A luta pelo fim do governo Bolsonaro e ações de solidariedade para mitigar os efeitos do novo coronavírus devem continuar sendo o foco principal da Central de Movimentos Populares (CMP) no próximo período. Em plenária virtual realizada na tarde deste domingo (31), a CMP defendeu a necessidade de se intensificar a pressão para derrubar o governo Bolsonaro, somada ás ações de solidariedade no âmbito da Campanha Movimentos Contra Covid-19. Não se trata apenas de afastar o presidente Bolsonaro, para a CMP o desafio é pôr fim ao projeto de privatizações, retiradas de direitos da classe trabalhadora, privatizações e o desmonte de políticas públicas, como o Sistema Único de Saúde (SUS), entre outros.
A luta da CMP pelo fim do projeto representado pela chapa Bolsonaro/Mourão ocorrerá em paralelo às ações pela retomada da democracia e para a implementação de medidas que contribuam para arrecadar recursos para combater a Covid-19, conceder renda e proteger emprego, como o projeto de taxação de fortunas, que a CMP e a Frente Brasil Popular estão defendendo e que devem arrecadar 155 bilhões de reais de recursos que podem ser investidos em políticas públicas voltadas para a população mais vulnerável, nas áreas da saúde, da moradia, da educação e combate à desigualdade social.
A plenária, que teve como tema “Direito à cidade em tempos de pandemia: movimentos populares e territórios resistem”, contou com a participação de 80 dirigentes da coordenação nacional da CMP e representantes de 17 estados onde a CMP está constituída – exceto o Rio Grande do Sul, que não participou da plenária -, além de convidados (as) de entidades parceiras.
Foram convidados para contribuir com o debate Celso Carvalho, ex-diretor do Ministério das Cidades (2004/14) e da coordenação do Projeto BrCidades; Natália Bonavides, deputada federal (PT-RN); e Sérgio Takemoto, presidente da Fenae (Federação das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal).
Antes de passar a palavra para os debatedores (a) Raimundo Bonfim, coordenador nacional da CMP, ressaltou aos participantes que a CMP caracteriza o governo Bolsonaro como um governo dos banqueiros, dos militares, ultra neoliberal, de grupos milicianos e agora do centrão. Bonfim recordou que a CMP foi umas das primeiras entidades a aprovar o mote Fora Bolsonaro. “Sou signatário do pedido de impeachment de Bolsonaro”, afirmou Bonfim, lembrando que a CMP defende não só o afastamento do presidente, mas o fim do governo e que, por isso, a CMP não aceita um pacto por cima costurado pelas elites, deixando de fora a classe trabalhadora.
Bolsonaro, sua polícia neoliberal e os efeitos sociais e econômicos da pandemia da Covid-19 foram temas das intervenções. As ações de solidariedade promovidas pela CMP em prol da população mais pobre foram lembradas pelos participantes, que ressaltaram não se tratar de caridade e sim um valor fundamental da classe trabalhadora. Desde o início da pandemia, a Campanha Movimentos Contra Covid-19 já entregou mais de 92 mil cestas básicas em todo o país, o que corresponde a mais de 1,5 tonelada de alimentos, além de materiais de limpeza e higiene, marmitex e máscaras feitas artesanalmente.
“Já vivíamos crises política, econômica e social, com recordes de trabalhadores na informalidade. A pandemia aprofundou tudo isso; salta mais aos olhos”, destacou a deputada Natália Bonavides. A parlamentar afirmou que o coronavírus chegou com o Brasil tendo à frente “o pior governo possível para lidar com a pandemia”. Ela classificou o governo Bolsonaro como “o melhor amigo do vírus”, lembrando que o presidente deslegitimou governos ao incentivar o afrouxamento de medidas de isolamento social e priorizou interesses de empresários, com a possibilidade de permitir a abertura de comércios não essenciais, protegeu banqueiros e deu “desprezo profundo à nossa população”, ressaltou. Ela defendeu a suspensão dos despejos e de reintegração de posse, entre outras medidas, e disse ainda que lutar pelo “Fora Bolsonaro é uma questão sanitária, de saúde pública”.
“A escolha do dia 31 maio foi simbólico para a realização da plenária da CMP, já que essa é a data do Dia Nacional de Luta por Políticas Públicas com Participação Popular, sempre feita nas ruas, mas neste ano não pôde ser nas ruas como em anos anteriores, com manifestações em todo o Brasil” pontuou Raimundo Bonfim, coordenador nacional da CMP. Bonfim reafirmou o compromisso das lutas históricas da CMP “por moradia digna, direito à cidade, transporte, saneamento básico, educação, saúde”.
O direito à moradia foi lembrado pela deputada Natália como fundamental, especialmente neste momento em que o país atravessa a pandemia do coronavírus. Ela disse que as condições de moradia estão diretamente ligadas ao aumento de letalidade por Covid-19. A deputada Natália repudiou a ideia de que o vírus é democrático, dizendo que depende do lugar onde se mora, da cor da pele. “A letalidade é maior para quem é da periferia. Como cumprir as medidas de higiene, se não tem água? E para ficar em casa, é preciso ter casa”, ressaltou ela, reafirmando que os movimentos de moradia são protagonistas nas ações de solidariedade, com ações concretas e objetivas que têm contribuído para garantir a sobrevivência das pessoas mais necessitadas.
Integrante da equipe dos governos petistas que elaboram e colocaram em prática o maior programa habitacional da história do Brasil, o Minha Casa, Minha Vida (MCMV), Celso Carvalho defendeu, durante sua intervenção na reunião “a ideia de um projeto para a cidade feito com coletivos, movimentos populares, professores, servidores públicos” e outras categorias de trabalhadores. Ele falou sobre o projeto BrCidades, do qual é um dos coordenadores, destacando os principais eixos da projeto, como a função social da propriedade, direito à mobilidade (com tarifa zero, bilhete único, ciclovias, corredores de ônibus), direito à moradia digna, construção de moradia popular para a população de baixa renda, entre outros.
Com vistas às eleições de outubro, Carvalho afirmou que será fundamental construir agendas locais que incidam em candidatos a prefeitos e vereadores que defendam um projeto de participação popular, de combate à desigualdade e aumento de investimento em obras periféricas e territórios mais vulneráveis. Ele afirmou que é preciso apontar, “a partir das eleições, um novo direcionamento, de disputa política na nossa cidade, no nosso país”.
Sérgio Takemoto, presidente da Federação das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae), destacou o papel social que a Caixa tem para o desenvolvimento do país e o falou sobre o desprezo que não só o banco tem sofrido por parte do governo Bolsonaro, mas outras empresas estatais, e as tentativas de privatizar o banco. “A Caixa só tem razão de existir se for voltada para a construção de políticas sociais”, afirmou.
Ao falar sobre a importância da CEF para a concretização de projetos sociais, Takemoto disse que em 2002 o banco tinha 55 mil empregados; no final de 2014, 101 mil empregados (governo Dilma) e hoje tem 85 mil. “Isso prejudica nosso trabalho e demonstra o caminho que esse governo tem para a Caixa”, relatou.
Sobre o projeto de privatização da Caixa defendido por Bolsonaro, Takemoto foi categórico: “significa o fim do Minha Casa, Minha Vida”. O desmonte do MCMV chegou a tal ponto de, praticamente, não há recursos destinados para a execução do projeto. Quando começou, em 2008, e até 2018, o programa teve destinados cerca de 11 bilhões de reais por ano; em 2018 recebeu 4,7 bilhões e, agora, em 2020 tem destinados apenas 2,7 bilhões.
Assim como os demais convidados e membros da CMP que fizeram intervenção, Takemoto defendeu a unidade do campo popular pelo fim do governo Bolsonaro e de todo o projeto que ele representa. “Precisamos estar juntos no Fora Bolsonaro. Não dá mais para conviver com um governo que despreza a classe trabalhadora. Isso pra nós ficou muito claro com o pagamento do auxílio emergencial, que tem levado milhares de pessoas às agências da Caixa, colocando em risco a vida da população e dos empregados. Fazer aquelas aglomerações nas portas das unidades é um crime”, denunciou.
Numa segunda parte da plenária, 11 dirigentes, contemplando as cinco regiões do país, também fizeram intervenções. Ao final, a plenária reafirmou a posição da CMP pelo Fora Bolsonaro, via cassação da chapa ou o impeachment, e deliberou intensificar a campanha pela taxação das grandes fortunas, seguir com a Campanha Movimentos Contra a Covid-19, com a continuidade das ações de solidariedade, além de aprofundar o tema da segurança alimentar e economia solitária, em face do desemprego e da fome que devem, infelizmente, aumentar muito por causa da profunda recessão econômica.
BoslsoDória e seus governos anti democracia
Enquanto a CMP se debruçava a debater os principais problemas do país, na avenida Paulista, em São Paulo, a Polícia Militar de João Doria atacava de forma violenta manifestantes que defendiam a democracia, ao mesmo tempo que protegia fascistas que pregavam a volta do regime militar. “Dória diz que é contra Bolsonaro, porém, seu braço armado protegeu os manifestantes fascistas, disparou bomba e desceu o porrete pra cima de manifestantes que organizaram ato em defesa da democracia”, denunciou Raimundo Bonfim, coordenador da CMP.
Na madrugada do mesmo domingo, uma manifestação de representantes ultradireitistas, do chamado grupo “300 do Brasil”, que apoia Bolsonaro, chocou a opinião pública ao se postarem em frente à sede do Supremo Tribunal Federal (STF), munidos de tochas e símbolos usados pelo movimento pela supremacia branca de racistas americanos do Ku Klux Klan. Os apoiadores de Bolsonaro defendem o fechamento do Congresso Nacional e do STF. “Mais uma prova de que estamos no enfrentamento a um governo ultradireitista, que quer exterminar os trabalhadores e trabalhadoras. Mas isso não vai acontecer porque combateremos sem trégua até derrubar esse governo da burguesia, fascista, racista, misógino, homofóbico e totalmente anti povo”, garante Raimundo Bonfim.
Central de Movimentos Populares