Ex-ministro da Saúde no governo Dilma Rousseff, o médico sanitarista Arthur Chioro acusou o governo Bolsonaro de ter abandonado o povo brasileiro na condução da pandemia do Covid-19. Durante reunião do Diretório Nacional do PT, realizado na manhã desta segunda-feira, 1º de junho, o médico alertou que o país tem agora 5 milhões de pessoas contaminadas pela doença e avalia que o Brasil perderá 120 mil vidas, por conta da má condução de Jair Bolsonaro na gestão da crise.
“Num país de dimensões continentais e grande desarticulação do governo federal, há varias pandemias em diferentes situações diferentes no país, neste momento”, advertiu Chioro, durante a videoconferência do Diretório Nacional. “Hoje, há 5 milhões de casos de pessoas infectadas no Brasil. E a baixa testagem continua sendo um grande problema”, denunciou. “O Brasil conduz o enfrentamento da pandemia às cegas”. Chioro é um dos coordenadores do Núcleo de Acompanhamento de Políticas Públicas de Saúde (NAPP-Saúde), órgão de assessoria técnica do PT.
Ele considera um equívoco a possibilidade de um afrouxamento das medidas de isolamento social adotadas pelos estados, mesmo diante das dificuldade de promover um bloqueio, nas grandes cidades. “Nenhuma região do país tem condições de começar um processo de saída do lockdown. É muito prematuro”, destacou Chioro. “É preciso consolidar primeiro a estabilização do número de casos da doença. Países que organizaram a saída só tomaram a decisão depois de duas semanas de números estáveis”, lembrou. E este não é o caso do Brasil. “O afrouxamento não faz sentido neste momento”, ressaltou. “Não pode haver dicotomia entre salvar a vida e retomar a economia”.
O governador do Piauí, Wellington Dias, também reclamou da falta de cooperação do governo federal para controlar a pandemia. “Ao não assumir a coordenação da crise sanitária, o poder central nos coloca numa posição perigosa”, alertou. “Faltam equipamentos e recursos e muitos de nós estamos sendo criminalizados pela compra de equipamentos”.
Governo federal está falhando
Chioro disse que a omissão do governo é grave, porque deixa de lado medidas para manter um controle mínimo na gestão da crise de saúde. Ele lembra que o Brasil fez, no último mês, em média, 4 mil testes por milhão de pessoas, o que é insuficiente para montar uma política pública de controle da doença.
Dos 46,2 milhões de testes prometidos pelo Ministério da Saúde, foram entregues 10 milhões de exames. Outros países têm realizado testagens em massa para a adoção de um planejamento estratégico de combate ao Covid. Mas o Ministério da Saúde foi incapaz de cumprir as próprias promessas para equipar o SUS. No caso de respiradores, pouco mais de 11% dos 14.100 aparelhos foram entregues. Dos 3 mil leitos de UTI que o governo prometeu abrir no SUS, foram entregues 540.
“O governo federal desdenha e o Ministério da Saúde está completamente ausente ou só tem atrapalhado, como quando apresentou o protocolo da cloroquina, para recomendar a adoção de um medicamento cuja eficácia ainda não foi assegurada pela Organização Mundial da Saúde”, aponta Chioro.
O ex-ministro lembrou que o Brasil atravessa neste momento a 23ª semana epidemiológica da doença e ainda está em plana expansão do coronavírus em todo o país. Ele acusou o governo de estar inoperante, dificultando o acesso de governadores e prefeitos aos recursos financeiros para a compra de equipamentos para o enfrentamento da doença.
Faltam equipamentos e testes
No mês passado, o governo anunciou que iria colocar à disposição de governos e prefeituras R$ 29,5 bilhões em recursos novos financeiros do SUS. Mas, na realidade, só foram transferidos até agora as administrações estaduais e municipais R$ 8,5 bilhões. “Falta testagens em massa. Faltam leitos e equipamentos de proteção”, disse o ex-ministro.
A médica Eliane Cruz, do setorial de Saúde do PT, também reclamou que R$ 29 bilhões estão ainda retidos no Ministério da Saúde. “O dinheiro precisa chegar aos estados e municípios”, denunciou. “Os recursos são para a compra de equipamentos, como ventiladores, testes e EPIs”.
Eliane alerta que a militarização do Ministério da Saúde, que o governo vendeu como solução para dar celeridade à compra de equipamentos e interlocução com as secretarias estaduais e municipais de saúde não mudou a realidade. “O ministério, mesmo sob o comando de um general, não compra equipamentos e nem faz o repasse imediato dos recursos para estados e municípios”, adverte.
Da Redação