Pouco adiantou os alertas de cientistas e especialistas da área de saúde, feitos de modo exaustivo, sobre como aglomerações em praias e bares, viagens e festas de fim de ano resultariam em uma explosão de casos e mortes por Covid-19 no país. O descontrole da pandemia agravou-se já na primeira semana do ano. A aceleração das infecções e mortes colocou o Brasil novamente na casa dos mil óbitos por dia.
Nesta quarta-feira (6), o consórcio de veículos de imprensa registra 197.956 óbitos e 7.825.616 infecções por coronavírus. O balanço de 20h de terça-feira (5) aponta 1.186 mortes em 24 horas. A média móvel atingiu 723, a maior desde antes das festas de fim de ano. No levantamento dia anterior, foram foram 1.248 diárias, encostando no pico de agosto, quando o país perdeu 1.271 pessoas em apenas um dia.
“A equação brasileira é a seguinte: ou o país entra num ‘lockdown’ nacional imediatamente, ou não daremos conta de enterrar os nossos mortos em 2021”, resumiu o neurocientista e coordenador do Comitê Científico do Consórcio Nordeste, Miguel Nicolelis, em sua conta no Twitter. Ele citou o exemplo da Inglaterra, que mergulha em um terceiro ‘lockdown’ para evitar a propagação de uma nova cepa do coronavírus que é mais transmissível.
“Até Boris Johnson se rendeu aos fatos”, aponta Nicolelis. “Por aqui, a palavra ‘lockdown’ virou palavrão para gestores. Tanto melhor para o coronavírus que se beneficia da inoperância, omissão e ignorância rampantes”, criticou o cientista.
Caos no Amazonas
A pandemia voltou a devastar o estado do Amazonas, que decretou o fechamento de serviços não essenciais. Em Manaus, a situação agravou-se de tal modo que contêineres refrigerados foram novamente colocados fora dos principais hospitais para armazenar corpos, repetindo a tragédia ocorrida em abril, quando cemitérios ficaram superlotados e valas foram abertas para o enterro das vítimas.
“O caos voltou ao sobrecarregado sistema de saúde de Manaus”, relata reportagem da ‘Reuters’. Segundo a agência, as unidades de terapia intensiva de hospitais privados atingiram 100% de ocupação nesta semana, aumentando a pressão sobre a rede pública, já no limite: 92% dos leitos estão ocupados. No Rio, autoridades fazem o caminho inverso. A secretaria de Saúde pretende contratar 100 leitos de enfermaria e 50 de UTI da rede privada. O estado ruma para meio milhão de contágios – são 443.607 casos e 25.837 óbitos.
Ao contrário do Brasil, onde o presidente Jair Bolsonaro prefere arriscar a vida da população, aglomerando-se com seguidores na praia, em países da América Latina que também assistiram a um crescimento da pandemia nas últimas semanas, autoridades começaram a impor novas restrições para a circulação de pessoas, a exemplo de Argentina, México e Colômbia.
“O risco de que tudo volte a ficar paralisado existe e ninguém na Argentina quer que isso ocorra”, alertou o presidente argentino, Alberto Fernández, que se disse ainda preocupado com as aglomerações entre jovens, responsáveis por contaminações de familiares idosos. Fernández estuda impor um novo toque de recolher no país nos moldes do que foi decretado em março, ainda no início do surto. Apesar da alta incidência de casos – mais de 1,7 milhão de infecções – o sistema de saúde encontra-se fora de perigo, com uma ocupação de leitos de UTI de 53%.
De acordo com o diário ‘El País’, o governo mexicano México fechou as regiões mais afetadas pela pandemia. Atividades não essenciais estão suspensas desde dezembro na Cidade do México, cujos hospitais sofrem com a pressão por leitos de UTI e trabalham no limite de 90% da capacidade. Já a capital colombiana Bogotá impôs um duro toque de recolher que vai de 20h às 5h. Além disso, Argentina, México, Costa Rica e Chile já começaram a imunizar suas populações, enquanto o Brasil permanece longe de ao menos ter uma data para o início da vacinação.
Da Redação, com informações de ‘El País’ e ‘Reuters’