Partido dos Trabalhadores

Comissão investigará escravidão negra no Brasil

Ordem dos Advogados do Brasil vai apurar crimes da escravidão que ainda causam impacto na vida da população negra

Humberto Adami, presidente da comissão: cotas iniciam reparação histórica

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) empossou, na sexta-feira (6), os 39 membros da Comissão da Verdade da Escravidão Negra no Brasil. O grupo terá como objetivo fazer o resgate histórico do período, aferir responsabilidades de crime contra a humanidade e demonstrar a importância das ações afirmativas como meio de reparação ao povo africano escravizado no Brasil.

Segundo o presidente nacional da OAB, Marcus Vinicius Furtado Coêlho, a instituição sempre foi atenta à realidade de desigualdade e discriminação. Ele enfatizou que a ordem busca promover o Estado de Democrático de Direito e a justiça social.

“Provocados pela sociedade civil organizada, decidimos instituir a Comissão Nacional da Verdade da Escravidão Negra no Brasil”, afirmou Coêlho.

Furtado lembrou que mais de 70% dos 20 mil jovens assassinados por ano, no Brasil, são negros e mais de 90% são homens. Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam que o número de assassinatos de jovens negros, de 16 a 24 anos, cresceu 32% nos últimos 12 anos, enquanto o de jovens brancos diminuiu na mesma proporção.

De acordo com o presidente da Comissão, o advogado Humberto Adami, o grupo deve investigar os fatos históricos em que os crimes cometidos ainda tenham impacto no dia a dia da população negra.

Segundo ele, há uma parcela da sociedade que não entende a necessidade de haver políticas afirmativas raciais, como a Lei 12990, que cria cotas para negros em concursos públicos do Poder Executivo. “As cotas são um modo de iniciar a reparação”, explica Adami.

A escravidão no Brasil produziu a invisibilidade dos negros, segundo Adami. De acordo com ele, a representatividade não é satisfatória nem mesmo nos partidos políticos. Negros não somam nem 10% dos 594 parlamentares do Congresso Nacional. Entre os juízes brasileiros, não se chega a 1% dos que se declaram não brancos.

A comissão entregará um relatório parcial, em dezembro de 2015, e um final, em dezembro de 2016. Para a ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Ideli Salvatti, nem o holocausto se compara aos três séculos de escravidão negra no Brasil.

“O governo federal dará todo o apoio que estiver a seu alcance para o bom desempenho dos trabalhos da comissão”, afirmou a ministra.

Por Guilherme Ferreira, da Agência PT de Notícias