A cada nova revelação sobre o esquema de Sergio Moro e Deltan Dallagnol, feita pelo The Intercept em parceria com outros veículos de imprensa, fica claro que a Lava Jato foi usada pela dupla para atender interesses pessoais. As reportagens do UOL e Folha de S. Paulo, desta quinta-feira (8), confirmam que o procurador do Ministério Público Federal (MPF) usou a operação para lucrar e tramar contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes.
Outros diálogos de Dallagnol, publicados na semana passada, mostraram que ele armou um ataque contra o presidente do STF, o ministro Dias Toffoli, e ainda tramou para que o ministro Humberto Martins do STJ não fosse indicado para uma vaga no Supremo. As revelações comprovam que o procurador da Lava Jato atentou contra a democracia brasileira, uma vez que não respeita a instituição da qual faz parte, as funções para qual tomou posse como agente público, o Poder Judiciário e principalmente a Constituição Federal. Se as instituições estivessem funcionando plenamente, Dallagnol já estaria pelo menos afastado do cargo.
Além de montar um plano de negócios, que envolvia eventos e palestras para poder lucrar financeiramente com a fama obtida por meio da Lava Jato, Dallagnol e outros procuradores do MPF – Diogo Casto, Paulo Roberto Galvão, Laura Tessler e Orlando Martello Junior – discutiram a possibilidade do impeachment de Gilmar Mendes, após os resultados do primeiro turno das Eleições de 2018.
Segundo reportagem do UOL, o grupo passou a fazer contas sobre os votos necessários no Senado Federal para o impedimento do ministro do STF. “Precisamos de 54 senadores. Se tem onze comprometidos com as medidas contra a corrupção. Faltam 43 de 70”, disse Castor. No mesmo grupo, Dallagnol arrematou: “No Senado, dos 32 que tentaram renovar seus mandatos, 8 conseguiram. Recado explícito de insatisfação”. O procurador Orlando Martello Junior avaliou que o impeachment era impossível, mas em seguida sugeriu uma estratégia para atacar Mendes.
“Impeachment, diria, é impossível. Talvez costurar um pedido de convocação, em que ele fique exposto, com cobranças, puxão de orelha e coisa tal, é mais factível. Os novos senadores, que não tem o rabo preso, podem ver isso como uma alavancagem. Sem falar que o quórum para aprovação deve ser bem menor ou mesmo pode ser feito no âmbito de uma das comissões, talvez a de justiça (não vi o regimento!)”, apontou.
Corregedor do MPF escondeu falcatruas de Dallagnol
A Folha revelou também nesta quinta (8) que o então corregedor-geral do MPF, Hindemburgo Chateaubriand Filho, criticou informalmente a conduta de Dallagnol na divulgação de uma das palestras que o procurador fez. Na ocasião, em junho de 2017, o corregedor ressaltou a gravidade da situação, mas nada fez sobre a irregularidade do colega. Hindemburgo deixou de abrir uma apuração oficial.
Segundo a publicação, o caso envolveu a divulgação feita por Dallagnol de uma palestra dele na qual prometia revelações inéditas sobre a Lava Jato e que teria cobrança de ingresso dos participantes. Nos diálogos, Hindemburgo confessa que ao intervir no episódio ele estava saindo da linha de atuação regular de um corregedor-geral, que é o fiscal máximo da atividade dos procuradores. “Só quero lhe dizer que liguei em consideração a você e ao Januário [procurador Januário Paludo]. Como Corregedor, na verdade, não me competia fazer o que fiz”, afirmou.
Ainda na conversa, os dois acertaram extraoficialmente, já em agosto daquele ano, que Deltan não iria apresentar formalmente à Corregedoria a lista de empresas para as quais deu palestra remunerada, para evitar a repercussão negativa da eventual indicação dos contratantes.
Da Redação da Agência PT de Notícias, com informações do UOL e Folha de S. Paulo