Para comparar valores de diferentes épocas é preciso estabelecer um parâmetro de atualização dos custos inflacionários que causaram a depreciação dos preços no decorrer do tempo. Sem isso, a comparação “é ingenuidade, desinformação ou má-fé”, decretou a edição dessa quarta-feira, 28, do Jornal da Gazeta, que vai ao ar toda noite (19h) sob o comando dos jornalistas Rodolpho Gamberini e Stella Gontijo.
O âncora do telejornal se referia ao estardalhaço patrocinado pela mídia nacional na terça-feira, dia em que toda imprensa definiu a desvalorização da moeda e a diferença entre o valor do dólar em relação ao real como “a maior em 12 anos”. A imprecisão dos dados, no entanto, serve apenas aos que pretendem depreciar a gestão econômica em vigor.
Em uma autocrítica, porém, o telejornal reconheceu que a imprensa “erra bastante” e se dá pouco ao trabalho de “apontar os erros e corrigi-los”. Ao reconhecer o equívoco cometido por diversos jornalistas, Gamberini conclamou o telespectador a, sempre que possível, atualizar o valor da moeda pelos índices da inflação.
A intenção do telejornal era comprovar que um erro elementar permeou o noticiário sobre a depreciação do real naquela noite: sem a correção do valor para dar à moeda sua dimensão real, seria como comparar banana e maçã – duas coisas diferentes, que não admitem comparação. No caso, a falta do parâmetro de atualização incorreu em um erro brutal da mídia, superior a 100%.
Para mostrar isso, Gamberini buscou o valor do dólar frente ao real na data que a mídia usou como comparação. Em 1° de março de 2003, lembrou ele, para se comprar um dólar seria preciso desembolsar R$ 3,57. Numa comparação sem atualização, esse valor (R$3,57) é realmente maior que os R$ 3,47 que alcançou a cotação na última terça-feira.
No entanto, atualizado pela inflação medida nesses 12 anos pelo Índice Geral de Preços do Mercado (IGPM), o mesmo valor (de R$ 3,57) representaria, nesta terça-feira (29), R$ 7,33.
O valor atualizado daria para comprar hoje não só US$ 1, mas sim US$ 2,20. Ou seja, o dólar vale hoje menos da metade do que valia em março de 2003 e, portanto, a cotação real da moeda americana não é “a maior desde 2003”, como atribuído pela grande imprensa.
Por Márcio de Morais, da Agência PT de Notícias