A condução das relações internacionais do Brasil sob a presidência de Jair Bolsonaro (PSL) deve aprofundar a posição traçada pela gestão de Michel Temer (MDB): alinhamento passivo aos países ricos através do bilateralismo, ou seja, retirando o enfoque em blocos regionais no subcontinente e ou com países em desenvolvimento.
As recorrentes mensagens de Bolsonaro a favor dos EUA, incluindo um vídeo em que presta continência para a bandeira do país estrangeiro, são sinais desta linha.
Somam-se a esses gestos as recentes declarações de Paulo Guedes, futuro ministro da Fazenda, sobre o Mercosul. Segundo ele, o bloco não será mais uma prioridade para o Brasil. Além disso, a fala apresentou diversos equívocos sobre o funcionamento do bloco.
Karen Honório, professora de Relações Internacionais na Unila, explica que a visão esposada por Guedes e Bolsonaro pode ser classificada como neoliberal na política externa. Ela alerta, entretanto, para os erros do primeiro em relação ao Mercosul. Segundo ela, esta corrente analisa a diplomacia como viés distorcido.
“Sempre que vai tratar do Mercosul, ideologiza muito. O que chama atenção na declaração é até que ponto está servindo a fins eleitorais do que de fato representa conhecimento do Mercosul. Ele desconhece que a Bolívia não faz parte do Mercosul, a Venezuela está suspensa. Grande parte do comércio do Brasil é de produtos industrializados”, pondera.
Assim, a fala de Guedes sobre a bolivarianização do bloco é insustentável. De outro lado, lembra Honório, as relações comercias do Brasil no Mercosul são superavitárias. A indústria de carros brasileira, por exemplo, encontra grande mercado consumidor no bloco.
Sandra Quintela, integrante da Rede Jubileu Sul e da coordenação do Instituto Política Alternativas para o Cone Sul, indica, portanto, que são os interesses da grande indústria brasileira que Bolsonaro terá de enfrentar se levar a cabo a posição de Guedes. Da mesma forma que terá de enfrentar mineradoras brasileiras se mantiver a linha de afastamento da China.
Ela aposta também que a participação do Brasil nos Brics (bloco que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) será prejudicada, pelo possível afastamento de China e EUA, e afirma que a opção pelo bilateralismo significará uma política externa “de joelhos”, já que, pragmaticamente, é mais razoável negociar com os países desenvolvidos estando em blocos regionais.
“Essa postura bilateral de negociar o Brasil sozinho com a União Europeia inteira: que posições vão prevalecer? Obviamente não serão os nossos. Apesar de ser uma potência, o Brasil é um país periférico do capitalismo global. Não temos as mesmas condições”, afirma.
Jair Bolsonaro ainda não apresentou nome para o Ministério das Relações Exteriores.
Por Brasil de Fato