Uma hora antes do horário marcado, a fila já era enorme. O calor que invadiu Paris de uma hora pra outra depois de uma primavera chuvosa não afastou ninguém. Os ingressos, distribuídos gratuitamente, estavam esgotados há tempos, mas muita gente veio tentar uma vaga de última hora.
Às 20h30 dessa terça-feira (25), o teatro Le Monfort, em Paris, não tinha sequer um dos seus mais de seus quatrocentos lugares vazios. “Cartas a Lula” era o nome do evento a reunir a multidão. Leques por toda parte, portas do teatro abertas, o calor era sufocante (ar-condicionado em Paris é artigo raro), mas durante quase três horas ninguém se mexeu a não ser para enxugar as lágrimas.
Dezenas de cartas enviadas a Lula entre abril de 2018 e abril de 2019 foram lidas em francês. Entre declarações de amor, apoio e companhia, partilhas da torcida pelo Corinthians, foram as histórias de vidas transformadas que mais emocionaram. Muitos olhos cheios de lágrimas ouviram relatos de jovens que foram os primeiros da família a entrar na universidade, da casa própria conquistada depois de muito sofrimento, do emprego formal que mudou a vida de toda uma família.
Chico Buarque e Jean Wyllys foram as presenças ilustres da noite, mas quase 40 pessoas leram, interpretaram e dividiram esses relatos com o público.
A plateia tinha muitos brasileiros que vivem em Paris. Estudantes, professores, jornalistas, empresários, trabalhadores, muitos. Desde os que estão aqui por alguns meses, até aqueles que, por diferentes motivos, estão há anos fora do Brasil, mas sem abrir mão da luta por um país melhor.
Os franceses eram também muitos, tanto no palco como na plateia. Alguns viveram no Brasil, outros apenas visitaram, mas muito só acompanham a situação à distância, com preocupação é solidariedade. Eles leram cartas vindas de lugares dos quais mal sabem pronunciar o nome, mas se emocionaram, como nós, com a injustiça que está sendo cometida. Eles também se uniram aos gritos de Lula Livre e Lula, guerreiro do povo brasileiro, puxados pela plateia.
O espetáculo, iniciativa da historiadora Maud Chirio, professora da Universidade de Marne La Vallée, foi dirigido por Thomas Quillardet e teve apoio da Rede Europeia pela Democracia no Brasil (RED.Br). Houve ainda vídeos de cartas lidas por Marieta Severo, Renata Sorrah, Antonio e Camila Pitanga. Até uma versão francesa do samba enredo da noite animou a noite. Ele marcou a partida da Caravana Lula Livre na Europa, que agora vai a Genebra e Bruxelas e visitará diversos órgãos internacionais.
Foi uma noite em todos, de tantos lugares diferentes, estiveram unidos contra a injustiça e as desigualdades do Brasil de hoje. Quem sabe o calor repentino não é um sinal de que somos muitos na luta para que o dia de amanhã seja melhor que o de hoje.