Jair Bolsonaro (PSL) adora alardear que a ‘mamata acabou’. O que ele esquece de avisar os brasileiros é que ela, na verdade, mudou apenas de endereço e foi da Câmara dos Deputados, onde ficou 28 anos como deputado federal, para a Presidência da República. Isso porque a Revista Época mostrou, nesta sexta-feira (9), que em quase três décadas Jair e seus três filhos ‘distribuíram’ R$ 65,2 milhões dos cofres públicos para famílias que assessoram o Clã Bolsonaro desde 1991, quando o pai tomou posse para o primeiro dos seus sete mandatos no Legislativo federal. A família de Bolsonaro, inclusive, foi a que recebeu o maior valor: R$ 21,1 milhões.
O levantamento feito pelo jornal O Globo e pela revista apontam que das 286 pessoas nomeadas para os gabinetes, 102 delas têm algum parentesco ou alguma relação entre si e integram 32 famílias diferentes. Entre elas, 22 parentes das duas primeiras esposas de Jair Bolsonaro que tiveram cargos comissionados em seu mandato ou no dos filhos: Flávio, Eduardo e Carlos. Ainda de acordo com as publicações, de cada R$ 10 pagos em salários aos funcionários, R$ 2 entravam nas contas de algum parente da família Bolsonaro.
A rede da mamata de Jair teve início em 1991, quando ele tomou posse na Câmara de Deputados. De lá para cá, ele colocou os três filhos mais velhos na mesma prática, dando início ao seu engenho de nepotismo. Primeiro foi Carlos, eleito vereador em 2001, depois Flávio, que entrou na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) em 2003 – onde montou o laranjal com Fabrício Queiroz – e hoje ocupa o cargo de senador, e, por último Eduardo, eleito deputado federal por São Paulo, desde 2015. Desde então, o quarteto compartilha pautas e funcionários.
Nepotismo e laranjal como prática
Já em fevereiro de 91, Jair Bolsonaro nomeou seu primeiro sogro, João Garcia Braga, ou Seu Jó, o pai de Rogéria Nantes Braga, mãe de seus três filhos mais velhos. O parente constou como seu assessor até novembro daquele ano. O sogro também foi nomeado, posteriormente, na Alerj por Flávio Bolsonaro, seu neto, em 2003. Lá ele constou como servidor até 2007. Segundo a Época, Braga, que é químico aposentado, nunca teve crachá de identificação funcional da assembleia e mora com a esposa em uma casa no bairro Vila Julieta, em Resende, desde os anos 80.
A revista encontrou o ex-sogro de Bolsonaro quando ele deixava a casa, mas, logo após a reportagem se identificar, ele arrancou com o carro. Vizinhos disseram para a Época que ele gosta de viajar e pescar, mas nunca ouviram falar que trabalhasse na Alerj. Em valores corrigidos, Braga teve salários brutos que somam R$ 483 mil.
Após Jair se separar de Rogéria Braga e passar a viver com Ana Cristina Siqueira Valle, em 1998, os pais dela, José Procópio Valle e Henriqueta Siqueira Valle, também se tornaram assessores na Câmara, segundo a publicação. Além dos dois sogros, outros integrantes da família Siqueira Valle ocuparam cargos nos gabinetes de Jair, Carlos e Flávio. Novamente, de acordo com a Época, vizinhos e conhecidos dizem não saber de qualquer atuação deles como assessores parlamentares.
‘Milionária’, ex-assessora vive em quitinete no ES
Entre os casos revelados pela reportagem, o de Andrea Siqueira Valle é o mais curioso. Ela é irmã de Ana Cristina e como fisiculturista mantinha uma rotina de malhação de duas a três vezes por dia na academia Physical Form. De acordo com a Época, ela atuava, nos intervalos, como faxineira em residências e vivia em uma casa construída no fundo do terreno onde moram seus pais. Ao todo, ela somou 20 anos de cargos comissionados nos gabinetes de Jair, Flávio e Carlos, e recebeu o montante de R$ 2,1 milhões ao longo desse período.
A reportagem da revista a procurou em sua quitinete em Guarapari, no Espírito Santo. Segundo a publicação, ela disse, em junho, que não tinha nada a declarar, mas seguia trabalhando como faxineira e com grandes dificuldades financeiras. Renata Mendes, proprietária da nova academia que Andrea frequentava no ES, disse que “ela também me ajudou com faxina na academia. Ela faz esse tipo de serviço aqui na academia”.
MP pede investigação de nepotismo na Presidência
O Ministério Público de Contas pediu que o Tribunal de Contas da União (TCU) investigue a ocorrência de nepotismo na Presidência da República, nesta sexta (9). A solicitação do MP ocorre após as divulgação das reportagens do O Globo e Revista Época. No pedido, que incluiu a Câmara dos Deputados e o Senado Federal, o MPC quer verificar se as três instituições possuem procedimentos administrativos para evitar a prática de nepotismo e de “funcionários fantasmas”, em especial nos gabinetes das autoridades e dos parlamentares, segundo publicação do Valor
Segundo o subprocurador-geral Lucas Rocha Furtado, que assina a petição, “chama atenção o elevado número de pessoas, após cruzamento de informações realizado, que possuíram vínculo de parentesco com a família”, escreveu. Segundo ele, os dados divulgados “evidenciam a necessidade de a administração aprimorar os mecanismos de controle com relação à existência de despesas efetuadas a funcionários que, de fato, não trabalham nos cargos a que foram indicados”.
Da Redação da Agência PT de Notícias, com informações da Revista Época, O Globo e Valor