Partido dos Trabalhadores

Dallagnol articulou com evangélicos seu futuro político como senador

Nova matéria da série da Vaza Jato mostra as investidas políticas de Deltan Dallagnol com líderes radicais como Silas Malafaia

(Tomaz Silva/Agência Brasil)

De acordo com novas revelações da Vaza Jato divulgadas hoje (23) pela Pública, em parceria com o The Intercept Brasil, o coordenador da força-tarefa da Lava Jato no MPF em Curitiba, o procurador Deltan Dallagnol, usou, de forma calculada, sua influência para conquistar a simpatia de eleitores evangélicos e, em 2022, possivelmente, concorrer ao Senado Federal.

A articulação envolveu gente como um dos líderes evangélicos mais reacionários do país, o pastor Silas Malafaia. Além de pastores, as alianças políticas construídas por Dallagnol incluíam outros setores, entre eles, maçons, membros do Rotary International, empresários e entidades patronais. O procurador chegou a tocar uma agenda de campanha pelo país, que envolvia palestras e encontros com tais líderes. Um dos pontos principais da campanha de Dallagnol, inicialmente, foi a divulgação de seu projeto de “10 medidas contra a corrupção”, que serviu de “álibi” para lançar sua pré-candidatura.

Em um PowerPoint feito para fiéis de igrejas, o procurador chegou a defender que avanços da Lava-Jato seriam fruto de “providência divina”.

As revelações publicadas hoje reforçam que as ilegalidades cometidas por membros da força-tarefa da Operação Lava Jato no Ministério Público, em parceria com a mídia tradicional e muitas vezes em conluio com o ex-juiz Sergio Moro, foram guiadas por questões ideológicas e projetos pessoais de poder. O objetivo central jamais foi o combate à corrupção, como alardeado, mas a imposição de uma agenda de direita e de extrema-direita na política nacional, o que culminou com a eleição de Jair Bolsonaro (PSL) como presidente.

Um dos pilares que sustentou a ascensão de Bolsonaro foi o apoio massivo de pastores evangélicos e pessoas ligadas às religiões neopentecostais. Grupo por onde onde Deltan Dallagnol

Tentações

Outra reportagem da série da Vaza Jato mostrou que Dallagnol já calculava que “seria facilmente eleito” em 2018. Entretanto, deixou para o pleito seguinte. Em uma mensagem enviada para si mesmo, ele disse: “Tenho apenas 37 anos. A terceira tentação de Jesus no deserto foi um atalho para o reinado. Apesar de em 2022 ter renovação de só 1 vaga e de ser Álvaro Dias, se for para ser, será. Posso traçar plano focado em fazer mudanças e que pode acabar tendo como efeito manter essa porta aberta”

Mesmo com seu álibi de divulgar as medidas que considerava eficazes no combate à corrupção, Deltan avaliou o risco de suas pretensões contrariarem o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). “Tem um risco de CNMP, mas é pagável, cabendo fazer uma pesquisa de campanhas públicas (de órgãos) de voto consciente, para me proteger”, disse. Isso, porque o código de ética dos procuradores deixa claro que é compromisso do funcionário público “atuar com imparcialidade no desempenho das atribuições funcionais, não permitindo que convicções de ordem político-partidária, religiosa ou ideológica afetem sua isenção”.

Ignorando a orientação, Dallagnol seguiu sua aproximação com os evangélicos, assumindo lugar neste engodo político que tomou conta do país nos últimos anos. O projeto de poder ultraconservador de extrema-direita. Enquanto isso, na Procuradoria-Geral da República, Augusto Aras foi indicado por Bolsonaro. Aras, que tem assinado compromisso com a Associação Nacional de Juristas Evangélicos (Anajure), que luta por privilégios das igrejas, como isenção de impostos, além de pautas reacionárias, tal como contra união homoafetiva.

Dallagnol rebateu à Pública com a seguinte nota:

“O procurador Deltan Dallagnol repudia a violação de sua intimidade e exposição de reflexões pessoais lícitas e legítimas. Ele também teve seu direito de resposta prejudicado, uma vez que a Agência Pública se recusou a enviar para ele as supostas mensagens e dados que dão base à reportagem. Em resposta à pergunta, o procurador esteve e está inteiramente focado no seu trabalho na Lava Jato e na causa anticorrupção. Por isso, ele participou ativamente da divulgação da campanha das 10 medidas contra a corrupção e da campanha das novas medidas contra a corrupção, ambas de interesse público. O procurador foi incentivado a se candidatar nas eleições de 2018, mas avaliou que pode contribuir mais para o interesse público desempenhando suas funções no Ministério Público e divulgando a causa anticorrupção. Ele nunca contatou políticos ou partidos para debater filiação ou candidatura”.

Por Rede Brasil Atual com Agência Pública