A presidenta Dilma Rousseff recebeu, nesta quarta-feira (10), o relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV). Segundo Dilma, o trabalho do grupo vai ajudar a afastar “fantasmas de um passado doloroso” e permitir aos brasileiros conhecer a história das violações aos direitos humanos durante a ditadura militar (1964-1985), para que elas jamais se repitam.
“Nós, que acreditamos na verdade, esperamos que esse relatório contribua para que fantasmas de um passado doloroso e triste não possam mais se proteger nas sombras do silêncio e da omissão”, discurso a presidenta.
Muito emocionada, Dilma chorou ao dizer que o Brasil merecia a verdade sobre a ditadura militar. “Sobretudo merecem a verdade aqueles que perderam familiares e parentes e que continuam sofrendo como se eles morressem de novo e sempre a cada dia”, disse, com a voz embargada, após interromper o discurso por causa do choro.
O relatório final da CNV faz um relato das atividades desenvolvidas durante os dois anos e sete meses de investigações, além de fatos apurados, conclusões e recomendações. De acordo com o coordenador do colegiado, Pedro Dallari, uma das conclusões mais importantes do relatório final é a confirmação da prática de graves violações aos direitos humanos, durante o período da ditadura militar, feitas maneira sistemática.
Dilma agradeceu aos órgãos que colaboraram com as investigações da comissão. O mesmo fez em relação “aoshomens e mulheres livres que relataram a verdade”, principalmente parentes de vítimas e sobreviventes do regime militar.
“Presto homenagem e manifesto caloroso agradecimento aos familiares dos mortos e desaparecidos, aqueles que com determinação, coragem, generosidade, aceitaram contar suas histórias e histórias de parentes, amigos, companheiros que viveram tempos de dor, morte e sofrimento”, falou Dilma.
A presidenta ressaltou o trabalho histórico da comissão e a importância das investigações do grupo para o reconhecimento do direito à memória – principalmente para as gerações nascidas depois da ditadura – e para a reconciliação nacional. Segundo ela, é preciso valorizar os pactos e acordos que levaram o país à redemocratização, em 1985.
“Com a criação desta comissão, o Brasil demonstrou a importância do conhecimento desse período para não mais deixá-lo se repetir”, afirmou a presidenta. “Conhecer a história é condição imprescindível para construí-la melhor. Conhecer a verdade não significa reagir, não deve ser motivo para ódio. A verdade liberta daquilo que permaneceu oculto”.
Ao receber o documento de 4,4 mil páginas, também disponível na internet, Dilma disse que a apresentação simultânea para o governo e para a sociedade mostra a isenção do trabalho da CNV. Para ela, o documento é resultado de uma decisão do Estado brasileiro, e não apenas de uma iniciativa do governo.
Dilma Rousseff foi presa durante a ditadura militar e passou quase três anos na cadeia, entre 1970 e 1972. Durante esse período, passou pelos algozes da Operação Bandeirante (Oban), quando foi torturada. A Oban foi uma ação coordenada de repressão, lançada em 1969, da qual participaram militares e empresários de São Paulo.
Criada pela Lei 12.528/2011 e instalada em maio de 2012, a CNV teve o objetivo de examinar e esclarecer violações de direitos humanos cometidas entre 1946 e 1988, mas o alvo principal foi mesmo o período da ditadura militar iniciada pelo golpe de 1964. A comissão vai funcionar até o dia 16. No relatório final, o grupo sugere a criação de um órgão público para dar seguimento e continuidade às conclusões do trabalho.
Da Redação da Agência PT de Notícias, com informações da Agência Brasil