O segundo mandato da presidenta Dilma Rousseff completa 200 dias neste domingo (19), marcado por um período de importantes anúncios, medidas e programas lançados para dar continuidade aos avanços dos 13 anos de gestões do PT. A movimentação, no entanto, não ganhou o devido espaço na grande imprensa brasileira.
Para o coordenador do projeto “Manchetômetro”, João Feres Júnior, há uma escalada da abordagem negativa dos veículos de comunicação sobre o governo, sobre a presidenta Dilma Rousseff e o PT.
O “Manchetômetro”, site de acompanhamento diário da cobertura da política e da economia na grande mídia, é produzido pelo Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (LEMEP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
De acordo com o pesquisador do laboratório LEMEP, atualmente a cobertura da mídia em relação às pautas do governo e da presidenta está mais negativa que na época da eleição, quando já apresentava uma abordagem tendenciosa.
Narrativa dominante – Para o professor aposentado da Universidade de Brasília (UnB) e pós-doutor pela Universidade de Illinois nos Estados Unidos, Venício Artur de Lima, não existe pluralidade e diversidade na mídia brasileira.
“É preciso construir uma narrativa alternativa de contraposição à dominante. Quando você lê a grande mídia, parece que todos os veículos têm o mesmo editor, porque ela fala a mesma linguagem e não se encontra, salvo pequenas exceções, uma narrativa pública alternativa que se contraponha a isso”, destaca.
Venício de Lima explica que a falta de pluralidade e a cobertura enviesada pelos meios de comunicação geram uma população desinformada e uma opinião pública corrompida.
“O pressuposto liberal básico para uma opinião pública independente é que ela tenha uma informação equilibrada, imparcial para fazer o livre confronto de ideias do debate público”, afirma.
Na avaliação dele, não há hoje no Brasil um livre confronto de ideias. “Se o acesso ao debate público é controlado por poucos grupos de forma seletiva, parcial, partidarizada, o que você tem lá na frente é uma opinião pública corrompida”, ressalta.
Para o pesquisador, as pessoas que não têm contato com as políticas sociais do governo só tem a grande mídia para se informar. “Obviamente que isso faz com que elas comecem cada vez mais a achar que o governo é uma porcaria, vaiar a Dilma, esse tipo de coisa”, analisa.
“No longo prazo, a linguagem do ódio e da intolerância que está hoje absolutamente difundida no País, isso com toda certeza, do meu ponto de vista, resulta dentre outros fatores, talvez um dos fatores mais importantes, dessa cobertura enviesada que a grande mídia tem feito”, destaca Venício de Lima.
O professor aposentado da Unb relaciona a cobertura ao fato de grupos econômicos poderosos que controlam as grandes empresas de mídia terem interesses que vão além do seu papel de informar.
“Esses grupos são atores econômicos e políticos. Eles defendem seus interesses e posições políticas e os interesses de seus aliados, sobretudo os aliados no Congresso Nacional, que garantem a permanência da histórica presença desses grupos como concessionárias de emissoras de rádio e televisão, praticamente sem nenhum limite de regulação, sem nenhum limite de propriedade cruzada”, ressalta.
Venício Lima e João Feres concordam que faltou aos governos do PT ações para apoiar a construção de narrativas alternativas.
“O apoio à mídia pública seria uma opção. Num País como o nosso, que naturalizou o sistema privado, é uma alternativa de longo prazo, mas certamente importante para se criar um equilíbrio entre os diferentes sistemas de mídia, o público, o privado e o estatal, como está previsto no artigo 223 da Constituição”, finaliza Venício Lima.
Por Cristina Sena e Luana Spinillo, da Agência PT de Notícias