A partir de 1º de janeiro de 2025, o Banco Central (BC) terá um novo presidente por quatro anos: o economista Gabriel Galípolo. O nome dele foi aprovado na noite desta terça-feira (8) pelo plenário do Senado com 66 votos favoráveis e apenas cinco contrários, tendo contado inclusive com apoio irrestrito do PT no Senado.
O economista vai substituir o atual presidente da instituição, Roberto Campos Neto. Galípolo ocupa atualmente o cargo de diretor de política monetária na autarquia. Antes disso, foi secretário-executivo do Ministério da Fazenda, em 2023, no início da gestão de Fernando Haddad.
Nas redes sociais, o senador Humberto Costa (PT-PE) celebrou a escolha de Galípolo como novo presidente do BC.
“Galipolo é um jovem e competente economista, um sopro de renovação ao Bacen, que vai ajudar o Brasil a construir uma economia mais competitiva, mais justa e mais inclusiva para o nosso povo. Parabéns pela enorme vitória”, elogiou o senador.
Leia mais: Empresários e trabalhadores se unem nas críticas à decisão do BC de subir os juros
Mais cedo, o economista havia passado por uma sabatina que durou 5 horas na Comissão de Assuntos Econômicos, onde teve seu nome aprovado por unanimidade. O parecer favorável à indicação de Galípolo para o cargo foi apresentado pelo líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA).
“O seu currículo […] revela o alto nível de qualificação profissional, a sua larga experiência em cargos públicos e a sua sólida formação acadêmica, com a devida capacitação em assuntos econômico-financeiros”, disse o parlamentar.
Ao abrir a sabatina, Galípolo destacou ter recebido a garantia do presidente Lula de que terá liberdade na tomada de decisões do BC.
“Toda vez que me foi concedida a oportunidade de encontrar com o presidente Lula, me foi dada a garantia de liberdade na função. Cada ação e decisão deve se pautar no bem-estar de cada brasileiro. Reitero que todas as conversas que tive com senadoras e senadores foram no sentido de assegurar o compromisso com os cidadãos brasileiros”, afirmou o agora presidente eleito da autoridade monetária.
Leia mais: “BC tem que ter meta de crescimento também”, defende Lula, em entrevista na PB
A autonomia do Banco Central em relação ao governo federal é garantida pela legislação, que estabelece mandatos aos diretores e ao presidente da instituição que não coincidem com o período de mandato do presidente da República.
Quanto à inflação, Galípolo destacou que esse é um compromisso permanente do BC.
“A bola em que o Banco Central tem que estar de olho é a inflação. O que isso sugere ao BC? Que a gente deve assistir a um processo de desinflação mais lento e mais custoso. Como à instituição não cabe correr risco, a função dele é ser mais conservador, para garantir que a taxa de juros esteja no patamar necessário para se atingir a meta que foi definida”, disse.
O tema também foi tratado durante questionamentos feitos pelo líder do governo no Congresso Nacional, Randolfe Rodrigues (PT-AP). O parlamentar destacou o aumento da nota de crédito do Brasil, divulgado pela agência norte-americana de classificação de risco Moody’s. O senador também questionou o motivo de especialistas lamentarem a melhora do grau de investimento do país.
Em resposta, Galípolo afirmou que a economia estar crescendo não é uma notícia ruim.
“Nosso mandato é buscar a meta de inflação, com uma economia que vem mostrando uma pujança maior que o que a maior parte dos economistas esperava na virada do ano. Isso não é uma notícia ruim, que a economia vem crescendo. A questão é como a gente consegue ter esse crescimento de maneira sustentável e que o crescimento da demanda venha acompanhado do crescimento da oferta, para que isso não se reverta em inflação e, eventualmente, em uma corrosão do poder aquisitivo das pessoas”, disse.
Leia mais: O jugo dos juros: a asfixia da economia brasileira
Na mesma linha, o senador Rogério Carvalho (PT-SE), ao falar sobre os preços administrados no Brasil, como os combustíveis, afirmou que a reindexação de preços administrados na economia trouxe inflação estrutural para o país.
O parlamentar lembrou que o Banco Central hoje conta com autonomia consolidada e que a política monetária da instituição deve estudar as variáveis econômicas, mas também “ficar de olho” nos elementos estruturais que levam ao aumento da inflação.
Elogios e questionamentos
Durante a sabatina, integrantes do PT no Senado elogiaram a capacidade do economista para atuar na função, além de levantarem temas caros para o país.
A senadora Teresa Leitão (PE), por exemplo, questionou Galípolo sobre o papel do Banco Central na promoção de políticas sustentáveis e sobre suas propostas para integrar questões ambientais nas decisões de políticas monetárias e no controle dos riscos financeiros associados às mudanças climáticas.
Em resposta, Galípolo afirmou que os maiores bancos centrais do mundo fazem reuniões regulares e existem divergências sobre o quanto isso deveria ser incorporado às instituições. O economista também afirmou que o BC está atento ao tema, colaborando com o governo federal.
“Vejo para o Brasil uma grande oportunidade de se firmar como um polo [de sustentabilidade]. O Brasil tem tanto uma segurança alimentar quanto energética, contando com uma matriz energética mais limpa. Esse custo de transição seria menor, em um mundo em que você corre o risco de ter várias pressões inflacionárias”, apontou o economista.
Já o senador Paulo Paim, ao mencionar a catástrofe climática no Rio Grande do Sul, falou sobre a oferta de crédito para os estados. Paim questionou o agora presidente eleito do BC sobre de que forma a autoridade monetária pode desenhar uma política que ajude a estimular o investimento privado em infraestrutura sem gerar pressão inflacionária ou causar desequilíbrio macroeconômico nacional.
“A regularização para obtenção de financiamentos é um tema importante. Toda a parte operacional do BC já identificou onde está o problema que foi levantado aqui. Há um processo de dificuldade de regularização justamente por falta de braços nos estados. Estudamos alternativas, dentro do BC, para saber como agilizar o processo e não penalizar o produtor, o que ocorre muitas vezes pela dificuldade do tempo de se ter a obtenção de que se está regularizando a área”, respondeu o indicado à presidência do BC.
Currículo
Gabriel Muricca Galípolo é formado em Ciências Econômicas e mestre em Economia Política pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Em 2009, fundou a Galípolo Consultoria, da qual foi sócio-diretor até 2022. Entre 2017 e 2021 foi presidente do Banco Fator.
Além de membro dos conselhos Superior de Economia e de Infraestrutura, ambos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), é Pesquisador Sênior do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI).
Entre os anos de 2006 e 2012, atuou como professor da graduação da PUC-SP em disciplinas como Economia Brasileira Contemporânea; Macroeconomia; Economia para Relações Internacionais; Introdução à Ciência Política, História do Pensamento Econômico, Economia Política, entre outras.
A atuação no Executivo começou em 2007, quando integrou o governo de José Serra (PSDB) no estado de São Paulo, onde chefiou a Assessoria Econômica da Secretaria de Transportes Metropolitanos. Em 2008, foi diretor da Unidade de Estruturação de Projetos e PPPs da Secretaria de Economia e Planejamento do estado.
Do PT Senado