O Dia da Consciência Negra, celebrado no dia 20 de novembro, foi um dos principais temas dos discursos no plenário do Congresso hoje. Não faltaram também nas intervenções, críticas e protestos contra a atitude racista do deputado Coronel Tadeu (PSL-SP), que vandalizou na última terça-feira (19), uma exposição da Câmara alusiva à data. “Hoje o Brasil, no Dia da Consciência Negra, ainda está estarrecido e chocado não com o mau exemplo, mas com o crime cometido por esse deputado”, afirmou o deputado Alexandre Padilha (PT-SP).
O deputado Valmir Assunção (PT-BA) levou para a tribuna uma réplica do cartaz que foi rasgado pelo Coronel Tadeu. “Esse parlamentar, que é do grupo do presidente Bolsonaro, quando foi rasgar a nossa exposição e veio sentar aqui à mesa desta Casa para ficar debochando da população negra, estava envergonhando a maioria da polícia deste País, porque eu tenho certeza de que a maioria dos policiais não concorda com a violência que esse deputado fez contra a população negra”, afirmou.
Valmir Assunção repetiu que vai exigir do presidente Rodrigo Maia e do Conselho de Ética uma punição severa contra o deputado Coronel Tadeu. “Uma punição exemplar, para que nunca mais nenhum deputado possa se comportar desse jeito. A divergência é normal na democracia, e nós temos que ter a capacidade de conviver com a divergência. O cartaz que estava lá é este aqui. É este o cartaz que o deputado foi lá rasgar. Onde está o crime de ter este cartaz aqui? E o deputado, com toda a raiva, foi lá e o rasgou. Eu quero ver se hoje ele vai ter coragem de rasgar”, desafiou.
O deputado José Ricardo (PT-AM) disse que o que foi retratado numa imagem nos corredores da Câmara dos Deputados e que incomodou, inclusive, o Coronel Tadeu, é um pequeno retrato de uma realidade que atinge a população negra, os jovens assassinados, muitas vezes, até pelo Poder Público. “Isso tem de ser denunciado”, afirmou o deputado, ao destacar que o Brasil viveu mais de 350 anos de escravidão negra. “Isso trouxe consequências para a população, para o povo negro, até os dias atuais. A gente percebe isso nos indicadores sociais, nos espaços de oportunidades, nos espaços públicos, no desemprego, na violência, que atinge mais as pessoas negras, os jovens negros”, completou.
José Ricardo relembrou os governos Lula e Dilma, que avançaram em políticas afirmativas. “Tivemos avanços sim, lutas que se transformaram em políticas públicas afirmativas de inclusão social, entre elas, destaco a lei das cotas”, citou o deputado. “Nós temos que insistir nesses direitos, nos direitos de todas as pessoas, mas, em particular, do povo negro, que continua sofrendo”, concluiu.
Na avaliação do deputado Frei Anastácio (PT-PB), a história do povo negro está longe de ser reparada integralmente. “A população negra ainda tem convivido diariamente com o racismo institucional, tem convivido com a perseguição de sua população por parte da polícia e de determinadas figuras, tem enfrentado o encarceramento em massa e a falta de oportunidade. A vocês, minha solidariedade!”.
Zumbi dos Palmares
O deputado Jorge Solla (PT-BA) enfatizou que o dia era de luta contra o racismo. “Dia de resgatar a história de lideranças tão importantes para o nosso País, com foram Zumbi dos Palmares e outros mais que marcaram a sua presença na luta pela liberdade do povo negro, na luta pela garantia de direitos”.
O deputado do PT baiano enfatizou que mais do que nunca, a data tem que ser marcada, por outro lado, pela destruição de direitos que nós estamos vivendo em nosso País. “Pela forma opressora, a forma de pregação de ódio que a gente tem visto voltar a ser demonstrada, como aconteceu ontem nesta Casa. Nós não podemos permitir, que o que aconteceu ontem nesse corredor passe em branco. Ali não pode ser levado como algo de um parlamentar destrambelhado, um arroubo. Não, aquilo ali é parte de toda a estratégia que tem sido gestada nos últimos anos em nosso País, de atacar os negros, atacar as minorias, atacar os direitos de todos aqueles que, por muitas décadas, tiveram que lutar para conquistar esses direitos”, denunciou.
Boa notícia
A deputada Margarida Salomão (PT-MG), ao comemorar a data, anunciou uma boa notícia: “Dezoito anos passados da Conferência de Durban, na África do Sul, nós hoje, pela primeira vez na história do Brasil, temos mais da metade dos alunos universitários, estudantes negros e negras, 52% dos estudantes brasileiros”. Ela frisou que, embora seja uma boa notícia, o percentual ainda está aquém da participação demográfica da população negra na população brasileira que, segundo o IBGE, é de 56%.
Lamentavelmente, segundo Margarida Salomão, em contraponto a essa boa notícia, o IBGE, hoje, noticia que o desemprego, que está muito elevado, aumenta mais entre os negros, no terceiro trimestre de 2019. “São hoje desempregados cerca de 1,6 milhão de pessoas negras e negros”. Ela citou ainda que a pesquisa mostra que a desigualdade também está presente nos salários: para cada R$1 mil que ganha um homem branco, uma mulher branca ganha R$ 758; um homem negro ganha R$ 561, e uma mulher negra, R$ 444. “Isso é o que se chama de racismo estrutural. Essa é uma forte característica da sociedade brasileira”, criticou.
Ao se manifestar sobre o Dia da Consciência Negra, o deputado João Daniel (PT-SE) homenageou os homens e as mulheres que se dedicaram a essa causa no Brasil, na defesa de uma sociedade justa, igualitária, fraterna e sem preconceitos. “Nós queremos deixar o nosso registro a todos aqueles que lutaram e que deram sua vida, a exemplo de Zumbi dos Palmares, que hoje é um grande herói nacional brasileiro estudado no Brasil e no mundo como uma das primeiras comunidades no planeta organizada com um modelo de sociedade livre, fraterna, que foi a Serra da Barriga, em Alagoas, e que orgulha todos os brasileiros e brasileiras que lutam”.
Os deputados Joseildo Ramos (PT-BA), Marcon (PT-RS) e Célio Moura (PT-TO) também celebraram, em plenário, o Dia da Consciência Negra e protestaram contra o ato de “vandalismo racista” do deputado Coronel Tadeu. “Um ato que nos envergonhou a todos no País inteiro… E não podemos deixar isso em branco. O ato teve uma razão: intimidar e vedar o debate sobre violência policial, racismo, intolerância. Ele se constituiu em mais um ataque à democracia que irrompeu desta Casa”, frisou Joseildo Ramos.
“Ao mesmo tempo que parabenizo todos os negros e negras que lutam pela liberdade e pelo fim da discriminação, também quero manifestar nosso repúdio ao deputado Coronel Tadeu, que ontem rasgou um quadro de uma exposição da Câmara, numa atitude contra os negros”, protestou Marcon.
E o deputado Célio Moura considerou um absurdo e abusivo o gesto do deputado do PSL. “Portanto, hoje, o Dia da Consciência Negra, aqui na Câmara dos Deputados, é um dia de tristeza e de revolta. Não aceitamos mais o racismo”, conclui.
Por PT na Câmara