Da Redação, Agência Todas
Um estudo conduzido por pesquisadores brasileiros analisou mais de 3 mil municípios e revelou que prefeitas mulheres têm mais sucesso no combate à mortalidade infantil do que prefeitos homens.
A pesquisa foi publicada na revista norte americana Health Affairs e levantou que a mortalidade de crianças de até cinco anos caiu de 25,1 para 13,6 por mil nascidos vivos entre 2000 e 2015. No mesmo período, destaca o estudo, o percentual de prefeitas mulheres saltou de 4,5% para 9,7%.
Uma das principais conclusões é que o aumento da representação política feminina para a saúde infantil impacta não apenas no nível nacional ou estadual, mas também no nível local. O Brasil, como muitos países da América Latina, tem apresentado bons resultados em políticas públicas descentralizadas — resultando na transferência de muitos serviços públicos, incluindo acesso ao sistema público de saúde.
“As mulheres eleitas no Brasil são geralmente mais propensas que seus colegas masculinos a se concentrarem em questões sociais – incluindo saúde, educação, e família – em seu comportamento legislativo. Além disso, as evidências também sugerem que as mulheres eleitas prefeitas no Brasil são mais propensas a nomear outra mulher para liderar a pasta da saúde e, por sua vez, essas outras mulheres são empiricamente mais propensas a apoiar mulheres políticas como as relacionadas a serviços de saúde, creches e cuidados da primeira infância”, aponta a pesquisa.
No Brasil, um outro estudo constatou que os municípios que elegeram prefeitas receberam mais transferências discricionárias federais, tiveram menor níveis de corrupção, contrataram mais funcionários públicos e tiveram maiores taxas de pré-natal.
“Quando falamos da urgência de eleger mulheres também vai além da representatividade. Estamos falando da urgência em construir um mundo mais justo, solidário e sustentável para as atuais e futuras gerações. E os dados comprovam isso”, reforça Anne Moura, secretária nacional de mulheres do PT.
Sandra Kennedy, que foi prefeita entre 2009 e 2012 e hoje é vereadora em Registro, no interior paulista, é um dos exemplos de sucesso no combate à mortalidade infantil. Em entrevista à DW Brasil, ela faz menção a outra mulher para falar de sua gestão: a médica sanitarista Maria Cecilia Dellatorre, secretária de Saúde de sua gestão. “Foi sob o trabalho dela que logramos êxito nos cuidados de saúde, ampliando acesso fundamentalmente”, comentou.
Mulheres impulsionaram políticas como Bolsa Família e Estratégia Saúde da Família
O estudo revelou também que o aumento da representatividade de mulheres na política está associado a aumentos de cobertura em programas de transferência de renda — no caso, o Bolsa Família. Além disso, eleger uma prefeita estava significativamente associada a um aumento de 1,9% na cobertura do Estratégia Saúde da Família (ESF) dentro de um município. Outro elemento importante foi o papel das deputadas estaduais eleitas: a pesquisa revelou que o aumento no percentual de mulheres eleitas para a legislatura estadual (de 0 a 9 por cento a 20 por cento ou mais) está relacionado a um aumento de 4,2% na cobertura da ESF, uma política de assistência médica garantida pelo SUS; já no caso das deputadas federais, o aumento na porcentagem de mulheres eleitas para a Câmara dos Deputados (0 a 9 por cento a 10 a 19 por cento) foram associados com um aumento de 1,2% na cobertura do ESF.
De acordo com o estudo, a relação entre mais mulheres na política e saúde infantil pode envolver vários caminhos, além das relações apontadas — que podem incluir melhorias no acesso e na qualidade da educação entre as mulheres, participação feminina na força de trabalho e autonomia financeira.
Os efeitos positivos do empoderamento político das mulheres também impacta na melhoria do acesso a métodos contraceptivos e pode levar ao aumento da idade no início casamento e reduzir a gravidez na adolescência, resultando em nascimentos saudáveis e declínios na mortalidade infantil. A pesquisa também faz referência a outros estudos que mostraram como o aumento da igualdade de gênero e no empoderamento político estão associados a mais assistência pré-natal visitas e vacinas.