Em entrevista concedida à Rede BBC, a presidente deposta pelo golpe, Dilma Rousseff, afirmou que o golpe ainda não terminou.
“Não é um golpe de Estado só. É um processo. Não pense que o golpe começou na data do meu afastamento. Começou antes, quando meus adversários não conseguiram impor seu projeto pela via democrática”, afirmou. “Está ficando cada vez mais claro que a democracia não é um caminho viável para os golpistas”, acrescentou.
“O primeiro capítulo do golpe foi o meu impeachment. Mas o segundo capítulo é barrar o presidente Lula de ser candidato nas eleições do próximo ano. Se você observar qualquer pesquisa no Brasil, é um fato que ele está na liderança”, declarou.
Questionada se o PT é um partido melhor do que os outros, uma vez que Michel Temer enfrenta investigações, da mesma forma que o ex-presidente Lula, que chegou a ser condenado, Dilma destacou a diferença entre os casos: “Do que eles acusam o Lula? Do que eles acusam Michel Temer? A diferença é: contra Temer há provas em vídeos e áudios. Lula é acusado de ter recebido um apartamento que ele nunca usou e que não está em seu nome”.
Levada a comentar se o Brasil não precisa de “novo sangue” para resolver sua crise política, Dilma não concordou. “Como saber se o Brasil precisa de um novo líder e uma nova mudança? E desde quando o novo é necessariamente algo bom?”, questionou a petista.
“Novo poderia ser Hitler”, continuou. “Não há garantia. Por que as pessoas consideram Lula? Porque elas viveram melhor durante seu governo”.
Dilma também analisou a crise na Venezuela. Para ela, o presidente Nicolás Maduro “governa a Venezuela em circunstâncias extremas”. “O que precisamos é de uma saída para isso que não seja sangrenta”.
“Eu acho que Hugo Chávez foi um grande líder e teve a sorte de estar no poder durante a era dos altos preços do petróleo”, opinou. “Quando o preço do petróleo começou a cair, não foi apenas a Venezuela que sentiu isso. E a situação começou a se tornar difícil”, completou.
Ela chama de “irresponsável” a visão do Ocidente e de absurda a pressão da imprensa internacional sobre o assunto. “Eles vão criar o que fizeram no Iraque e no Afeganistão aqui na América Latina – um conflito armado”, diz. “Não ajuda continuar argumentando porque a oposição também não é perfeita”.