Ana Clara, Elas Por Elas
As mulheres são mais afetadas pelos problemas gerados pelas mudanças climáticas e são mais conscientes da emergência ambiental que o mundo enfrenta. Essa é uma constatação da ONU a partir de estudo da universidade de Yale. Elas também estão dispostas até a aumentar os impostos para garantir maior proteção ambiental, segundo o Instituto de Pesquisa de Políticas de Mulheres de Washington (IWPR).
O comportamento sustentável das mulheres passa pelo modo como elas estão organizadas na sociedade. Elas são pescadoras, agricultoras, produtoras de artesanato e estão inseridas em diversas formas de produção em escala local relacionadas ao meio ambiente, garantindo o sustento das suas famílias e de suas comunidades, e configurando uma dinâmica de produção e participação na cadeia produtiva.
“Não se pode falar em salvar o meio-ambiente, sem falar em transformação das relações sociais. A sociedade patriarcal sustenta o modo capitalista de viver — que parte da exploração gananciosa dos recursos naturais do planeta. Quando se fala em igualdade de gênero de fato, se combate esse modo de vida pela raiz, pois passa substancialmente pelo modo de reprodução da vida humana”, explica Anne Moura, secretária nacional de mulheres do PT.
Apesar do protagonismo das mulheres no manejo dos recursos naturais e da sobrevivência das comunidades, principalmente quando se trata de ações locais e regionais, a estrutura machista e patriarcal não permite que ela ocupe espaços de decisão, no que diz respeito à condução das políticas ambientais e climáticas.
Em todos os maiores comitês de tomadas de decisão das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, as mulheres representam uma minoria, somam apenas 20% dos autores dos reports do International Panel on Climate Change, e menos de 30% da maioria dos principais órgãos de negociação das mudanças climáticas nacionais e globais.
No Brasil, essa realidade não é diferente. Não bastasse a falta de participação feminina nas decisões sobre a condução das políticas de meio-ambiente, o governo Bolsonaro é declaradamente inimigo do meio-ambiente.
A flexibilização das leis ambientais, a permissividade de destruição da Amazônia, do Pantanal e diversos ecossistemas para garantir lucros do setor agropecuário, a proposta de “regularização” fundiária que legaliza a ação de grileiros, os ataques aos modos de vida indígenas, ribeirinhas e comunidades integradas à vida na natureza — são medidas do governo Bolsonaro que impactam sobretudo a vida das mulheres e suas famílias. Isso porque, além delas estarem na base dessa simbiose entre economia e natureza, as mulheres compõem 72% do total de pessoas que estão em condições de extrema pobreza e, portanto mais vulneráveis a eventos climáticos extremos como secas, inundações e furacões (dados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas).
“Não por acaso são as mulheres que produzem menos lixo, reciclam mais, comem menos carne, consomem menos carbono. Não passa apenas por uma escolha de ‘estilo de vida’, mas da relação profunda e interdependente das mulheres com a natureza e sua localização na hierarquia das relações sociais. Um mundo sem patriarcado é automaticamente um mundo mais sustentável“, reforça Anne Moura.
As saídas para salvar o meio-ambiente passam fundamentalmente por uma economia feminista que abarca diversas medidas na questão da soberania alimentar, energética e controle público dos recursos naturais de ar, água e solo, tais como:
Agricultura familiar
Soberania alimentar
Gestão coletiva da biodiversidade
Soberania energética
Mudança da matriz energética com transição justa
Desprivatização e desmercantilização do sistema energético
Reorganização dos modos de produção
Transformação das relações sociais
Justiça climática e igualdade de gênero
“Precisamos exigir dos governos a implementação de estratégias que coloquem a mulher no centro do desenvolvimento sustentável, contemplando seu papel fundamental na dimensão social e política da pauta ambiental. Sem isso, não há avanço concreto e duradouro”, finaliza Anne Moura.