Com quase 12 anos desde a criação, a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) vem mudando a vida da população nesta região do estado. É o caso da quilombola Miriam Feliciano de Barro, 44 anos, que se formou em Gestão de Cooperativas na universidade.
No dia 29 de julho de 2005, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei nº 11.151, que criou a UFRB. Agora, ele vai conferir de perto as mudanças nas vidas das pessoas. Lula estará na cidade, com a caravana Lula Pelo Brasil, nesta sexta-feira (18), às 11h, e receberá uma homenagem da prefeitura da cidade.
Miriam vive na comunidade quilombola Vila Guaxinim, que fica na área do campus de Cruz das Almas, onde antigamente existia apenas um curso de agronomia da Universidade Federal da Bahia, posteriormente incorporada à UFRB.
“Nasci onde hoje é a UFRB. A gente não tinha perspectiva de estudar fora pelas condições financeiras, então a vinda da UFRB trouxe uma possibilidade de crescimento tanto social para o município como para as famílias”, conta Miriam, que ingressou na universidade aos 37 anos.
“A gente que era morador aqui, olhava a Escola de Agronomia e pensava como seria o futuro desse lugar, e com a vinda da UFRB foi um crescimento tão grande que a gente hoje vê o quanto desenvolveu o município. Fora isso, sou a primeira da minha família a ter uma graduação, é indescritível esse momento”.
Hoje a UFRB possui campus em seis cidades, com quase 8 mil estudantes, dos quais a maioria – 64% – é de mulheres. A universidade também se destaca pela predominância de alunos negros, que corresponde a 83,4% do corpo discente.
O papel social da UFRB também fica evidente ao se olhar para o perfil de renda familiar dos alunos. Enquanto a média brasileira de renda familiar per capita é de R$ 916,80, no Nordeste esse valor cai para R$ 710 e na UFRB a renda familiar per capita dos alunos é de R$ 486,38.
“A política de cotas foi desde sua origem implantada na UFRB e proporcionou uma condição de equidade para alunos autodeclarados negros, pretos e pardos, e também para alunos menos favorecidos, ou seja, através das políticas afirmativas incluímos no ensino superior baiano um contingente significativo da população negra e alunos de baixa renda”, explica o reitor Silvio Luiz Soglia.
Ele conta que “a UFRB nasce em um processo de expansão do ensino superior no Brasil e se torna ao longo desses 12 anos um instrumento de fato de desenvolvimento econômico, social e cultural dessa região”.
Arisne Monique Ramos, 24 anos, é uma das estudantes beneficiadas pela universidade, mantendo-se nos estudos graças às políticas de permanência estudantil. Ela é bacharel em saúde e agora estuda Medicina no campus de Santo Antônio de Jesus.
Ela ingressou no ensino médio no Instituto Federal da Bahia (IFBA) em Santo Amaro, sua cidade natal, e diz que lá teve o primeiro impacto pelas políticas de Lula e Dilma.
“Em Santo Amaro, com o IFBA, você muda a lógica da cidade. Mostra para as pessoas que não conseguiam enxergar outras oportunidades de melhoria, que existe uma forma de ter um acesso a emprego melhor, que não precisa se sujeitar a tudo. A juventude começa a pensar não só no curso técnico, mas também no ensino superior”, conta Arisne.
Para Zenvivaldo Almeida, formado na segunda turma de Gestão de Cooperativas, a criação da UFRB criou bastante expectativa. “Depois que eu terminei o ensino médio, passei um tempo fora da escola, aí tive conhecimento da UFRB, fui procurar os cursos que havia e fui estudar. Na minha família mesmo ninguém nunca entrou na faculdade, não havia quem orientar”, conta Zenivaldo.
“Eu fiquei sabendo por colegas que haviam feito ensino superior, eu não tinha interesse de fazer faculdade, nem todos os cursos me interessavam, mas fui pesquisando aos poucos, procurei saber sobre o Enem e vim para faculdade. Sou o primeiro da família a fazer faculdade e quando voltava para ver a família e continuava no ritmo de estudos, até estranhavam”.
Israel de Oliveira, de Baixa Grande, tem 35 anos e se formou em Agronomia. Ele entrou em 2003, quando o curso era parte da UFBA, e acompanhou o processo de transição para a UFRB. Ele é filho de trabalhadores rurais semianalfabetos e diz que “foi uma transgressão muito grande conseguir estudar”.
“Quando cheguei aqui me encantei com a cidade, com o campus, uma coisa muito bonita de se ver, porém a estrutura me decepcionou. Estávamos em um processo muito grande de sucateamento do ensino superior, e pude acompanhar isso de perto porque estávamos no processo de transição do governo Fernando Henrique para o governo Lula”.
Com o processo de transição para a UFRB, ele conta que essa realidade mudou. “Na época, tive oportunidade de usar a política afirmativa da residência universitária e, por passar por problemas financeiros tão acentuados, foi uma maravilha. Ao ter acesso a residência universitária, eu passei a ter acesso a alimentação, assistência médica, psicológica, e pude fazer meu curso de forma mais tranquila”.
Por todos os impactos positivos que a UFRB trouxe para a região do Recôncavo, Lula será homenageado com um título Doutor Honoris Causa na sexta-feira (18). “O Conselho Universitário reunido recentemente aprovou por quase unanimidade o título Doutor Honoris Causa ao presidente Lula, como homenagem a a ele ter sido de fato o propositor dessa política de expansão do ensino superior público federal que resultou na UFRB”, contou o reitor Soglia.
“É um reconhecimento de que no seu governo essas universidades foram criadas, fazia tempo que a comunidade do recôncavo queria prestar essa homenagem ao presidente Lula e faremos isso entregando esse título honorífico ao ex-presidente”.
Lula pelo Brasil
A viagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos estados do Nordeste, entre agosto e setembro, é a primeira etapa de um projeto que deve alcançar todas as regiões do país nos meses seguintes.
O projeto Lula Pelo Brasil é uma iniciativa do PT com o objetivo de perscrutar a realidade brasileira, no contexto das grandes transformações pelas quais o país passou nos governos do PT e o deliberado desmonte dos programas e políticas públicas de desenvolvimento e inclusão social, que vem sendo operado pelo governo golpista nos últimos dois anos.
Por Pedro Sibahi, enviado especial ao Nordeste com a caravana Lula pelo Brasil, para a Agência PT de Notícias