquerda.

Até agora, desde o início do 2º governo, a direita manteve a iniciativa. Em uma conjuntura de rápidos deslocamentos, polarizada, essa mesma direita, colocou-se objetivos para os quais não tinha legitimidade política e social. Nesse curso, abandonou o arremedo de fachada democrática com que tentou encobrir seu conteúdo anti-povo e semi-fascista. A única bandeira mais ampla que dispõe é a do combate a corrupção, mas ao desfraldá-la na companhia do presidente da Câmara Eduardo Cunha – aliado no golpismo – tende também a desmoralizar-se.
Assim, o erro estratégico da direita em contraposição ao esforço de reorganização política do governo e sua base social pode permitir um novo deslocamento da conjuntura, desta vez à esquerda. Ele terá que ser conquistado, não virá por automatismos.

Os movimentos sociais, partidos de esquerda e setores democráticos manifestarão no dia 20 uma plataforma universalizante, com amplo potencial de voltar a disputar os rumos nacionais (e certamente com amplo impacto na América Latina). Quanto maior, mais unitária e mais enraizada no povo for essa manifestação, mais impulso teremos para dar novos passos na luta democrática e na colocação em prática do programa eleito, especialmente na política econômica.

Está recolocada a possibilidade de retomar a luta pela hegemonia (alcançada em outubro de 2014 e perdida em seguida), destacando-se 3 bandeiras:
– contra a corrupção (a direita ainda tem essa bandeira e deve ser desmascarada),
– pela democracia (essa a direita abandonou, assumiu abertamente o golpismo),
– pelos direitos sociais e pelo desenvolvimento econômico com distribuição de renda e inclusão social (essas a direita nunca defendeu, estão no centro do caminho de esquerda que conquistaremos novamente).

Carlos Henrique Árabe é secretário Nacional de Formação Política do PT