O Brasil ultrapassou as 88 mil mortes por coronavírus e e já encosta na casa dos 2,5 milhões de infectados. Nesta terça-feira (28), o consórcio de veículos de imprensa registrou 88.017 óbitos e 2.455.905 casos da doença no país. À mercê da pandemia, a população brasileira continua desassistida pelo presidente Jair Bolsonaro. De acordo com a última edição do boletim do Conselho Nacional de Saúde (CNS), mais da metade dos R$ 39,2 bilhões disponíveis para o combate à Covid-19, R$ 21 bilhões, ainda estão parados no Ministério da Saúde. O ministro interino da pasta, General Eduardo Pazuello, não apresentou explicações para a demora no repasse do dinheiro.
“A falta de agilidade na execução dos recursos disponíveis é gravíssima e tem relação com a quantidade crescente de mortes e avanço da doença no país”, afirma o coordenador adjunto da Comissão Financeira do CNS, Claudio Ferreira do Nascimento. O conselho vem alertando a sociedade para a gravidade da omissão do governo federal desde abril, quando passou a acompanhar a execução orçamentária das verbas destinas a estados e municípios para o combate à pandemia.
De acordo com a comissão, R$ 14 bilhões deveriam ser destinados para melhoria da oferta dos serviços hospitalares e de atenção básica à saúde. Ainda de acordo com o conselho, também quase R$ 7 bilhões dos recursos previstos no orçamento para aplicação direta do Ministério da Saúde no combate ao Covid-19 também estão parados. “Isso quer dizer que 63% do recursos disponíveis ainda não se transformaram em pedidos de compra de respiradores, máscaras e outros itens necessários para a população, para os trabalhadores da saúde e para equipar as unidades de saúde pelo Brasil”, denuncia o Conselho Nacional de Saúde.
De acordo com o relatório, depois de cinco meses de pandemia, o país paga o preço pela falta de uma coordenação nacional no enfrentamento da pandemia, em especial no planejamento integrado de ações junto aos gestores estaduais e municipais. “O que se deixou de fazer pela falta de recurso não será recuperado. Além disso, é inviável administrativamente executar um montante para vários meses, em poucos dias, especialmente nas localidades menores”, explica Francisco Funcia, consultor técnico do conselho. Ou seja, mesmo que agora o governo libere todo o dinheiro de uma vez, os danos em razão da negligência de Bolsonaro e Pazuello são irreversíveis.
Sabotagem criminosa
A política de sabotagem deliberada do governo ao combate à pandemia parece ter se intensificado a partir da nomeação de Pazuello. Equipamentos de proteção e respiradores, assim como medicamentos e kits para testes de diagnóstico, não chegam a hospitais de rede pública por esforço do Ministério da Saúde. Segundo reportagem do Estadão, a ata de reunião do Centro de Operações de Emergência da pasta, de 17 de junho, indicava que o governo deveria deixar claro que o ministério “não tem a responsabilidade de fornecer respiradores e EPI (equipamentos para proteção individual)”.
“Isso ocorreu devido a atual conjuntura da emergência e a falta de atendimento no mercado, porém hoje já estamos com um panorama mais estabilizado possibilitando aos Estados usarem suas verbas destinadas a esta emergência para aquisição”, aponta o documento do centro de operações.
Falta de respiradores
Desde maio, o ministério vinha recebendo alertas sobre a falta de medicamentos fundamentais para tratamento da doença nas UTIs da rede pública, como sedativos e analgésicos usados na intubação de pacientes considerados graves. Uma semana antes da reunião, Bolsonaro afirmou que o país não havia perdido muitas vidas em decorrência da falta de respiradores mecânicos ou mesmo de leitos de UTIs.
“Eu desconheço. Raríssimas pessoas faleceram por falta de UTI ou respirador. Os que faleceram, em grande parte, eram pessoas que tinham comorbidades, eram fracas. Logicamente, tinham mais tempo de vida. Esse vírus abreviou a vida delas, mas não houve mortes por falta de atendimento”, disse o presidente. Não demorou muito para que ele fosse desmentido pelos fatos.
Ao contrário do que o presidente declarou, o UOL encontrou diversos registros de familiares e profissionais de saúde que relatam ter perdido pacientes por falta de acesso a leitos em UTIs ou a equipamentos básicos nos hospitais, descreveu reportagem do portal, em 18 de junho. “Anunciam que tem leito, respiradores, remédios, centros de [tratamento para] Covid, mas não conseguimos em nenhum momento ter acesso a uma estrutura para meu pai ter mais chances de vida”, relata o filho do taxista José Chaves, 63 anos, que acabou falecendo em função da doença no Hospital de Emergências de Macapá, no Amapá.
“Eles alegavam que estavam lotados, tanto que fomos para uma lista. Meu era o 35º da fila”, relata. “É assustador. Morreram cinco ao nosso lado ao longo desses dias. Meu pai via aquela situação e se desesperava, ficando muito nervoso. Parecia que alguma uma hora seria a nossa vez”, descreveu.
Da Redação, com agências