O presidente Lula recebeu na tarde de terça-feira, 26, em Belém, o presidente da França, Emmanuel Macron em sua primeira visita ao Brasil para agendas no Rio, São Paulo e Brasília até quinta-feira.
Ambos participaram de evento com lideranças indígenas na Ilha de Combu, uma das 39 próximas à capital do Pará, onde Macron anunciou investimentos de R$ 5 bilhões na região e condecorou o cacique Raoni, líder da etnia Kayapó e expoente mundial da causa indígena, com a mais alta honraria francesa, a Ordem da Legião de Honra.
Ao anunciar os recursos, Macron indicou seu uso para a biodiversidade e atividades econômicas compatíveis com os interesses dos povos indígenas, que lhes permita perspectivas de desenvolvimento com preservação das florestas.
“Vamos relançar atividades de cooperação e a luta contra o garimpo ilegal e luta contra todos os interesses financeiros que vêm aqui ameaçar a floresta. Queremos preservar, conhecer melhor, ampliar a parceria científica, construir estratégias de apoio aos povos indígenas e investimentos na bioeconomia. Estou confiante nesse Apelo de Belém que estamos lançando”, revelou Macron, ao declarar seu empenho para que a próxima Conferência do Clima da ONU, a COP 30 em Belém no ano que vem seja um sucesso.
“Fico feliz em ver que o presidente Lula protege a Amazônia, é uma causa defendida pelo próprio governo federal. Cada vez que esteve na presidência, Lula levou adiante esse combate e resistência. Decidimos lançar o Apelo de Belém para juntos avançar nesse combate e concretizar o maior parque natural do mundo para que nossos cientistas e institutos de pesquisa possam trabalhar ainda melhor juntos, franceses e brasileiros”, anunciou.
Macron parabenizou Lula, o cacique Raoni, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara e a presidenta da Funai, Joênia Wapichana, pelos atos de resistência para salvar a historia, vida e cultura dos povos indígenas e para salvar também a biodiversidade que, segundo ele, é uma luta por toda a humanidade.
Antes da visita à ilha onde se encontraram com lideranças indígenas, os presidentes Lula e Macron e tiveram um encontro fechado e fizeram uma visita à uma produção artesanal e sustentável de cacau em região de floresta.
Assim como o presidente Lula, Emmanuel Macron postou várias imagens em suas redes sociais e numa delas escreveu: “Unidos pela Amazônia”.
Desmatamento zero, profissão de fé
Lula fez côro com o presidente francês ao declarar que quer compartilhar com o mundo a exploração e a pesquisa da biodiversidade, sempre com o envolvimento dos indígenas em todos os processos.
“Nosso governo é o que mais demarcou terras indígenas e vai continuar demarcando parques e reservas florestais para evitar o desmatamento. Temos um compromisso de até 2030 chegar a zero por cento de desmatamento na Amazônia. Não foi ninguém que pediu. Decidimos que vamos levar a luta contra o desmatamento como uma profissão de fé”, assinalou Lula no encontro com lideranças indígenas que teve a presença do governador do Pará, Helder Barbalho.
Lula reafirmou que os países que já desmataram precisam contribuir para que os outros países mantenham suas florestas de pé e defendeu que o cacique Raoni seja indicado ao Prêmio Nobel da Paz.
Brasil e França querem mercado de carbono
A declaração conjunta assinada pelos governos brasileiros e francês, segundo o site G1, prevê que os investimentos sejam realizados nos próximos quatro anos por meio da colaboração entre bancos públicos brasileiros e a Agência Francesa de Desenvolvimento, além de investimentos privados.
O documento indica diálogos sobre os desafios da bioeconomia; parceria técnica e financeira entre bancos públicos brasileiros, incluindo o BASA e o BNDES, e a Agência Francesa de Desenvolvimento, presente no Brasil e na Guiana Francesa; novo acordo científico entre a França e o Brasil; criação de um hub de pesquisa, investimento e compartilhamento de tecnologias-chave para a bioeconomia; formação de redes de universidades francesas e brasileiras.
Com o Brasil na presidência do G20, será proposto um grande plano de investimento global, público e privado, para a bioeconomia, com direcionamento de investimentos para conservação e no manejo sustentável das florestas e o planejamento e valorização econômica dos ecossistemas e áreas florestais; cursos de capacitação, criação de empregos, manejo sustentável e/ou a restauração das florestas e da biodiversidade.
Brasil e França, segundo o G1, defendem “os mais altos padrões para o estabelecimento de um mercado de carbono capaz de remunerar os países florestais que investem na restauração de sumidouros naturais” e afirmam que a promessa do Artigo 6 do Acordo de Paris de estabelecimento de um mercado de carbono eficaz e regulado pelas Nações Unidas deve ser cumprida.
Cavaleiro da Legião de Honra
“Em nome da República Francesa considere-se Cavaleiro da Legião de Honra”, declarou o presidente Macron ao condecorar o cacique Raoni com Ordem da Legião de Honra, instituída em 20 de maio de 1802 por Napoleão Bonaparte para recompensar méritos civis ou militares à nação francesa.
“Pela sua obra e seu combate incessante e incansável, sua luta por todos os povos autóctones decididamente esse povo teve muita sorte em ter um chefe como você, um cacique tão inspirado”, ressaltou Macron.
Após fazer um relato da trajetória de vida do cacique Raoni, que ainda jovem se tornou embaixador da luta em defesa da floresta “tão cobiçada”, o presidente da França o classificou como sentinela dos territórios que ele e o presidente Lula assumiram como causa.
“Conheço o orgulho do presidente Lula que está ao seu lado e ao lado de todos os povos indígenas, ele que pela primeira vez decidiu nomear uma ministra dos Povos Indígenas encarregada desses assuntos em nível federal”, salientou Macron ao declarar que a República Francesa não só está presente na Amazônia como reconhece e está ao lado do Brasil e do cacique Raoni na defesa da floresta.
Floresta em pé
Após receber a honraria, Raoni lembrou que subiu a rampa do Palácio do Planalto com o presidente e pediu continuidade da luta contra o desmatamento e garimpo e apoio à Funai e à na demarcação das terras indígenas.
A ministra Sônia Guajajara, ao enfatizar que a defesa das florestas é uma agenda global, pediu que os acordos assinados sejam efetivamente implementados a partir de uma responsabilidade compartilhada por todos os países.
Joênia Wapichana reconheceu o resgate da política indigenista com a volta do presidente Lula, denunciou o garimpo e mineração, defendeu as demarcações e a bioeconomia. “As florestas não vivem só. Elas convivem com seus guardiões que são os povos indígenas, que dão sua vida para protegê-la. A melhor política de economia é a floresta em pé”, ressaltou.
Da Redação