O desemprego aumenta; prisões são feitas e mantidas ao arrepio da lei; juízes e ministros das altas cortes se manifestam a respeito de processos em andamento; o Congresso Nacional e o STF se degladiam; o desrespeito e a violência cresce entre pessoas de crenças políticas diferentes; e até mesmo restaurantes, hospitais e cemitérios são palcos para ameaças e ataques a cidadãos vivos ou mortos.
Distante da cena de um país que se crê democrático, essa panorâmica mais parece roteiro de filme de ficção. No entanto, essa é hoje a dura realidade brasileira.
Vivemos uma crise econômica e política, manipulada pela grande imprensa que no país defende historicamente os interesses das elites, industrial, agrária e financeira.
O histerismo que se instalou no país contra o PT é alimentado preponderantemente por três segmentos da população: uma parcela deseducada política e culturalmente, alvo fácil da lavagem cerebral feita pela mídia familiar; de grande parte das classes altas com formação conservadora de direita; e de grupos de extrema direita, principalmente jovens influenciados pelo nazi-facismo e por militares da reserva, eternos saudosistas dos anos de ditadura no Brasil.
A crise se agrava pela presença e atuação cada vez mais ousadas destes grupos nazi-facistas, incentivados por partidos de oposição ao governo Dilma.
Não podem receber outra denominação ações como a da bomba atirada no Instituto Lula e o ataque sofrido pelo ministro Mantega, meses atrás, e nesta semana os folhetos apócrifos fartamente distribuídos durante o enterro do ex-senador e ex-presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra, com os dizeres “petista bom é petista morto”.
A estratégia da direita é pregar o ódio contra o PT, Dilma e Lula e uma vez que a turba insana se encontrar no ápice do desvario, joga-los aos leões e assim dar ao povo o que o povo gosta, sangue, porque ele traz a sensação de que a justiça foi feita e o mal extirpado.
O processo histórico, no entanto, é mais complexo e sua evolução não é resultado da criação de culpados unilaterais jogados as feras em arenas montadas.
O PT não é o único responsável pela situação atual. Somos todos. O PT não dividiu o Brasil. Isso é argumento de quem não tem consistência para discutir a crise atual.
O PT tentou, e até certo ponto conseguiu, diminuir a desigualdade de um Brasil dividido, que sempre existiu.
O Brasil das elites proprietárias de casas, terras, iates, automóveis, o Brasil dos brasileiros que conhecem a Europa e o mundo, o Brasil dos que são sempre patrões em qualquer área ou situação.
Do outro lado sempre estiveram os trabalhadores, que só podiam sonhar com o que seu salário pudesse comprar, e ainda conviver com a discriminação, o trabalho escravo, a pobreza, a miséria.
O que mais irrita as elites deste país é que muitas daquelas pessoas que estavam sempre servindo do outro lado do balcão, trocaram de lado.
O que incomoda é que um operário nordestino e uma mulher que enfrentou a ditadura, estancaram o processo de privatização que quebrou o Brasil mais de uma vez durante os governos de Fernando Henrique Cardoso, com a assessoria do hoje ministro do STF, Gilmar Mendes.
Acusar o PT de todos os problemas é oportunismo barato. A discussão que se faz necessária neste momento é entender porque aquele roteiro de filme de ficção do primeiro parágrafo está acontecendo num país democrático e porque uma maioria se mantém silenciosa diante dos gritos de fora PT repetidos por uma minoria ruidosa.
O que é necessário discutir é como cada um de nós pode contribuir para ajudar o país a vencer a crise, a voltar a crescer, a nos respeitarmos mutuamente como cidadãos.
A teoria do quanto pior melhor exercida a cada dia, para colocar a culpa de tudo no PT, na tentativa de facilitar a saída de Dilma não leva a nada de positivo. Apenas aos caos, à insegurança, à guerra civil.
Devemos estar sim, vigilantes, ao funcionamento do Congresso, no porquê homens como o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, acusado pelo governo da Suiça de ter contas ilegais naquele país – já bloqueadas e já informadas oficialmente ao governo brasileiro – ainda continua na presidência da Casa.
Será que os brasileiros vão permitir que um corrupto Eduardo Cunha direcione a votação da sugestão do TCU de não aprovação das contas do governo Dilma em 2014?
Por que a revista Veja não pede a prisão de Eduardo Cunha, mas estampa em sua capa uma imagem de Lula vestido de presidiário? Porque esta é a pauta da direita. Dificultar a vida de Dilma e impedir Lula de ser candidato em 2018.
Eles atuam orquestradamente. Em palestra para empresários em São Paulo, o juiz Sergio Moro, responsável pela Operação Lava Jato, ouviu de mais de um empresário tucano a pergunta – quase afirmação – de que tratava-se de uma questão de tempo o indiciamento de Lula.
Moro respondeu que não havia nada contra Lula na Operação Lava Jato e que portanto, a pergunta não fazia sentido.
Para a elite financeira deste país a teoria do quanto pior melhor, é boa. Os juros subiram muito e eles no lugar de incentivarem investimentos para a geração de emprego, preferem manter o dinheiro parado rendendo dividendos.
Uma pergunta oportuna é por que Moro tem feito tanta palestra para tanto empresário? Que informações tem um juiz do interesse de empresários paulistas e cariocas? Será que eles estão felizes com o aumento das taxas de desemprego ?
Um cálculo da GO Associados estima em 30% a retração nos investimentos de empresas líderes do setor da construção civil que estão sob investigação pela Lava Jato.
O estudo considera que na cadeia de fornecedores da Petrobras houve uma queda de R$ 22,4 bilhões na massa salarial em 2015, uma diminuição de R$ 9,4 bilhões em arrecadação de impostos e uma perda de até 1,9 milhão de empregos.
Enquanto isso, no Congresso, líderes tucanos como Aécio Neves, Aloísio Nunes, e figuras como Eduardo Cunha e seus apoiadores, agem abertamente pelo impeachment a qualquer preço e pela terceira vez boicotam a realização de sessão do Congresso para a votação de pauta importantes como a dos vetos que aumentam gastos públicos.
Para eles a teoria do quanto pior melhor é boa e responde a seus interesses imediatos, contra os interesses do Brasil e dos brasileiros.
Como deputado distrital petista, sou oposição ao governo do Distrito Federal, mas nunca optei pela teoria do quanto pior melhor. Abomino este tipo de comportamento. Faço esforços para a governabilidade do Distrito Federal.
Uma prova disso é que apoiei e aprovamos aqui na Câmara Legislativa 70% dos projetos encaminhados até agora pelo governador Rollemberg para implementar a arrecadação.
A expectativa do governo é de arrecadar 1,7 bilhão. Até agora já autorizamos e o governo já pode contar com 1,2 bilhão para gastos. Esse montante será ampliado com outros projetos a serem aprovados ainda esta semana.
No entanto, quando se trata do interesse público, fico a favor da população. Sempre afirmei que não votaria aumento de IPTU, TLP e SIP acima do previsto em lei.
Cumpro o prometido. Nesta semana propus e todos os deputados concordaram: não vamos aprovar o aumento da TLP em 40%, da SIP (Taxa de Iluminação Pública ) em 32,5% , e do IPTU em 20%, proposto pelo governo. Isso é inaceitável, porque atinge a população como um todo e principalmente os mais pobres.
Neste aspecto devo reconhecer que encima de minha proposta houve um esforço coletivo da Casa, de todos os líderes, para que estes impostos sejam reajustados der acordo com o INPC como previsto em lei.
O não aumento absurdo dos impostos é, portanto, uma vitória da população do Distrito Federal, uma vitória da Câmara Legislativa que demonstra estar em sintonia com os interesses maiores da comunidade.
Este posicionamento demonstra que é possível ser oposição sem ser adepto da teoria do quanto pior melhor. Sou oposição ao governo Rollemberg, mas não sou oposição a Brasília. Sei separar as coisas.
A população e os movimentos sociais devem se unir, ir às ruas e pressionar o Congresso Nacional a agir de acordo com os interesses do Brasil e da maioria dos brasileiros e não em resposta a vaidades pessoais.
Chico Vigilante é deputado distrital e líder do Bloco PT/PRB