A ex-presidenta Dilma Rousseff comentou, em nota distribuída à imprensa, as revelações de Michel Temer no livro “A Escolha”, em que confessa ter conspirado pelo impeachment antes mesmo da abertura do processo de impeachment. “É o novo ato de ‘sincericídio’ de um homem que será sempre atormentado pela história como um golpista que traiu o governo ao qual pertencia e, agora, segundo a imprensa, confessa que conspirou para derrubar a democracia”, criticou.
Dilma classifica como estarrecedoras as inconfidências lançadas pelo seu companheiro de chapa nas eleições de 2010 e 2014 sobre a participação de generais – brindados depois com cargos no governo – no esquema de sustentação do governo, iniciado antes mesmo de o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-PB), ter aceitado o pedido de impeachment, protocolado pela oposição capitaneada pelo PSDB.
Dilma lembra que, consumado o Golpe, na forma de um impeachment sem crime de responsabilidade, os militares ganharam espaço no próprio governo. “Temer se reuniu seguidas vezes enquanto se tramava a derrubada do governo”, pondera. “(Eles) ficaram ao lado do novo presidente – um deles mantendo o comando do Exército, o outro sendo nomeado chefe do Gabinete de Segurança Institucional”.
Os militares deram, no mínimo, sinal verde para o Golpe e, para evitar manifestações, monitoravam o MST”
Empregos e cargos
“As inconfidências de Temer sobre a realização de várias reuniões fechadas com o comandante do Exército e outro general são novos fragmentos de informação que, reunidos às revelações involuntárias de Romero Jucá, exatamente na mesma época, compõem um quadro indicando que o golpe que me destituiu da Presidência em 2016 não foi apenas parlamentar, midiático e judicial, mas também de natureza militar”, aponta Dilma.
“Descobre-se que Temer não apenas se beneficiou de um Golpe de Estado como participou diretamente da criação de um esquema militar para dar sustentação à ruptura da normalidade democrática”, diz Dilma Rousseff na nota, publicada em seu site. Temer foi o primeiro presidente desde a criação do Ministério da Defesa, em 1999, no governo FHC, a nomear um general e não um civil para o cargo. Ele manteve o General Eduardo Villas Bôas no comando do Exército e nomeou o General Sérgio Etchegoyen como ministro do Gabinete de Segurança Institucional.
Atualmente, Villas Boas atua como assessor especial do General Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional – a velha Casa Militar do presidente Jair Bolsonaro. O militar não apenas manifestou apoio a Temer, ao seu governo e à agenda neoliberal e entreguista, como ainda se mantém como fiel escudeiro do bolsonarismo. Os militares não têm sequer qualquer resquício de um espírito nacionalista, como em tempos passados.
“Ganha veracidade aquilo que Romero Jucá afirmou em conversa gravada e vazada legalmente na época em que o então vice-presidente buscava apoio nos quartéis: os militares deram, no mínimo, sinal verde para o Golpe e, para evitar manifestações, monitoravam o MST”, observa. “As confissões de Temer e Jucá se completam e se confirmam”, ressalta. O então senador pelo PMDB de Roraima foi flagrado em conversa grampeada por Sérgio Machado, afirmando ter conversado com militares e com membros do Supremo Tribunal Federal para a destituição de Dilma. “Um grande acordo nacional, com Supremo e com tudo”, disse.
Da Redação