Incentivo à devastação da Amazônia. Negligência com vazamento de óleo nas praias do Nordeste. País que ameaça líderes indígenas e de movimentos sociais, ameaça a liberdade de imprensa e é conivente com assassinato de políticos, como a vereadora Marielle Franco. Esse são só alguns dos pontos que descrevem hoje a imagem internacional do Brasil sob o governo de Jair Bolsonaro (sem partido). Pesquisas e diplomatas revelam como o mundo está alarmado com um país, que já foi líder de diplomacia e respeitado em todos os continentes, mas que se tornou um pária em 2019.
No dia 10, o colunista do UOL Jamil Chade, correspondente internacional, revelou que doze cartas sigilosas foram enviadas ao governo brasileiro ao longo do ano para se queixar de violações cometidas pelo estado e cobrando respostas, desde de ameaças sofridas por líderes indígenas, ameças contra a liberdade de imprensa até a apuração do assassinato de Marielle. De acordo com o jornalista, em todos os textos havia expressões como “profunda preocupação” ou “alarmados” em relação às medidas adotadas pelo governo, além de pedidos para que algumas das iniciativas sejam suspensas.
Não à toa o governo de Bolsonaro foi alvo, em apenas um ano, de 37 denúncias na Organização das Nações Unidas (ONU) por parte de entidades estrangeiras e brasileiras, além de ações lideradas por deputados e mesmo pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). A primeira manifestação da ONU ocorreu no dia 16, quando o Subcomitê das Nações Unidas para a Prevenção da Tortura condenou políticas do governo Bolsonaro sobre o assunto. Foi a primeira constatação formal por parte de um organismo da ONU da violação de tratados internacionais sobre tortura pelo Brasil na era Bolsonaro.
O episódio é só mais um entre os tantos que arruinaram a imagem do país na comunidade internacional. Uma pesquisa da Imagem Corporativa e pelo See Suite (laboratório digital do Grady College of Journalism and Mass Communication, da Universidade da Geórgia) mostrou que a imagem do Brasil no exterior despencou. O levantamento, feito entre janeiro e setembro, analisou 4.520 textos (reportagens, notícias e notas) de treze grandes veículos de imprensa de onze países e revelou que 78% delas eram negativas. A impressão da mídia estrangeira vem piorando a cada trimestre. Nos três primeiros meses do governo Bolsonaro, as menções negativas chegavam a 73%.
As publicações analisadas pelo estudo partiram do The New York Times, The Wall Street Journal, Financial Times, The Economist, Le Monde, El País, Corriere Della Sera e South China Morning Post, segundo informações de Lauro Jardim. Veja como Bolsonaro arruinou a imagem do Brasil no exterior:
Discurso na ONU
O Brasil historicamente é o país responsável pelo discurso de abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas. Diante do cenário atual, o clima de preocupação se instalou no Itamaraty, já que caberia a Bolsonaro abrir o evento. Conforme avaliou o jornalista Leonardo Sakamoto, Jair “nem tento parecer palatável à comunidade internacional de países”. Bolsonaro fez um discurso profundamente ideológico, com intervenções própria de quem ainda vive na Guerra Fria. No discurso, o despreparado presidente criticou desafetos globais, atacou a mídia e negou responsabilidade no aumento do desmatamento da Amazônia. Alinhado à Donald Trump, a fala de Jair marcou o fim de uma imagem externa do Brasil de equilíbrio e diálogo.
Amazônia e morte de indígenas
A série de queimadas na floresta amazônica foi sem dúvida um dos principais fatores que arruinaram a imagem do Brasil. Como se não bastasse o desastre ambiental por si só, Bolsonaro contribuiu para piorar ainda mais. Além de fazer fake news com o caso, ao acusar ONGs de terem provocado as queimadas, Jair nada fez para resolver o problema. Muito pelo contrário, os discursos do presidente tem incentivado o avanço do desmatamento e principalmente as mortes de indígenas. E talvez o episódio mais patético – e que mais humilha a imagem do Brasil – foi a acusação por parte de Bolsonaro de que o ator estadunidense Leonardo DiCaprio teria responsabilidade nos incêndios. Em novembro, Jair declarou à imprensa: “quando eu falei que há suspeitas de ONGs, o que a imprensa fez comigo? Agora, o Leonardo DiCaprio é um cara legal, não é? Dando dinheiro para tacar fogo na Amazônia”.
Ofensa à primeira-dama francesa
A ingerência de Bolsonaro nos incêndios na Amazônia levou a comunidade internacional manifestar preocupação. Entre os líderes mundiais que se manifestaram está o presidente da França, Emmanuel Macron, que externou grande preocupação. Por contas das críticas, Bolsonaro reagiu com fúria e incentivou sua rede do ódio na internet contra o francês. Ao comentar uma publicação de Bolsonaro no Twitter, o seguidor Rodrigo Andreaça escreveu:
“É inveja presidente do macron pode crê (sic)”. A mensagem dele foi publicada junto a uma imagem, na qual se vê uma foto de Bolsonaro e de sua esposa, Michelle, abaixo de um retrato de Macron e da esposa Brigitte Macron. Bolsonaro então respondeu: “Não humilha, cara. Kkkkkkk”. O presidente francês reagiu à ofensa de Jair e classificou de “extremamente desrespeitosas” as palavras do brasileiro. “Penso que as mulheres brasileiras sentem vergonha ao ler isso, vindo de seu presidente, além das pessoas que esperam que ele represente bem seu país”, afirmou o líder europeu.
Diplomacia de conflito
O Brasil sempre teve um papel conciliador no mundo. Tanto é que durante os governos do PT, o Ministério das Relações Exteriores se notabilizou por intermediar conflitos em todos os continentes. Com Ernesto Araújo à frente do Itamaraty, por sua vez, o país mergulhou em uma retórica bizarra de combate ao comunismo, alinhamento automático a Donald Trump e fundamentalismo religioso. Logo nos primeiros dias de governo, Bolsonaro mostrou que estava disposto a provocar a comunidade árabe e anunciou seguiria o presidente estadunidense na mudança de embaixada para Jerusalém. Para além da crise com incêndios na Amazônia, Jair ainda retirou a possibilidade do Brasil sediar a COP-25, que ocorreu posteriormente em Madri na Espanha. Ainda sobre a questão do meio ambiente, Araújo anunciou que o país poderia deixar o Acordo de Paris. Nas relações exteriores com os países vizinhos da América do Sul, Bolsonaro não deixou a deseja em matéria de estrago. Apoiou os golpistas da Venezuela e Bolívia e hostilizou o presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández.
Da Redação da Agência PT de Notícias