O deputado federal bolsonarista Gustavo Gayer (PL-GO) tem um histórico nada admirável. Envolvido em ofensas a minorias e até acusação de homicídio, já foi também flagrado dirigindo bêbado em teste de bafômetro após se envolver em acidente em Goiânia.
Agora, o parlamentar de extrema direita pode ter o mandato cassado por falas racistas que fez em um podcast. Após concordar com um dos apresentadores, que comparou o QI de macacos com o da população africana, Gayer chocou meio mundo ao declarar que africanos não têm “capacidade cognitiva” para viver em democracia.
O ministro de Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida, enviou ao Ministério da Justiça, à Polícia Federal, à Câmara dos Deputados e à Procuradoria-Geral da República o vídeo em que Gayer, segundo o ministro, faz “ofensas discriminatórias a brasileiros e africanos, bem como a autoridades da República”. “A imunidade parlamentar não é escudo para quem pratica crimes”, apontou ainda o ministro em sua conta no Twitter.
Gayer, como um típico bolsonarista, respondeu Silvio Almeida não com argumentos, mas ofensas, o que levou a presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann, a se manifestar. “Solidariedade ao querido Silvio, que foi atacado por deputado bolsonarista racista. Fez muito bem o ministro ao pedir abertura de investigação. Esse tipo de gente tem que responder por seus crimes e aprender que a imunidade parlamentar não é para acobertar delitos”, postou Gleisi no Twitter.
Outras medidas
Após reunião com a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, o advogado-geral da União, Jorge Messias, determinou a avaliação de medidas cabíveis contra Gayer. E a deputada Duda Salabert (PDT-MG) entrou com pedido de cassação de Gustavo Gayer no Conselho de Ética da Câmara Federal.
O pedido de Salabert foi apoiada por Gleisi: “Fala do deputado bolsonarista sobre africanos é asquerosa. Parabéns à companheira Duda Salabert por pedir abertura de processo no Conselho de Ética da Câmara contra o racista. Tem que ser cassação! Congresso não pode mais abrigar esse absurdo, gente preconceituosa e atrasada”.
Entenda o caso
Durante entrevista para o podcast Três Irmãos, Gayer fez discurso de ódio. Após concordar com a informação absolutamente falsa de que macacos teriam QI mais alto que a média da população africana (como se fosse possível aplicar em animais os mesmos testes de inteligência elaborados para pessoas), o deputado iniciou uma fala extremamente ofensiva.
“Aí você vai ver na África: quase todos os países são ditaduras. Quase tudo lá é ditadura. Democracia não prospera na África. Por quê? Para você ter democracia, é preciso ter o mínimo de capacidade cognitiva para entender o bom e o ruim, o certo e o errado. Tentaram fazer democracia na África várias vezes. O que acontece? Um ditador toma tudo e o povo… (neste momento ele faz simulação de aplausos). O Brasil está desse jeito. O Lula chegou à presidência e o povo burro: “Ê, picanha, cerveja!.”
Tentando, mais tarde, defender o indefensável, Gayer postou vídeo nas redes sociais dizendo que sua fala foi descontextualizada e que, na verdade, seria sobre “desnutrição” na África.
Pelas redes sociais, o deputado Rogério Correia (PT-MG) afirmou que um dos apresentadores, que fez falas de cunho racista, também precisa responder na Justiça. “Precisamos denunciar também esse racista que está ao lado dele. O MP tem de denunciar na Justiça e pedir sua prisão. O fascismo tem de ser punido”, escreveu.
Histórico delinquente
Em revelação chocante no começo de junho, a deputada federal Silvye Alves (UB-GO) divulgou um vídeo com acusações graves contra Gayer. “Você não tem escrúpulos. Você matou duas pessoas, bêbado, deixou uma terceira paralítica e sequer prestou assistência. E cinco meses depois, você invadiu com o carro, bêbado novamente, um ponto de ônibus. Graças a Deus não tinha ninguém”, afirmou a parlamentar.
Segundo o jornal O Globo, durante a pandemia, o canal de Gayer no Youtube foi o segundo que mais lucrou com fake news envolvendo o coronavírus — quase US$ 8 mil com 56 vídeos repletos de desinformação. Além disso, em maio de 2020, ele foi a um protesto de enfermeiros em Brasília e, nas redes sociais, alegou que o ato era falso e organizado por pessoas fingindo ser profissionais de saúde. Outra de suas fake news.
Gayer também já foi investigado por mostrar trecho manipulado de um programa de tevê que mostrou enquete falsa sobre a preferência dos brasileiros por Lula ou Bolsonaro. E, em 2021, publicou um vídeo em que Bolsonaro supostamente apresentaria provas de fraude nas urnas eletrônicas.
Anos atrás, em 2015, Gayer foi preso por bater sozinho seu Toyota Corolla em uma avenida em Goiânia. Ele fugiu dos policiais em uma perseguição, mas foi parado e, no teste de bafômetro, ficou constatado que estava dirigindo bêbado. Ele foi preso em flagrante por direção embriagado, mas liberado após pagamento de fiança.
Da Redação