A declaração do ministro golpista da Justiça, Alexandre de Moraes, antecipando que haveria uma nova fase da Operação Lava Jato esta semana, foi considerada “irresponsável e infantil” pelo ministro da pasta no governo Dilma Rousseff, Eugênio Aragão.
“Após a declaração, ele disse que era só um modo de falar. Isso não é modo de falar. É infantilidade. Brincar com coisa séria. E é irresponsável, porque no momento que nós estamos vivendo e numa campanha eleitoral, não se cria comoção pública com esse tipo de declaração”, afirmou.
Durante uma conversa com integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL), neste domingo (25) em Ribeirão Preto (SP), Alexandre de Moraes afirmou: “Teve [operação] a semana passada e esta semana vai ter mais, podem ficar tranquilos. Quando vocês virem esta semana, vão se lembrar de mim”.
Moraes estava na cidade para participar de evento de campanha do deputado federal Duarte Nogueira (PSDB), candidato a prefeito no município paulista. Juristas e políticos também criticaram o ministro golpista e chamaram a prisão de Palocci de espetáculo.
Para Aragão, a fala do ministro golpista é “no mínimo uma coincidência muito estranha”, pois a declaração foi dada na terra natal do ex-ministro Antônio Palocci, que teve sua prisão decretada na manhã desta segunda-feira (26) pelo juiz Sérgio Moro na 35ª fase da Operação Lava Jato.
“Agora, o que achei curioso, é que só pegaram gente do PT. Quando se trata de gente de outro lado, aí se diz: ‘ah, vamos fazer uma investigação preliminar, vamos dar uma olhada’. Cadê o Cunha? Cadê esse povo todo?”, questionou Aragão.
Na sua avaliação, parece haver um alvo na Lava Jato. “Toda hora é gente do mesmo círculo que está sendo atingida e do outro lado está todo mundo tranquilo. Então isso aí realmente faz a gente pensar que tem alguma coisa errada”, destacou.
Para ele, o ministro Moraes “deu mostras de que a Operação Lava Jato está sendo utilizada para fins políticos”.
“Se a Lava Jato está ou não servindo a objetivos políticos, é uma outra coisa, mas que ela está sendo usada, ela está”, completou.
Eugênio Aragão explicou que, quando ele estava no Ministério da Justiça, era avisado de véspera sobre as operações que iam ocorrer.
“Mas esse aviso não vinha com nome de pessoas. A gente recebia um aviso apenas que iria ocorrer uma operação, quantas prisões, quantas buscas e apreensões, e quantas conduções coercitivas. Mas sem nome e eu fazia questão disso”.
E acrescentou: “Não sei se agora a rotina mudou e o ministro fica sabendo dos nomes antes. Na minha época, não. E eu fazia questão de não saber os nomes”.
Segundo o ministro de Dilma, cabe ao procurador-geral da República avaliar a instauração de inquérito “para saber de detalhes de em que circunstâncias essa declaração se deu”, para averiguar se houve ou não uma quebra de sigilo funcional, previsto no artigo 325 do Código Penal.
Aragão garantiu que, quando foi ministro, nunca interferiu “de qualquer modo em qualquer tipo de operação” da Polícia Federal.
“A minha exigência, e ela foi plenamente observada a partir de um acordo que eu fiz com a Polícia Federal, é que não haveria mais vazamentos. Ponto. Eu não queria saber disso”, ressaltou.
Segundo ele, sua conduta difere da do atual ministro Alexandre Moraes.
“Ele, um ministro de Estado, visitar um juiz de primeiro grau, é uma coisa muito curiosa. Mas, como nós estamos vivendo em tempos diferentes, como declarou o Tribunal Regional Federal da 4ª região, tudo é exceção, tudo é diferente, então quem sabe agora ministros vão fazer Caramuru para juiz de primeiro grau”, declarou.
Por Luana Spinillo, da Redação da Agência PT de Notícias