Uma bem-humorada intervenção durante a gravação de uma reportagem da TV Verdes Mares, afiliada da TV Globo em Fortaleza, durante o carnaval, teve grande repercussão na internet e rebateu o discurso maçante da oposição e de parte da imprensa em defesa de um possível impeachment do governo da presidenta Dilma Rousseff.
O jornalista e bancário Maurício Lima ou Maurição, como é conhecido, deu início à brincadeira e explica que a expressão “meuzovo” é usada no estado do Ceará para rechaçar, com bom humor, algo considerado absurdo. “Me dê dez mil reais, diz um amigo. E o outro responde: dez mil é meuzovo”, exemplifica Maurição Lima, entre gargalhadas.
Dias antes do carnaval, Maurição criou e publicou a frase “Impítiman é meuzovo” em seu perfil no Facebook. Após grande repercussão, decidiu, segundo ele, levar a brincadeira para as ruas.
O jornalista é um dos organizadores do bloco carnavalesco “Arlindo e Voltando”, que desfila nas ruas da capital cearense e seria entrevistado pela equipe da emissora de TV. Assim que soube da reportagem, ele resolveu imprimir três cartazes com a expressão e distribuiu entre componentes do bloco com a intenção de invadir o link da Globo, durante a transmissão. Logo o protesto inusitado viralizou na internet.
“Arrumamos o bloco mais cedo e ficamos esperando”, conta Maurição.
Segundo ele, a manifestação foi uma tentativa de fazer as pessoas respeitarem o direito do povo que reelegeu a presidenta Dilma. Maurição referiu-se às várias tentativas da oposição de derrubar a presidenta legitimamente eleita.
A primeira foi em abril de 2014, quando o senador Mário Couto Filho (PSB-PA) protocolou um pedido de impeachment contra a presidenta, por suposto prejuízo na compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. Recente relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) isenta a presidenta de qualquer responsabilidade nas acusações.
A segunda foi em dezembro, quando o PSDB entrou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com um pedido de cassação do registro das candidaturas de Dilma a de seu vice, Michel Temer (PMDB-SP). O pedido determinava que o senador legitimamente derrotado, Aécio Neves (PSDB-MG), assumisse o mandato como presidente da República, a partir de 1º de janeiro. Durante a diplomação da presidenta, o presidente do TSE, ministro Dias Toffoli, afirmou que não haveria terceiro turno.
A terceira tentativa de golpe veio das mãos de um conselheiro do Instituto Fernando Henrique Cardoso, o advogado do ex-presidente, José Oliveira Costa. Ele contratou o advogado Ives Gandra Martins para elaborar um parecer jurídico, legitimando o impeachment da presidenta. A resposta a essa impostura veio da espontaneidade das ruas.
De acordo com Maurição, a oposição acredita que o PT não tinha o direito de disputar e muito menos de ganhar a eleição. Para ele, foi uma tentativa de encorajar o povo a defender seu voto, ou então “neguinho vai tomar”, brinca.
“Eu apenas criei a frase e o movimento, mas ele está na rua. O pessoal está vendendo adesivo, camiseta, virou página na internet”, ressalta Maurição.
Amiga e colega de Maurício, a bancária Carol Amorim foi uma das pessoas que segurou um cartaz com a frase diante da câmera da Globo. Para ela, o movimento pelo impeachment é uma tentativa de golpe, porque a presidenta foi eleita dentro da lei, em um processo eleitoral legítimo e está governando com os poderes que o povo a concedeu.
“Ela não está infringindo nenhuma lei. Então não há motivos para o impeachment”, afirma Carol.
O poder das redes – No domingo de carnaval, o gestor de marketing e eventos Diego Santos viu a campanha na internet e decidiu levá-la para as ladeiras de Olinda (PE). Cobriu uma caixa de sapatos com um papel com estampa de onça, colou no fundo da caixa um papel com a frase: “Impítiman é meuzovo” e na parte posterior externa da caixa uma ripa de madeira e foi para rua, segundo ele, fazer um “Vox Populi pessoal”, em referência ao instituto de pesquisa.
Diego afirmou que a receptividade foi melhor que a esperada. Segundo ele, 90% das pessoas aplaudiram, incentivaram e o paravam para fazer fotos juntos à fantasia. A ideia foi levada pelo gestor ao bloco pernambucano em que brinca, o “Sai na Marra” e, na terça-feira, segundo ele, havia estandarte de pano com a figura costurada e camisetas.
“O carnaval é uma grande brincadeira e um momento oportuno para expressar posicionamentos”, disse Diego.
Para ele, o movimento pró-impeachment não tem fundamentação jurídica, é um desrespeito ao resultado das urnas e a oposição está deixando de cumprir seu legítimo papel de questionar e cobrar do governo.
“Por mais que a gente discorde dos resultados eleitorais, temos de respeitar o que maioria decidiu”, ressaltou Diego.
De Fortaleza, o movimento “impítiman meuzovo” chegou ao carnaval de rua de Brasília. Membro de um bloco cujo tema é o plebiscito popular constituinte para reforma política, o servidor público aposentado, Afonso Magalhães, aproveitou a ideia dos cearenses e a inseriu no bloco. “Seria um golpe legislativo, eles sonham com isso. É totalmente artificial”, ressalta Magalhães.
Por Guilherme Ferreira, da Agência PT de Notícias