“Contra a ideia da força a força das ideias”
Florestan Fernandes
Nos anos de 1835 a 1840, o Império do Brasil vivia o período regencial, sob o comando de Dom Pedro I, que naquele mesmo período passa o poder regencial ao seu filho de apenas cinco anos. O período do Brasil imperial foi marcado por um conjunto de manifestações populares que reivindicavam principalmente o descaso do governo regencial para com os habitantes que queriam melhores condições de vida e trabalho, sendo esta uma realidade que atingiu o norte do país, também.
No Pará, na época, administrativamente denominado Província do Grão Pará, não era diferente. Os trabalhadores camponeses, urbanos, ribeirinhos, indígenas e negros amargavam a opressão das elites regenciais que, por força de seu governo, exploravam sua mão de obra sem ao menos permitir vida digna. Por décadas, vidas de trabalhadores, indígenas, negros e caboclos foram ceifadas pelo total descaso das elites locais com o povo.
Num estado de profunda penumbra social, relegado à própria sorte, proveniente de uma imposição de subalternização das classes populares paraenses por uma minoria de senhorzinhos, o povo do Pará sonhou que um dia não mais iria aceitar tal escravização social.
Com um sonho construído a lágrimas de dor de açoites sociais, uma bandeira ergueu-se em luta pela liberdade e justiça social, a Cabanagem, manifestação popular jamais vista na história do Brasil. Foi um movimento que reuniu homens e mulheres de diversos grupos sociais como indígenas, negros, trabalhadores campesinos e urbanos, emanados do sonho de uma vida mais digna em solo amazônico.
De lá para cá, após 177 anos, o retrato mudou de paisagem, porém, o contexto social paraense ainda é de enorme exclusão social, tendo uma parcela significativa da população sobrevivendo ao descaso dos governos dos representantes da aristocracia no Pará.
Sabe-se que os dois principais entes políticos, PMDB e PSDB, que atuaram planejando e executando o que foi chamado por eles, pelo judiciário partidarizado e pela grande mídia de “impeachment”, no caso que depôs a presidenta eleita da república, estão conduzindo atualmente juntos não somente o Governo Federal, impondo, ao povo, retrocessos inimaginávies até bem pouco tempo atrás, mas também conduzem, igualmente, o governo do Estado do Pará, com uma política neoliberal, elitista, contrária ao reconhecimento da diversidade social, cultural e ambiental amazônicas.
Essa parceria peemedebista-tucana representou para o Brasil, no pós golpe de estado de 2016, e especificamente no caso paraense, que é o foco deste texto, um rompimento com o primeiro ciclo de desenvolvimento baseado em avanços e conquistas sociais importantes, capitaneadas pelo PT e partidos progressistas, nos seus 13 anos quando governaram o Brasil.
É chegada a hora do sonho do povo cabano ganhar novamente as ruas, estradas e rios paraenses, entoando a luta por liberdade e justiça social. Para tanto, os legítimos herdeiros desse sonho, representados pelo PT, PC do B, Psol, Rede e pelo conjunto dos movimentos sociais, devem juntos construir uma plataforma comum, juntando o que os unem: a defesa da superação das desigualdes sociais; riqueza do solo, florestas e rios; e da salvaguarda do bravo povo paraense-amazônico-cabano, que jamais cansou de escrever sua própria história.
Retomar o sonho dos que tombaram – e continuam tombando nos campo e nas cidades paraenses – deve ser o balizador de um diálogo franco e fraterno entre seus filhos pródigos.
Somente os verdadeiros lutadores e legítimos representantes do povo são capazes de romper com o enfadonho ciclo de favelização pelo qual passa os municípios paraenses.
Essas instituições populares não podem mais permitir que os grilhões das elites, com seus capitães de tribo e do mato, permaneçam levando não apenas sonhos, mas as vidas do nosso povo e da nossa gente.
Somente a unidade dos setores populares será capaz de romper com as amarras da miséria, da fome, da falta de educação de qualidade, da ausência de empregos decentes, de moradia digna, e de decretar o fim do extermínio dos povos indígenas, do meio ambiente e das vidas de jovens negros nas senzalas do século XXI (visíveis nas periferias das cidades paraenses) retiradas pela ausência de empatia na consciência das elites fascistas, escravocratas da Amazônia paraense.
Entoemos o sonho de liberdade e justiça social dos povos do Pará, sob o manto da unidade popular!
Por Cássio Nogueira, Assessor da Liderança do PT Senado, Secretário Estadual de Juventude do PT-PA (2010 – 2013) e Secretário Nacional de Organização da JPT (2014 – 2016)