Partido dos Trabalhadores

CPI da Petrobras: Deputado apresenta provas de propina paga em 1980

“A distribuição de propina se dava por depósito bancário, mas também na calada da noite. Das 9h da noite às 2h da manhã era a hora que os políticos e agentes públicos envolvidos no esquema iam pegar suas caixinhas de camisa recheadas de dólar”, declarou Solla à CPI da Petrobras

Foto: Gabriela Korossy / Câmara dos Deputados

A CPI da Petrobras recebeu, nesta quinta-feira (17), das mãos do deputado Jorge Solla (PT-BA), cópias de documentos da contabilidade extraoficial da Odebrecht, do fim da década de 1980, com registros de pagamento de propina a políticos das obras executadas naquela época. O material original foi entregue ao delegado Bráulio Cézar Galloni, coordenador-geral da Polícia Fazendária, na sede da Polícia Federal (PF), em Brasília.

O deputado Antônio Imbassahy (PSDB-BA), membro da CPI da Petrobras, é identificado na lista das propinas como “Almofadinha”. Ele é apontado como beneficiário da obra da barragem da Pedra do Cavalo, na Bahia. Imbassahy ocupou o cargo de diretor-presidente da Companhia de Eletricidade da Bahia (Coelba), entre 1979 e 1984, cinco dos seis anos da obra. O tucano também foi presidente do Conselho da Companhia do Vale do Paraguaçu, (Desenvale), estatal que contratou a referida obra.

Na lista de propinas também constam o senador Jader Barbalho (PMDB-PA), o ex-ministro Edson Lobão (PMDB-MA), o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio (PSDB-AM), o ex-deputado João Agripino Maia Neto, o empresário Fernando Sarney, o deputado José Sarney Filho e a ex-governadora Roseana Sarney.

Toldo era o codinome do então presidente da Companhia de Engenharia Rural da Bahia (CERB) e secretário de recursos hídricos e Irrigação da Bahia e atual presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Aroldo Cedraz. À época, seu nome estava vinculado à Adutora do Sisal.

O beneficiário da Odebrecht conhecido como “Pescoção”, Jorge Ramos Roncero, é tio do ex-presidente do Peru, Alan Garcia. “Pescoção” recebeu US$ 900 mil em contas na Suíça e nas Bahamas, referentes a propina paga pelas obras da construção da Usina de Charcani V.

A anotação de pagamento de CZ$ (cruzados) 5,5 milhões ao major-brigadeiro Lauro Ney Meneses, a título de 2% de propina sobre uma ordem de pagamento na obra do terminal de passageiros 2, do Aeroporto do Galeão, é mais um argumento a jogar por terra o discurso de probidade da ditadura militar brasileira.

A lista aponta pagamento de propinas em vários tipos de obras distribuídas por todo o território nacional, como, metrô de Recife, Ponte de Vitória, Canais de Cuiabá, Porto de Natal, esgotamento de Rondonópólis (MT), ponte Colatina (ES), BRs 163 e 101, Transmaranhão e usina de Capanda, em Angola. A estatal Furnas prestou assessoria técnica na obra de Capanda, construída pela Odebrecht. Entre os repasses de US$ 10 a 33 mil estão quatro funcionários de alto escalão de Furnas.

Também estão na lista apresentada por Solla, o ex-ministro de Minas e Energia, Cesar Carls e os ex-governadores, Ary Valadão (GO) e Gerson Camata (ES). Por codinome “Paris”, o ex-senador Lázaro Barbosa (PMDB-GO) recebeu US$ 112 mil referentes a obras da usina de Cachoeira Dourada.

Solla relatou que o projeto de transporte público para capital baiana, apresentado como uma proposta de VLT, encomendado à Odebrecht, não foi construído, mas, segundo antigos contabilistas da construtora, o dinheiro público foi pago e desviado por propina.

De acordo com o deputado, havia orientação escrita para os pagamentos serem feitos em dólar ou cotados pelo dólar paralelo, chamado de dólar black, comercializado à margem da lei e útil para quem deseja esconder origem de dinheiro ilícito.

“A distribuição de propina se dava por depósito bancário – na agência do falido banco Econômico que tinha dentro da sede da Odebrecht, em Salvador – mas também na calada da noite. Das 9 horas da noite às 2 da manhã era a hora que os políticos e agentes públicos envolvidos no esquema iam pegar suas caixinhas de camisa recheadas de dólar”, declarou à CPI da Petrobras.

Segundo Solla, os políticos os quais era interessante manter um pagamento regular de propina eram direcionados para a Diretoria-Geral da Odebrecht, mesmo sem vinculação com alguma obra.

“Vamos parar com esse conto da carochinha que vocês e o pessoal lá de Curitiba querem contar para a população, porque não convence mais ninguém. Empreiteira pagar propina a agentes públicos e políticos como percentuais em cima de obras, a gente está vendo aqui, é mais velho que nossa democracia”, disse Solla.

Acesse a lista completa apresentada pelo deputado Jorge Solla.

Da Redação da Agência PT de Notícias