Após um longo período de invisibilidade, hoje podemos comemorar o resultado de uma luta que começou a ser construída há 15 anos. Transformamos a Marcha das Margaridas na maior organização de mulheres do mundo, o que por si só já seria extraordinário.
Mas fomos muito além disso. Construímos uma marcha que tem como pilar as mulheres do campo, que moram nos lugares mais distantes do Brasil, no meio da floresta, nos rincões do semiárido, e colocam o coração nessa luta por um projeto de desenvolvimento sustentável com democracia, justiça, autonomia, igualdade e liberdade.
Em 2000, ainda no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, realizar pela primeira vez uma marcha com essas características foi um ato de profunda ousadia das mulheres do campo.
Dentre essas mulheres estava o maior número de pessoas que passavam fome, cujo acesso as políticas públicas era, muitas vezes, inexistente. Nem sequer fomos recebidas pelo então presidente naquele momento, mas demos uma demonstração da capacidade de nossa organização para ocupar as ruas do País na busca por direitos.
E assim conseguimos colocar na agenda do Estado brasileiro a necessidade de construir políticas que estejam ao alcance das mulheres e homens do campo, da floresta e das águas. Conquistamos o acesso à terra e à documentação; o Pronaf Mulher; a Política Nacional de Saúde para a população do campo e da floresta; a ampliação do enfrentamento à violência contra as mulheres com a implantação de unidades móveis com serviços de atendimento; entre outras pautas.
A 5ª edição da Marcha das Margaridas teve um significado especial por ter sido um símbolo de um levante nacional contra a onda de golpismo que tentou tomar a força o protagonismo da conjuntura política brasileira. Fizemos história mais uma vez.
As Margaridas se posicionaram e deixaram claro que a marcha, além de representar a cobrança de projetos e políticas públicas em favor do nosso povo, era contra o golpe e os golpistas, que não respeitam nem mesmo o resultado das eleições.
Nossa pauta é por igualdade e democracia. Sem democracia nós não avançaremos e nem enfrentaremos o machismo. Ficou claro que, quando tentarem tocar no projeto político que defendemos, estaremos nas ruas em defesa do que acreditamos.
A Marcha das Margaridas foi resultado do esforço de companheiras que atravessaram o Brasil para fazer história. Não admitiremos retrocessos. Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres!
Carmen Foro é membra Titular do coletivo da Secretaria Sindical Nacional, vice-presidenta da CUT e organizadora das 3ª e 4ª Marchas das Margaridas