Partido dos Trabalhadores

Com voto do PT, Câmara revoga Lei de Segurança Nacional

Parlamentares do Partido dos Trabalhadores destacam que na nova lei movimentos sociais não serão criminalizados, como vem ocorrendo desde o golpe de Estado e ultimamente no governo de Bolsonaro

Agência Câmara

Plenário físico e virtual da Câmara dos Deputados

Com o voto favorável do PT, a Câmara aprovou na noite desta terça-feira (4) o projeto de lei (PL 6764/02), que revoga a Lei de Segurança Nacional e acrescenta no Código Penal vários crimes contra o Estado Democrático de Direito. O texto aprovado na forma do substitutivo da relatora, deputada Margarete Coelho (PP-PI), cria um novo título no código para tipificar dez crimes em cinco capítulos. Entre eles os crimes de interrupção de processo eleitoral, fake news nas eleições e atentado a direito de manifestação.

Assim, por exemplo, no capítulo dos crimes contra a cidadania, fica proibido impedir, com violência ou ameaça grave o exercício pacífico e livre de manifestação de partidos políticos, movimentos sociais, sindicatos, órgãos de classe ou demais grupos políticos, associativos, étnicos, raciais, culturais ou religiosos. A pena é de 1 a 4 anos de reclusão, mas aumenta para 2 a 8 anos se da repressão resultar lesão corporal grave. No caso de morte, vai para 4 a 12 anos. O texto segue para apreciação do Senado.

Ao encaminhar o voto favorável do PT, o deputado Paulo Teixeira (SP), que é autor do projeto de lei (PL 3864/20), que tramitou apensado ao PL 6764/02, afirmou que era fundamental a revogação da Lei de Segurança Nacional e a construção de uma lei em defesa do Estado Democrático de Direito. “Nós queremos revogar essa lei porque é inadmissível que se possa, a partir de uma Lei de Segurança Nacional, perseguir os adversários, os opositores, como é feito hoje pelo atual governo, que já instaurou 100 inquéritos”, afirmou, citando que foram os casos do ativista Felipe Neto, do Rodrigo Pilha, do Guilherme Boulos e, agora, o caso da Sônia Guajajara.

“Todos os opositores do governo são perseguidos pela Lei de Segurança Nacional, e é por isso que ela precisa ser revogada. É um entulho autoritário! Ela foi aprovada na ditadura militar e tem servido hoje para perseguir os opositores de um presidente autoritário, que tem um projeto ditatorial”, defendeu o deputado.

Paulo Teixeira explicou que o texto aprovado compreende que os movimentos sociais fazem parte da defesa do Estado Democrático e pune aqueles que queiram extinguir a democracia e suas instituições. “Durante toda a construção do texto houve uma preocupação do Partido dos Trabalhadores com a proteção dos movimentos sociais e com o direito à manifestação. Foi um avanço, conseguimos assegurar na lei que eles (movimentos sociais) não podem ser criminalizados”, frisou.

O deputado ainda citou que a sua proposta – que tem como coautores os deputados João Daniel (PT-SE) e Patrus Ananias (PT-MG) -, incorporada no parecer da relatora, foi elaborada com a contribuição dos juristas Lenio Streck, Pedro Serrano, Juarez Tavares, Carol Proner, Eugênio Aragão, Fernando de Deus, Marcelo Cattoni e outros.

Entulho da ditadura

O deputado Leo de Brito (PT-SP) considerou fundamental a aprovação da matéria neste momento. “A revogação da famigerada Lei de Segurança Nacional é urgente. Nós não podemos ter mais esse verdadeiro entulho da época da ditadura militar vigorando e sendo utilizada para perseguir, sobretudo, inimigos políticos do atual presidente da República. Nós todos devemos considerar a defesa do Estado Democrático de Direito sagrada, e este Parlamento, que um dia já foi fechado, deve prezar por isso. Não vamos ter mais manifestações a favor de AI-5, da intervenção militar, da ditadura, porque o Brasil é uma grande democracia, e nós precisamos consolidá-la”, argumentou.

O deputado Alencar Santana Braga (PT-SP) também enfatizou que era preciso acabar com a Lei de Segurança Nacional, “que ainda vem da época sombria (ditadura) que este País viveu, e que alguns ensaiam, estimulam condutas para que volte e defendem como se aquilo fosse o melhor dos mundos, como se aquele período fosse democrático, não tivesse sido violento. Com base nessa lei, muitas pessoas foram punidas, injustamente”, afirmou.

Ele considerou o texto aprovado um novo marco condizente com o Estado democrático. “O Judiciário vai ter melhores parâmetros para poder agir quando provocado. Não é justo que legislações como essas ainda sejam utilizadas. Por exemplo, foram usadas por policiais militares do Distrito Federal para prender um ativista, o Rodrigo Pilha, que se manifestava contra o genocida presidente Bolsonaro. Ele foi preso de maneira ilegal. Assim entendeu o próprio delegado da Polícia Federal, mas os policiais militares se acharam no direito de enquadrar um simples ato democrático como uma afronta à Lei de Segurança Nacional”, citou.

Depoimento de Vicentinho

Ao defender a revogação da Lei de Segurança Nacional, o deputado Vicentinho (PT-SP) deu um depoimento pessoal, de quando era jovem sindicalista e vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. “O Jair Meneguelli era o presidente, o ditador João Batista Figueiredo editou o Decreto 2.012, que dizia que os operários poderiam receber, no máximo, até 80% da inflação. Meneguelli ficou indignado, disse que o Figueiredo era um canalha, e ele foi enquadrado na Lei de Segurança Nacional. Eu fui ser testemunha do Meneguelli e não saí de lá como testemunha, saí como indiciado. Fui também condenado, enquadrado na Lei de Segurança Nacional”, contou.

No julgamento, continuou Vicentinho, o Meneguelli foi absolvido e ele foi condenado pelo Tribunal Militar a 1 ano e meio de prisão. “Não fosse a capacidade do nosso advogado Luiz Eduardo Greenhalgh e a decisão soberana do Supremo Tribunal Federal, eu teria cumprido aquele ano de prisão pelos militares. Ditadura militar nunca mais! Lei de segurança militar nunca mais! O que fizeram com tantos, inclusive com o presidente Lula e outros dirigentes naquele período, o que estão fazendo agora com várias pessoas que ousam falar a verdade, protestar, denunciar esse genocida Bolsonaro, que inclusive usa as Forças Armadas para os seus interesses pessoais”, desabafou.

Urgência para o Pronampe

A Câmara aprovou também nesta terça-feira o regime de urgência para a tramitação do projeto de lei (PL 5575/20) do Senado, que torna permanente o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) como política oficial de crédito para o setor. A deputada Erika Kokay (PT-DF) argumentou que a proposta é importante para dar estabilidade e valorizar um setor que é fundamental tanto para a geração de emprego quanto para o desenvolvimento do País.

Foi aprovada também a urgência para o PL 3430/19, da deputada Leandre (PV-PR), que considera como de interesse social ou de baixo impacto ambiental a intervenção e a implantação de instalações necessárias à preservação de nascentes.

Do PT na Câmara