Três deputados do PT mineiro vivem a expectativa de, a qualquer momento, receberem a notícia da abertura de inquérito contra o senador Aécio Neves (PSDB-MG) pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. O tucano foi citado no depoimento de delação premiada do doleiro Alberto Youssef, na Operação Lava Jato.
“Temos confiança e esperança de que Janot vai aceitar o pedido”, declarou o deputado federal Padre João (PT-MG), nesta terça-feira (19), à Agência PT de Notícias. Ao mesmo tempo, o deputado federal Adelmo Leão (PT-MG) manifestou inconformidade com a situação. “Ele (Janot) ainda não deu retorno”, disse à reportagem.
“Vamos cobrar uma resposta nos próximos dias”, confidenciou, mas evitou confirmar agenda com Janot. No dia 19 de março, os dois federais e o deputado estadual Rogério Correia (PT-MG), fizeram o pedido à PGR para investigar o senador derrotado pela presidenta Dilma Rousseff nas eleições presidenciais 2014.
O pedido se baseou nas declarações do doleiro Alberto Youssef em depoimentos na delação premiada com o juiz Sérgio Moro, da Justiça Federal no Paraná.
Youssef afirmou que o falecido deputado José Janene (PP) dera detalhes sobre a caixinha de R$ 40 milhões que tivera de entregar a 156 políticos da oposição (PSDB e DEM). Desse total, cerca de R$ 22 milhões foram para Aécio, José Serra e Geraldo Alckmin, todos candidatos ao senado ou ao governo de São Paulo nas eleições de 2002, pelo PSDB.
Para o deputado Padre João, a discrição de Janot em ainda não apontar novos investigados no caso se deve à fragilização a qual foi submetido nas últimas semanas. Nesse período, segundo o parlamentar, houve grande resistência do PMDB, em especial do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, à recondução de Janot, por mais dois anos de mandato, ao cargo de fiscalizador e defensor do Estado.
Cunha ameaçou virar oposição caso Janot fosse reconduzido. Entretanto, Dilma anunciou a intenção de reconduzi-lo – e é a partir disso que o deputado Padre João confia na adoção, pela PGR, de postura favorável à inclusão de novos denunciados, como Aécio Neves.
Lista de Furnas – Janot analisa a pertinência do pedido de abertura de inquérito contra Aécio com base na documentação entregue à PGR pelos deputados do PT-MG. Tais documentos comprovam a veracidade do esquema de corrupção conhecido como Lista de Furnas.
Nessa lista, cuja autenticidade foi comprovada por perícia da Polícia Federal solicitada pelo deputado Rogério Correia, o ex-governador mineiro e seu partido, o PSDB, aparecem como principais beneficiários de propinas da estatal hidrelétrica, ao lado de Janene e seu partido.
Janene morreu em 2010, mas descreveu antes a Youssef como funcionava o esquema de corrupção e como era a partilha das doações de propinas do esquema de corrupção numa diretoria de Furnas, na qual PP e PSDB dividiam um mensalão em dinheiro, recolhido das empreiteiras contratadas pela subsidiária da Eletrobrás – esquema bem parecido com o descoberto pela Lava Jato.
Várias dessas empreiteiras são as mesmas envolvidas na operação Lava Jato, da Polícia Federal, em que Youssef teve intensa participação, seja fazendo a partilha da propina recolhida a partir do superfaturamento de contratos em obras, seja lavando dinheiro por meio do passeio de numerário em vários bancos internacionais.
Por Márcio de Morais, da Agência PT de Notícias