A prisão arbitrária da primeira mulher de país árabe candidata à presidente, a argelina, advogada de origem humilde, sobrevivente da guerra civil, Luisa Hanune, foi o tema da entrevista coletiva realizada na manhã desta, quinta- feira 03/10, na Assembleia Legislativa de São Paulo. Detida em maio deste ano e condenada a 15 anos, ela foi acusada de complô contra autoridade do Estado e o Exército da Argélia, em razão de sua atuação na luta por eleições livres e pela democracia em seu país.
O ato de contestação da prisão política de Hanune reuniu cerca de 50 pessoas, integrantes do PCdoB, movimentos da juventude, mulheres, negros e islâmicos, recebidos pelo líder da Bancada do PT, deputado Teonilio Barba Lula, que ressaltou as conexões entre o governo arbitrário da Argélia e os governos de Bolsonaro e João Doria, ambos representantes da extrema-direita que se instalou no país.
O líder petista elencou ações de desmonte do Estado e medidas de privatização, terceirização, junção e extinção de cerca de 200 equipamentos públicos estaduais de São Paulo feitas pelo governador João Doria, em consonância com a gestão Bolsonaro e sua sanha de esvaziar as políticas públicas e privilegiar os interesses empresariais.
A trajetória de Luisa Hanune
A trajetória política de Luisa Hanune foi contada por Markus Sokol, integrante da executiva nacional do PT e do Comitê Nacional do Diálogo e Ação Petista. Ele ressaltou o papel de resistência da ex-deputada do PT argelino na luta pela democracia e instalação da Assembleia Nacional Constituinte e seu combate de 40 anos contra o sistema de governo ditatorial.
Eleita por cinco mandatos consecutivos, Luisa ocupou cadeira na Assembleia Nacional da Argélia desde 1997 e foi candidata à presidência pelo Partido dos Trabalhadores em três oportunidades: 2004, 2009 e 2014. Foi vítima de uma cilada política-jurídica ao comparecer a uma reunião requerida na residência oficial da presidência.
Sokol contou que a participação de Luisa Hanune na reunião foi o pretexto usado para prendê-la e afastá-la das ruas e das manifestações populares contra o regime, que reivindicam eleições diretas para a presidência, programada inicialmente para dezembro deste ano.
O perfil internacionalista de Hanune, que é cofundadora do Acordo Internacional dos Trabalhadores e dos Povos, e sua solidariedade e ações na denúncia a prisão arbitrária do ex-presidente Lula também foram destacados na descrição da atuação da líder política, que tem recebido apoio de dirigentes políticos, militantes e autoridades de 92 países por sua libertação.
Campanha no Brasil
Além da coletiva em São Paulo, a campanha no Brasil pela libertação de Luisa Hanune teve atividades em Pernambuco e um ato na embaixada argelina em Brasília, organizado pelo PT da Câmara Federal, que levou abaixo assinado pela liberdade da dirigente política, informou Sokol.
A escalada autoritária na Argélia e no Brasil foi mencionada por Débora Pereira, secretária estadual de Mulheres do PT/SP. “O uso do artifício da autoridade jurídica para dar uma roupagem legal à prisão política de Luisa Hanune e do ex-presidente Lula é um elo comum da situação dessas duas lideranças políticas”, ressaltou Débora.
A dirigente informou também que os 26 coletivos de mulheres do Partido dos Trabalhadores já adotaram a campanha em defesa da liberdade de Luisa, que tem como ação central o reconhecimento e apoio à luta da líder argelina.
Omissão da imprensa
Já João Batista Gomes, secretário de mobilização da CUT, comentou a omissão da imprensa brasileira em relação à crise política da Argélia. O dirigente cutista informou que a prisão de Luisa será pauta do 13º Congresso da Central Única dos Trabalhadores, que receberá delegações internacionais de dirigentes sindicais de mais de 100 países.
Outro sindicalista que marcou presença na atividade, Ribamar Passos, dirigente da Intersindical, destacou a necessidade da unidade das forças democráticas e caracterizou a prisão de Luisa Hanune como um ataque aos direitos dos povos, numa ação orquestrada pelo capitalismo internacional.
O ex- deputado Adriano Diogo e atual secretário nacional de Direitos Humanos do PT foi uma das vozes presentes na coletiva que deu ênfase aos elos internacionais dos governos ditatoriais e as relações entre agentes militares argelinos e o general João Batista Figueiredo, quando chefe da SNI – Serviço Nacional de Informações, na Escola das Américas – que disciplinou a tortura e a repressão no período da ditadura militar.
A luta pela liberdade e a democracia dos povos da Líbia, Tunísia, Egito, assim como da Argélia, recebeu ênfase nas manifestações de Mohamad El Kadri, presidente da Associação Islâmica de São Paulo. Mohamad cobrou reação nas ruas contra a ditadura institucional que se instalou no Brasil. “Deram golpe na Dilma e prenderam o Lula. O governo Bolsonaro está acabando com a aposentadoria e com os direitos do povo e estamos com reações tímidas”, provocou.
Manifestações de apoio à campanha pela libertação de Luisa Hanune também foram feitas por Erick Bouzan, da Juventude do PT, e Donizete Freitas, assessor da deputada estadual Leci Brandão, do PCdoB.
O jornalista e vice-presidente da Fenaj – Federação Nacional dos Jornalistas, Paulo Zocchi, disse que a entrevista coletiva faz parte de uma ação conjunta de diversos movimentos sociais, sindicais e políticos contra a perseguição e prisão política da ex- deputada argelina Luisa Hanune.
Por Ascom PT Alesp