Apesar de defender que suas medidas impopulares visam melhorar a economia, o golpista Michel Temer só conseguiu piorar o cenário econômico do Brasil depois que usurpou a presidência. Em dezembro de 2016 o investimento privado alcançou o menor valor desde 2000 e o país fechou o segundo trimestre de 2017 com desemprego de 13,3% da população, o que equivale a 13,7 milhões de pessoas.
O número de trabalhadores formais caiu, aumentando principalmente as vagas sem carteira assinada e o trabalho por conta própria. O país já encerrou o 1º trimestre com um encolhimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 0,4% em relação ao mesmo período do ano anterior. Com o cenário árido na economia, o número de consumidores inadimplentes chegou a 61 milhões, recorde da série histórica.
Para completar, algumas linhas de crédito estão ficando mais caras após a redução da taxa básica de juros pelo Banco Central.
De acordo com estimativas levantadas pelo Centro de Estudos do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Cemec) para o jornal Folha de S.Paulo, a taxa de investimento do setor privado (empresas e famílias) caiu de 19% em 2013, ponto mais alto dos últimos anos, para 13,7% do PIB em dezembro de 2016, o pior nível desde 2000. Já o investimento público caiu de 3,2% do PIB em 2010 para apenas 1,8% ao final de 2016.
O resultado do PIB, que chegou a ser alardeado pelo governo como melhora, por conta da análise em comparação com o trimestre anterior (aumento de 1%), definitivamente não tem nada a ser comemorado. É o que avalia a economista e professora da UFRJ, Esther Dweck, em entrevista exclusiva para a Agência PT.
“Não é motivo para comemorar. Foi uma questão inteiramente puxada pelas exportações e pelo setor agropecuário, ou seja, nenhuma relação com política econômica, com nada vigoroso. Se você olhar o consumo das famílias e o investimento, os dois continuaram caindo”, explica Dweck.
A economista não acredita na recuperação que o governo tenta fazer crer. “O mercado interno está completamente parado, nem as empresas querem investir e nem as famílias querem consumir. Temos uma economia deprimida, sem perspectiva de recuperação mais vigorosa. No máximo poderíamos dizer que chegamos ao fundo do poço. Mas chegamos mesmo? O governo acha que agora vai. Nós não apenas achamos que não vai, como pode cair ainda mais um pouco”.
Os indicadores são muito ruins quando se analisa as ações do governo, na opinião de Dweck. “Em vez de adotar medidas para estimular a economia e compensar um pouco o setor privado, que está completamente deprimido – consumo das famílias e investimento caindo – caberia ao governo fazer compensação nisso. O setor público, que pode atuar de forma anticíclica, deveria aumentar seus gastos, mas a gente está vendo o contrário”.
Perspectivas
Segundo Esther Dweck, no médio prazo as reformas propostas por Temer devem piorar ainda mais a economia. “Seja a reforma da Previdência, seja a trabalhista, que talvez é a mais grave de todas. Ela vai simplesmente acabar com o trabalho decente no Brasil, no conceito da OIT (Organização Internacional do Trabalho), que é aquele com uma proteção efetiva. Com isso, vai decaindo ainda mais a renda das famílias”.
Para a economista, o grande objetivo da reforma trabalhista não é gerar emprego, mas reduzir a participação do salário no PIB. “Mais de 22 milhões de empregos foram gerados nos governos Lula e Dilma sem precisar mexer na legislação trabalhista. O que gera emprego é desenvolvimento econômico”.
“No fundo, é para entrar no conflito distributivo. De 2004 a 2014, tivemos uma ampliação da participação do salário no PIB. Isso significa que trabalhadores tiveram aumento de renda maior que os empresários. Aumentou a participação do salário no PIB, ou seja, relativamente diminuiu a participação de lucro e juros”.
Dweck avalia que o processo de manter a economia tem como objetivo quebrar a força da distribuição de renda. “No fundo é mais para tirar a renda do trabalhador. E isso piora o crescimento econômico porque você tira a renda de quem vai comprar e fazer a economia girar”.
Desemprego com precarização
O país fechou o trimestre encerrado em maio com 13,7 milhões de pessoas sem emprego, o que representa 13,3% da população em idade de trabalhar. A taxa de desemprego estava em 13,2% no trimestre imediatamente anterior, finalizado em fevereiro.
Apesar de a taxa se manter praticamente estável, a qualidade do emprego piorou no país, com a substituição de postos de trabalho com carteira assinada por postos informais. O número de trabalhadores formais caiu em 479 mil, no 12º trimestre consecutivo de queda, batendo novo recorde negativo desde o início da pesquisa do IBGE, em 2012, chegando a 33,2 milhões.
O único aumento no setor privado foi sem carteira assinada, com 221 mil pessoas a mais em relação ao trimestre anterior, equivalente a 2,2%, além de 329 mil postos no setor público, ou 3% no número de empregados. O trabalho por conta própria aumentou 1%, com 216 mil pessoas a mais trabalhando como autônomos (motorista de Uber, por exemplo).
Inadimplência e crédito caro
Em abril o número de inadimplentes era pouco mais de 60 milhões. Em apenas um mês, 900 mil pessoas entraram para esse grupo, que subiu para 61 milhões de pessoas – quase metade da população adulta do Brasil. Trata-se do maior número da série histórica iniciada em 2012, de acordo com o Indicador Serasa Experian de Inadimplência do Consumidor.
Nesse cenário, o custo médio do crédito pessoal cresceu 3,4 pontos percentuais entre abril e maio, segundo dados do Banco Central (BC). Tomar um empréstimo agora custa 132,6% ao ano para pessoas físicas, em média. Isso ocorre porque os bancos temem um número maior de calotes da população desempregada, ainda que o BC tenha reduzido a taxa Selic de 14,25% para 10,25% ao ano. Esta medida supostamente deveria puxar os juros para baixo.
Por Pedro Sibahi, da Agência PT de notícias