Um estudo da Oxfam, confederação internacional de 21 organizações nacionais com agenda socioambiental, aponta que a desigualdade mata uma pessoa a cada 4 segundos no mundo. Diariamente, pelo menos 21.300 pessoas morrem por falta de acesso à saúde pública, violência de gênero, fome e crise climática.
O relatório “Desigualdade Mata” relaciona dados do FMI, do Banco Mundial, do Credit Suisse e do próprio Fórum Econômico Mundial. No documento, a pandemia aparece como o evento mais mortal, prolongado e prejudicial diante da desigualdade.
“A pandemia se tornou efetivamente mais mortal, mais prolongada e mais prejudicial aos meios de subsistência por conta da desigualdade. A desigualdade de renda é um indicador mais assertivo para saber se você morrerá de covid-19 do que a idade”, diz trecho do relatório.
Fome mata 2,1 milhões por ano
Entre as razões vinculadas à desigualdade, a fome mata mais de 2,1 milhões de pessoas ao ano. No Brasil, pelo menos 19 milhões de pessoas passam fome ou estão em situação de vulnerabilidade alimentar.
A falta de acesso à saúde nos países mais pobres também é outro fator que tira a vida de 5,6 milhões todos os anos. O estudo aponta que a desigualdade extrema é uma forma de ‘violência econômica’ pela qual políticas estruturais e sistêmicas e escolhas políticas que são enviesadas em favor dos mais ricos e poderosos resultam em danos diretos à grande maioria das pessoas comuns no mundo todo.
No relatório, consta que um novo bilionário surgiu a cada 26 horas durante a pandemia. No mesmo período, os dez homens mais ricos do mundo dobraram suas fortunas, sendo que renda de 99% da humanidade caiu. Hoje, mais de 160 milhões foram empurrados para a pobreza.
O advogado Jefferson Nascimento, coordenador de justiça social e econômica da Oxfam Brasil, ressalta que a desigualdade, além de ser um fato moral e socialmente condenável, causa um enorme custo humano.
“Muitos não morreriam de Covid se tivessem acesso às vacinas”, diz.
Apartheid vacinal
O relatório cita o “apartheid vacinal” de 2021, quando populações de países mais pobres ficaram sem vacinas. Conforme o estudo, a pandemia atingiu grupos raciais de forma desigual dentro dos países.
Na Inglaterra, durante a segundo onda da Covid-19, pessoas de Bangladesh tinham cinco vezes mais chance de morrer de Covid-19 do que os brancos britânicos. No Brasil, segundo a OCDE, a população negra tem 1,5 vez mais chance de morrer de Covid do que a branca.
No Brasil, em dezembro de 2020, 55% da população brasileira se encontrava em situação de insegurança alimentar (116,8 milhões, ou a soma das populações da Alemanha e do Canadá) e 9% estavam em situação de fome. Mulheres e negros são os que mais sofrem.
A emissão de gases de efeitos estufa (GEE) também estão entre os fatores que tiram a vida de muitas pessoas. Estima-se que 20 dos bilionários mais ricos emitam, em média, até 8 mil vezes mais carbono do que o bilhão de pessoas mais pobres.
Da Redação, com informações do Valor Econômico