Em tempos de tanta “hipocrisia e indignação seletiva”, o lançamento do livro do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sobre os primeiros anos de seu mandato pode fazer bem à memória do País, acredita o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), que nesta quarta-feira (21) destacou alguns trechos da obra, antecipados em reportagem do jornal “O Globo”.
O livro confirma, por exemplo, que FHC conhecia um esquema de corrupção na Petrobras desde 16 de outubro de 1996, mas optou por não tomar providências para não prejudicar a tramitação da lei que flexibilizou o monopólio estatal do petróleo.
Para Lindbergh, as revelações de FHC demonstram duas coisas: primeiro, a corrupção na Petrobras começou muito antes dos governos petistas — e os tucanos, hoje “indignados”, não fizeram nada para detê-la, apesar de saberem de sua existência. Segundo, o ex-presidente cometeu o delito de prevaricação, já que qualquer pessoa em exercício de função pública tem o dever de denunciar qualquer ato ilícito de que tome conhecimento.
“Esse é o caso típico de prevaricação. Você é avisado e não faz nada!”, protestou o senador petista, em pronunciamento ao plenário, nesta quarta-feira (21).
Segundo as memórias de FHC reproduzidas pelo jornal,em outubro de 1996 o então presidente foi avisado de que a Petrobras era um “escândalo”. Embora constatasse que o caso requeria intervenção na estatal, decidiu não tomar essa providência. O alerta foi feito pelo dono da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Benjamim Steinbruch, que havia sido nomeado para o Conselho de Administração da Petrobras.
Citado pelo Globo, FHC explicou que a decisão de não intervir na Petrobras para estancar o “escândalo” ocorreu porque não queria “mexer (na empresa) antes da aprovação da lei de regulamentação do petróleo pelo Congresso”, além de buscar “pessoas competentes para botar lá”. Como lembrou Lindbergh, foi exatamente em 1996 que o jornalista Paulo Francis fez denúncias sobre a corrupção na Petrobras.
“Agora é o presidente Fernando Henrique Cardoso que reconhece que foi avisado por Benjamim Steinbruch de escândalos na Petrobras; que ele teria de intervir e que não houve intervenção porque estava havendo a discussão da lei do petróleo naquele período. Ora, por que tratam disso como se os escândalos tivessem surgidos agora?”, cobrou Lindbergh.
Ainda segundo o livro de memórias de FHC, o ex-presidente não gostou da atuação da Polícia Federal na investigação do chamado “escândalo da pasta rosa” e qualifica como “mesquinharia” o fato de a PF ter chamado a depor no inquérito o então deputado Luís Eduardo Magalhães.
“Aquilo deixou Antônio Carlos Magalhães (pai do deputado) enfurecido”. Para alívio de FHC, a “mesquinharia” foi travada: “Em todo caso, o procurador colocou um ponto final nisso.”
O procurador, destacou Lindbergh, era “o velho engavetador geral da República, Geraldo Brindeiro”. O senador petista apontou a diferença de tratamento dado por FHC aos órgãos de Estado em relação à postura dos governos petistas frente a essas instituições. No caso do procurador-geral da República, tem sido prática petista nomear para o cargo sempre o mais votado da lista tríplice elaborada pelo conjunto de procuradores.
“Isso não acontecia antes. Geraldo Brindeiro foi nomeado três vezes por Fernando Henrique Cardoso, sem eleição. Na quarta nomeação houve uma eleição, ele ficou em sétimo lugar e foi reconduzido assim mesmo”, lembrou Lindbergh. “Se fosse um governo do PT que fizesse isso, este Brasil caía”, comparou o senador.
Em relação à Polícia Federal, a diferença fica ainda mais clara: nos oito anos do governo FHC foram realizadas 48 operações da Polícia Federal — uma média de seis por ano. Entre 2003 e 2014, primeiros anos dos governos petistas, a média de operações da PF foi de 220 por ano.
“Foram 2.400 operações até 2014. Em 2015, a média de operações da Polícia Federal é de 1,7 por dia. Vai dar 400 por ano. Agora, imaginem no período tucano: seis investigações por ano! A Polícia Federal não agia, não tinha estrutura, não tinha autonomia”, rememorou Lindbergh.
O senador cobrou o reconhecimento à postura da presidenta Dilma, que jamais buscou qualquer interferência nos órgãos de fiscalização e criticou a indignação seletiva dos que “passam a mão na cabeça desse deputado Eduardo Cunha, que não tem condições de continuar presidindo a Câmara”, apenas para tentar assegurar a instalação de um processo de impeachment contra Dilma.
Lindbergh, porém, tem convicção de que a maioria dos brasileiros consegue enxergar além dessas manobras. “Tenho certeza de que o Brasil está entendendo o que está acontecendo. Nessas duas semanas a máscara da oposição, do PSDB, caiu”.
Do PT no Senado