As eleições municipais mostraram não só para o PT, mas para a esquerda como um todo, que existe uma crise de representatividade política, que se arrasta desde 2013 e foi ficando mais evidente, chegando ao seu ápice agora, com o golpe contra o PT e com as derrotas eleitorais.
Outro fato importante é que, por mais que se combata o PT, ele é fundamental na construção da esquerda. E quando se fala em perda de espaço da esquerda isso é logo associado ao partido.
Mas nada disso aconteceu à toa, e nem foi uma surpresa tão grande (para alguns) perder as eleições. A surpresa maior foi o número de votos nulos, brancos e ausências, somando percentuais de milhões de pessoas. Isso mostra que o PT teve grandes dificuldades de dialogar com as massas, com a classe média que o próprio partido ajudou a ascender e acabamos criando consumidores e não democratas. Isto fica evidente quando você observa jovens que sequer têm desejo de tirar título de eleitor, ou de participar de qualquer ato político orgânico.
De junho de 2013 para cá observo um erro ainda maior, a desestabilização da esquerda, e a união da direita em torno de seu projeto. Capitalizaram as ruas contra projetos progressistas, utilizaram os mecanismos de consumo que criamos, e manipulam a população, com auxílio da grande mídia e do capital econômico que, por óbvio, tem interesses claros em explorar cada vez mais a população e continuar seu projeto de enriquecimento.
Nesse sentido, a luta central da esquerda e do PT deveria estar centrada em uma renovação do sistema político, uma ação de lutas conjuntas respeitando os limites e dificuldades de cada organização, uma política unitária na ação mas que recuperasse o respeito pela política no Brasil.
E este desafio está posto ao PT nesse período de Congresso: entender a conjuntura, apontar novos caminhos e renovar a ação.
Renovar na ação significa também renovar as caras que estão dentro do partido, precisamos de uma nova política não só pra juventude, mas que tenha juventude que pensa e que formula a política, que tem espaços para a construção desse partido que não é novo, mas que pode mostrar que está pronto para mudanças.
Aplicar no partido um sistema de organização partidária mais eficiente, onde as secretarias estejam efetuando programas que estejam propostos, uma rede de gestão da política, atualizada com todos os movimentos sociais integrados, e ainda mais um partido que funcione, organize, mobilize e se comunique.
O PT passa por seu pior momento desde a redemocratização e mesmo assim ainda é o partido que sustenta a base política de esquerda no Brasil. Não há outro caminho para alcançar a democracia que nos foi capturada a não ser trabalho de base, sem demagogia, sentindo o povo do jeito que é, enxergando o que o povo quer. Combater a ideia de que a política não faz diferença, pois é a partir dela que os políticos da direita conservadora continuam crescendo muito.
Por isso neste 6º Congresso, a pauta principal deve estar em uma tática e estratégia para o povo brasileiro, um programa eleitoral e um programa partidário que se encontre com os novos anseios do povo brasileiro. É certo que tomamos um golpe institucional, mas é mais certo ainda que precisamos atualizar nossos programas, porque a era Lula e Dilma criaram novos atores essenciais para disputa política.
A corrupção não nasceu do PT, mas foi fácil demais colocar isso na testa do partido. Por que? É hora de avaliar onde e como erramos, fora das disputas internas do partido, mas sim para aqueles que acreditam nesse projeto, no projeto que fez muito pelo povo e pouco para sua organização interna. O ciclo se encerrou, o PT não acabou, porque o sonho dos petistas não acabou! Mas é preciso humildade para entender o que está por vir.
Por Clareana Cunha, estudante de Ciência Política, Conselheira Nacional de Juventude Militante da Juventude Petista e Assessora da Secretaria Nacional de Mobilização do PT, para a Tribuna de Debates do 6º Congresso. Saiba como participar.