Pressionada por denúncias do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Estado do Rio de Janeiro (Sepe-RJ), a Secretaria Municipal de Educação (SME) do Rio exonerou a direção da escola municipal Cívico-Militar General Abreu. A escola fica situada no bairro do Rocha, tradicional bairro da Zona Norte considerado reduto de militares.
“A Secretaria Municipal de Educação do Rio exonerou a equipe gestora da Escola Cívico-Militar, unidade escolar localizada no bairro do Rocha, por desrespeito ao protocolo sanitário e por conduta incompatível com o ambiente escolar”, informou a SME.
“Muitos querem, mas não podem / Nós queremos e podemos / Nós somos nós e o resto é o resto / Brasil acima de tudo, abaixo de Deus”
O Sepe-RJ recebeu imagens e vídeos de uma cerimônia de hasteamento de bandeiras realizada nesta terça-feira (25). Nela, os alunos, perfilados no pátio, são obrigados a repetir frases ditas por um adulto: “Muitos querem, mas não podem / Nós queremos e podemos / Nós somos nós e o resto é o resto / Brasil acima de tudo, abaixo de Deus“.
Imediatamente, a entidade encaminhou denúncias ao Ministério Público do Estado do Rio (MP-RJ), à Comissão de Educação da Câmara de Vereadores e à SME. A secretaria recebeu fotos e vídeos que mostram alunos da General Abreu em pé em um pátio, durante a formatura, sem o devido distanciamento social.
“O Sepe alerta para a tentativa de criação de uma rede de ensino à parte da rede municipal de educação, com unidades militarizadas que submetem seus alunos à doutrinação, retirando deles a individualidade e a capacidade de autodesenvolvimento”, afirmou em nota a entidade. “O sindicato entende que este modelo de escola, além de não atender a diversidade, não contribui para a formação de cidadãos com capacidade crítica.”
Na avaliação do sindicato, o discurso também cria uma noção de diferenciação ou privilégio entre alunos da escola militar e os demais (quando é dito o slogan “Nós somos nós. E o resto é o resto!”). O Sepe-RJ estuda as medidas jurídicas cabíveis para o caso.
“Não podemos admitir que o prefeito Eduardo Paes e o secretário Renan Ferreirinha transformem nossas escolas em unidades militarizadas, com objetivo de doutrinação dos estudantes e de disseminação de discursos extremistas utilizados pelo governo federal”, afirmaram os sindicalistas em outra nota.
“Não é suficiente exonerar a equipe, nós queremos o CANCELAMENTO do convênio das escolas cívico-militares do Governo Federal”, prosseguiram as lideranças. “Esse tipo de discurso é completamente inaceitável, e a segurança que eles têm de fazê-lo em plena luz do dia, numa aglomeração de pais e alunos, é um sinal ainda mais preocupante que nos mostra que eles estão à vontade para fazer o que quiserem.”
A escola foi inaugurada em 14 de agosto de 2020 e recebe 560 alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental, em turno único de oito horas, das 7h30 às 15h30. A unidade integra o Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares, criado por decreto do desgoverno Bolsonaro em 2019.
Da Redação