O Encontro Nacional Lula Livre abriu seus trabalhos com poesia, música e o sonho de um Brasil melhor. Trabalhadoras e trabalhadores que lutam pela liberdade , pela construção de uma sociedade justa e igualitária cantaram juntos. Entre eles, integrantes da Mangueira, a escola de samba vencedora do carnaval do Rio de Janeiro. Os cariocas cantaram o samba-enredo campeão que enaltece a memória dos que morreram em luta contra a injustiça.
A luta pela liberdade de Lula reúne diversas forças e movimentos. A pluralidade é evidente em todas as situações. A coordenação da manhã foi dividida entre Jessy Dayane, União Nacional dos Estudantes, e Aroaldo Oliveira da Silva, Sindicato dos Metalúrgicos. A abertura contou com a participação de Levante Popular da Juventude e do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra.
Coube ao presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, cumprimentar todos os que estão se organizando e ler uma carta enviada pelo ex-presidente. No início, ele lembrou, “vocês vieram para uma reunião de trabalho”, e complementou, “temos que continuar lutando pela liberdade do ex-presidente Lula e contra as políticas anti-povo do governo Bolsonaro”.
Okamotto disse que somente através dessa luta os assassinos de Marielle e a reforma da Previdência serão combatidos. Na carta, Lula agradeceu ao apoio que tem recebido e que é também a sua força para continuar resistindo. O ex-presidente disse o que vem se concretizando, que a cada dia todos veem que ele foi preso para que não pudesse se eleger
presidente, que ele é vítima de uma farsa judicial construída com o apoio da grande mídia.
Lula denunciou que a Constituição foi desrespeitada, como se houvesse um tribunal de exceção só pra ele. Em sua mensagem, ele disse que embora queiram apagá-lo da História, isso não acontecerá graças as pessoas que defendem o seu projeto. Lula ainda criticou os integrantes da Lava Jato por terem feito um acordo com o governo dos EUA que entrega aos estrangeiros os segredos da Petrobras que pertencem, na verdade, ao povo brasileiro.
A primeira mesa de discussões intitulada “Perspectivas políticas, jurídicas e internacionais da Campanha Lula Livre contou com a participação de João Pedro Stédile (MST), Valeska Martins (advogada do ex-presidente Lula) e Celso Amorim (ex-ministro de Relações Exteriores e coordenador do Comitê Internacional Lula Livre). Amorim, o primeiro a falar, disse que só existe democracia no Brasil se Lula estiver livre, do contrário, não há democracia aqui.
Na opinião do ex-chanceler, a América Latina está sob um forte ataque. O objetivo é impedir que os países latino americanos pudessem dialogar diretamente com países africanos e de outros continentes, como vinha acontecendo. Ele afirma que existe um Estado profundo que se assustou com essa independência e decidiu encerra-la.
Celso Amorim mencionou que líderes políticos do mundo inteiro estão preocupados com a situação do Brasil e de Lula. No exterior é ampla a percepção de que os interesses econômicos estão influenciando diretamente o processo político e a perseguição judicial a Lula, de acordo com Amorim.
O ex-ministro ainda ironizou o encontro de Jair Bolsonaro com Donald Trump, ele diz que a conversa vai durar apenas 5 minutos e que isso é resultado da queda de credibilidade do Brasil. Hoje, o governo se posiciona de forma subalterna diante dos EUA, segundo Amorim. Presidente do Comitê Internacional, Celso Amorim, ressaltou a importância de fazer com que a comunidade internacional compreenda o que está acontecendo no Brasil e como parte do Judiciário opera à revelia da Constituição, que, na verdade, criou-se uma campanha de difamação contra o ex-presidente Lula.
Valeska Zanin, advogada do ex-presidente, afirmou categoricamente: “Lula é inocente”, e complementou dizendo que não existem provas materiais no processo. Valeska explicou a construção feita pelos procuradores desde o início, como eles pressionaram uma juíza de São Paulo até que ela enviasse o caso do Tríplex do Guarujá para Curitiba. Ela enumerou diversas ilegalidade cometidas pelos integrantes da Operação Lava Jato. Os vazamentos seletivos e a cumplicidade da grande mídia na construção da narrativa sobre corrupção fizeram com que qualquer acusação passasse a ter sentido, mas nada tem materialidade, afirmou a advogada.
“Qualquer um de vocês pode ser pego por essa teia de mentiras”, declarou. Quando estava concluindo, Valeska Zanin pediu, “leiam o processo. É importante”. João Pedro Stéldile, MST, chamou atenção para a crise do capitalismo liderado pelo sistema financeiro. Stédile afirmou que o sistema precisa privatizar os recursos naturais, empresas estatais e os serviços públicos para sair dessa crise. Além dessas ações, o sistema tenta retirar direitos dos trabalhadores e criar uma nova ideia de Estado. Promover essas mudanças no Brasil, na visão de Stédile, é fundamental para que o sistema possa colocar o seu plano em prática.
“Lula é o nosso motorista, todos somos passageiros”
O coordenador do MST denunciou que Lula é um das únicas pessoas presas no Brasil que não pode conceder entrevistas. “Lula foi sequestrado pelo capital”, afirmou. Para vencer a luta contra esse governo que representa os interesses do capital, “é preciso atuar nas contradições deles”, convocou Stédile. Na avaliação do dirigente, há um clima político favorável no país para construir os movimentos em solidariedade a Lula. “Precisamos organizar a nossa militância”, disse.
Stédile, porém, fez um alerta e um chamamento a esquerda. Para ele, a criação dos comitês estaduais é de extrema relevância para ajudar a agregar a estratégia pela liberdade de Lula. Porém, é preciso que a esquerda se una e atue de forma homogênea para que todo o esforço funcione: “O comitê estadual tem que agregar todas as forças da sociedade: o povo de igreja, o movimento negro, os indígenas, os movimentos sindicais e os partidos. Porque temos um desvio de DNA na esquerda onde nos metemos nós queremos dirigir. Mas aqui já tem motorista que é o Lula, agora o resto, nós somos passageiros”.
Os depoimentos de quem estava na mesa contagiaram os presentes que se levantaram cantando “Lula livre” e “olê, olê, olá, Lula, Lula”. Nivaldo Orlandi, militante do PCO, acredita ser fundamental a apresentação técnica das arbitrariedades que resultaram na prisão política de Lula. “O que a advogada da equipe jurídica de Lula falou aqui, explicando porque se trata de um julgamento injusto, deixa claro o que se passa de fato no país. Não há qualquer dúvida de
que a democracia estará totalmente comprometida enquanto Lula não sair do cárcere”, avalia.
Por Pedro Camarão e Henrique Nunes, especial para a Agência PT de Notícias