Antes mesmo de assumir, Jair Bolsonaro já deixava bem claro que seu maior parceiro na geopolítica mundial seria Donald Trump, presidente dos Estados Unidos. Porém, em menos de dois meses de governo, essa suposta “parceria” já começa a mostrar as consequências para o Brasil. A China negocia um acordo comercial de US$ 30 bilhões com os estadunidenses, o equivalente a praticamente todas as exportações agropecuárias do Brasil ao país asiático em 2018, que foi de US$ 35 bi.
“Se o valor for esse mesmo, não tem como acontecer esse acordo a não ser em detrimento do Brasil. E o primeiro produto em que eles recuperariam share é a soja. Depois vem o milho, um produto que o Brasil não exporta para a China, mas poderia estar exportando. Tem que pensar muito em como o Brasil vai agir se houver um acordo”, afirmou o CEO da Aliança Agro Ásia-Brasil, Marcos Jank, em entrevista a Globo Rural.
O negócio de carnes, que já teve as exportações a países árabes afetadas por declarações relativas à mudança de embaixada em Israel, também devem ser afetadas por esse acordo. Hoje o Brasil é praticamente o único exportador para o país asiático e a entrada dos EUA nesse mercado teria graves consequências para a nossa economia.
“Se os americanos entrarem com força no mercado da China, tanto com carne bovina quanto de aves, certamente terá um impacto no Brasil, mas acredito que ainda é muito cedo para avaliar, hoje, em que áreas esse impacto vai se dar. O que dá para dizer é que os volumes são altos”, afirmou Jank.
As vendas de soja para a Rússia também estão ameaçadas, pois o país anunciou que poderá adotar restrições temporárias à importação de soja se os produtores brasileiros não reduzirem a quantidade de agrotóxicos utilizados. Especialistas avaliaram que a medida foi uma forma de pressão política por conta da posição brasileira a respeito da Venezuela, apoiada pelo governo russo.
Entenda a guerra comercial Entre China e EUA
Desde meados de 2018, Estados Unidos e China vêm escalando uma guerra comercial que basicamente consiste na taxação das exportações de um país pelo outro, como forma de proteger seus próprios produtores e industriais. Donald Trump vinha defendendo o combate aos produtos chineses, conhecidos por serem mais baratos, e criou uma série de tarifas contra eles, começando pelo aço e alumínio.
Em julho de 2018, Trump impôs taxa de 25% sobre US$ 34 bilhões de importações chinesas, e, no mesmo dia o país asiático revidou na mesma moeda. A disputa escalou ao longo dos meses, até que foi parar na Organização Mundial do Comércio. Agora, os dois países vivem uma trégua de 90 dias e tentam entrar em acordo, que pode incluir o pacote de compra de US$ 30 bilhões de produtos agropecuários.
União Européia critica Brasil
Como se não bastasse, o comissário de Agricultura da União Europeia falou que “houve retrocesso por parte de países do Mercosul em relação ao acertado em 2017” para o acordo entre os dois blocos, informou a agência Reuters. O retrocesso teria se dado por “razões políticas”, uma vez que a chanceler alemã Angela Merkel, chegou a afirmar que “Jair Bolsonaro tornaria mais difícil alcançar o acordo”.
Da Redação da Agência PT de notícias, com informações do Globo Rural e Reuters